29/04/2016

A crise dos blogs






  Eu tenho encontrado dificuldades para administrar meus blogs, não em razão deles mesmos, em si são fáceis de lidar, mas por questões externas e alheias à minha vontade. Além do Palavra de Nanael, ainda lido com o Talicoisa, que tenho conseguido manter minimamente vivo, com o À Bateria, o Vintage Way of Life e o Demônios Internos, além de colaborar esporadicamente com Alcatéia e Revista Wicca.


  Não faz muito tempo, eu dava conta de todos com os pés nas costas. Aos poucos as dificuldades cotidianas me cobraram mais atenção e precisei tirar um pé das costas, depois os dois estavam no chão, então os braços também perderam a folga e a coisa desandou. As postagens ficaram cada vez mais raras e cheguei ao sacrilégio, justo no Demônios Internos, de ficar mais de um ano sem acrescentar uma linha sequer.


  Não vou procurar culpados, até porque se houvesse eles não mexeriam um dedo para consertar o estrago feito. Vida de adulto poderia resumir o que tem acontecido, mas se isto for vida, meu Deus, o que será o inferno? Uma das causas, esta é uma palavra mais digna, é o cansaço. Eu não escrevo o que gostaria, escrevo o que se fizer necessário, e puxões de orelha foram muito necessários, vocês vão encontrar broncas em textos bem recentes. O que me cansou não foi tanto o desgaste pelas reprimendas, foi o efeito quase nulo que elas surtiram.


  Alguns dos que leram se deram conta do que acontecia, e ainda acontece, se mancaram e moderaram seus comportamentos, mas a maioria absoluta simplesmente ficou de mal e nunca mais deu as caras por cá. A queda de quase noventa por cento das visitas é prova disso.


  Entretanto, há um fator que tem vitimado praticamente todos os blogs, fruto da obsolescência natural de todo sistema que não para no tempo; as redes sociais. Eu hesitei em me inscrever em uma, mas está se mostrando uma ferramenta valiosa para disseminar minhas idéias com acento e, ao contrário do que tem feito nos outros blogs, tem ajudado a manter os meus com uma visitação mínima.


  Acontece que me tornei blogueiro em Agosto de 2006, quando abri este que vocês agora lêem com circunflexo, antes de analphabetos funcionais com títulos ilegítimos de doutores esculacharem com a ortografia, aproximando-a mais de sua completa ignorância e sua preguiça ortográfica. Na época, os blogs estavam no auge, pareciam ser a ferramenta midiática do futuro, pelo poder de democratizar a custos irrisórios a livre manifestação de pensamento; para o bem e para o mal. O que estragou tudo talvez tenha sido justo uma das maiores virtudes de um blog, seu efeito facilitador.


  As redes sociais colocaram os leitores bem perto do blogueiro, que tinha então um público mais acessível. O problema é que com o tempo e a evolução, as postagens curtas, fáceis de ler e praticamente descartáveis, começaram a tomar o lugar dos textos por vezes longos e complicados dos blogs. Não bastasse isso, veio o Tweeter, que não sei como os alemães conseguem utilizar, praticamente duas palavras e o limite de caracteres está esgotado. Sabe aquela coisa de trocar um “bom dia” e cumprimentos diários por “aí” e dar as costas? Foi mais ou menos o que aconteceu. Ficou fácil demais, algo extremamente tentador para uma espécie biologicamente programada para poupar energia a todo custo.


  Há alguns anos várias pesquisas afirmaram que 90% dos blogs são abandonados no primeiro ano, muitos nem comemoram aniversário. Alguns dos que marquei em minhas listagens, aliás, já saíram do ar e estão com seus domínios disponíveis. Posso então dizer que sou um sobrevivente, aliás, sou uma família de cinco blogs sobreviventes, contando os em que só eu trabalho, alguns deles ainda combalidos pela evasão. Eu sei que muitos dos meus textos são longos, não raro indigestos e difíceis de compreender, problema que redes sociais, especialmente as de leitura rápida não têm. Mas eu não estaria sendo honesto, não estaria sendo nem eu mesmo se subestimasse a capacidade de compreensão e a inteligência lógica dos leitores.


  A verdade é que eu sou muito teimoso, minha cabeça é mais dura do que o diamante, eu decidi deixar meu cabedal para a posteridade e vou até o fim com isso. Por mais desgosto que a caixa de comentários vazia, motivo da evasão de muitos blogueiros menos perseverantes, me doa; e dói muito. Eu sei que o custo de publicar nesta plataforma é virtualmente zero, mas tenho tempo e pesquisa empregados no que escrevo, muita gente considera seu trabalho caro demais para receber zero comentário em troca. Eu também valorizo meu trabalho, não se iludam, mas meu foco é a posteridade, os arqueólogos que vão utilizar técnicas impensáveis para os dias correntes, e resgatar conteúdos como este, podendo então compreender o mundo como o vejo... Presunçoso, heim!


  Entretanto há os vitoriosos, aquele um em um milhão que conseguiu (sabe Deus a que custas) se dedicar com períodos curtos e confiáveis, conseguiu abrir caminho entre os fornecedores de dados e notícias, conseguiu o respeito da mídia oficial e sua cooperação, conseguiu se manter interessante e não ceder às tentações passageiras, conseguiu a fidelidade de um público considerável e, não menos importante, conseguiu ganhar dinheiro com seu blog. Eu escrevi “conseguiu” porque não foi golpe de sorte, a internet tem o poder nivelador só superado pelo da morte. Muitos blogs com estruturas faraônicas em espaços pagos, morreram às moscas, enquanto outros que começaram muito humildes em plataformas gratuitas, hoje pagam as contas de seus titulares.


  Não, eu não tenho a pretensão de viver dos meus blogs, mas não vou recusar a ajuda, se ela vier nos meus termos; posso alugar espaços, nunca vender minha credibilidade.


  Dificulta mais este blog, em especial, ser um espaço de manifestação pessoal, sem qualquer vínculo temático. Minhas antigas psicólogas que digam o quanto é difícil entender minha cabeça! Os outros, com temas fixos, mas não absolutamente rígidos, são tratados com o mesmo rigor aparentemente randômico que imprime os passos deste. Em verdade, meu estilo está mais para topológico, o que complica ainda mais para muita gente... Até para mim.



  O que machuca um pouco, com o abandono de outros blogs, é que eram canais valiosos de fluxo de idéias e informações. Alguns eram tocados com muito, mas muito carinho por pessoas que, depois descobri, muitas vezes eram pouco mais do que crianças ou idosos, que não tinham muito mais com quem e como conversar. Alguns só queriam colocar e compartilhar coisas bonitas na internet, na tentativa romântica de equilibrar o clima que os canais profissionais de notícias adoram estragar.


  Não, meus amigos, isto aqui não é um desabafo. É uma satisfação mínima de um blogueiro solitário, que já teve colaboradores em seus outros canais, mas agora se vê só, nu e com a mão no bolso. É também um apelo para os blogueiros que ainda resistem, para que não desistam só por causa da evasão de leitores, ou porque não conseguem mais publicar um artigo todos os dias úteis, ou porque estão sofrendo com dramas pessoais graves e sentem as forças se esvaírem, ou tudo junto e muito mais. É uma tarefa árdua e ingrata concorrer com meios de comunicação fáceis de usar e repletos de bobagens de leitura rápida, é como correr ladeira acima contra quem sobe de elevador. Às vezes parece que estou andando em uma estrada sem fim, sem absolutamente nada além da sombra a fazer companhia, às vezes nem ela, quando anoitece.


  Eu sei muito bem o que é tudo isso, tudo isso me acomete. É frustrante caprichar em um artigo, ir ao painel e ver que está tão frio quanto a caixa vazia de comentários. Aprendamos, porém, que a frustração é um dos elementos mais presentes na vida, não só a humana, mas nas de todos os seres vivos conhecidos. Alguém aí pensa mesmo que os leões conseguem acertar todos os ataques? Raramente o primeiro alvo se torna o almoço, quase nunca ele come com poucas tentativas, é muito freqüente com trema ele passar um dia ou dois sem comer. Faz parte. Se o rei das selvas precisa se acostumar a isso, que dirá um humano, com suas garras pífias e suas presas ridículas!


  Desistir, meus amigos, é a única condição para sair derrotado.

4 comentários:

Xracer disse...

Interessantes considerações, Nanael ! Realmente blogar é um desafio. Eu penso assim : eu posto o que eu gosto, o que eu gostaria de encontrar em algum lugar, fotos e textos, e não acho também são temas de meus posts.
Uso o facebook para avisar de novo post e sempre meus amigos mais chegados que me seguem sempre visitam o post. Não tenho usado a opção de publicar no Google + porque ele expõe a sua identidade, fico mais à vontade usando o nome que adotei em 1996 assim que comecei a acessar a Internet.

Não se preocupe em ter um post novo todo dia, eu penso que cada post deve se espalhar primeiro, como uma onda que chega na areia e quebra na beira do mar. Primeiro a postagem tem que "avolumar", quando trabalhamos nela, e finalmente é publicada e gera mais ondas em volta. Eu tenho mais de 100 posts sendo preparados, a cada dia faço mais um pouco e isso faz parte do "hobby", ter material (e textos) inéditos e poder soltar eles aos poucos.

Blogar pra mim é um exercício de escrita e de imaginação, de busca pelo aprofundamento de nossas idéias e planos futuros, enfim, é uma forma válida de passar o tempo

Nanael Soubaim disse...

Só me preocupo em dar forma à idéia antes que se desvaneça. Já perdi muitas.

Anônimo disse...

Somos sobreviventes...

Nanael Soubaim disse...

Year!