08/07/2014

O deus anglicano do gelo


  Há muito, muito tempo, antes de a escrita ser traçada em folhas de papiro, havia um deus que governou a última era glacial. Era um deus muito severo, mas também generoso e gentil para com quem o respeitava. Seu nome era Coldfeet McJagg.

  McJagg sabia que seu reinado estava caminhando para o fim, mas estava sereno, estava nas estrelas que sua era um dia terminaria, mas voltaria a acontecer noutras ocasiões, como sempre foi desde o início dos tempos. Ele estava se preparando para isso. Até lá, ele se ocupava em controlar a variação da temperatura entre gelado e "meu Deus, que p0##@ de frio é esse?".

  Em sua vida eterna solitária, McJagg desenvolveu uma bela voz, às vezes cantando ritmos alegres e bem cadenciados, noutras canções melódicas e claramente dolorosas, mesmo para seu coração de gelo. Mas ele era um deus, uma criatura elevada, não O Criador.

  Um dia McJagg foi chamado à presença da Consciência Primordial, que há muitos milênios se compadecia de seu sofrimento resignado. Diante D'Ela, ele chorou lágrimas líquidas pela primeira vez em milhões de anos, desde que causou uma das grandes extinções. Ela sabia o motivo de seu tormento.

  Por milênios, o deus do frio cuidou de uma mortal em seu longo ciclo reencarnatório, com tamanha dedicação, que se apaixonou por ela. Lhe foi dito das agruras pelas quais passaria, se continuasse nutrindo essa paixão. O nome da donzela, naqueles dias, era Làah Erö Djin. Uma filha que a Consciência Suprema dotara de beleza extraordinária e de um coração morno e acolhedor, desde suas mais remotas vidas. Coldfeet sabia que era um amor impossível, por isso se consolava e chorava cantando.

  E'La, porém, em sua infinita misericórdia, propôs que assim que ela estivesse pronta, eles poderiam se encontrar e tentar se entender. A única condição era que ele jamais se esquecesse de quem realmente é. Para isso, seria mergulhado sete vezes no Lago Boyne, sendo que na última os pés ficariam de fora, permanecendo frios para que ele retornasse imediatamente às suas funções, ao fim da vida mortal.

  E assim se fez. Angus Mc Og se encarregou de mergulhar seu amigo sete vezes no lago, deixando os pés de fora na última, deixando-o pronto para iniciar sua longa jornada, até estar pronto para vestir a carne ordinária e perecível dos humanos.

  Mas ele não se ocupou apenas em se envelopar até poder caber em um corpo humano, ele aperfeiçoou seus dotes artísticos, para que tivesse um meio digno de sustento, sem precisar ser pesado para os outros, tornando-se um artista de extraordinário talento. Valoroso e destemido, ele não titubeou quando soube que a conclusão de sua jornada coincidiu com a pior guerra da história lembrada. E assim, em26 de Julho do ano do Senhor de 1946, nasceu como Michael Philip Jagger, Mick para os íntimos. E como rezava a profecia, tornou-se um deus da música moderna, mas sempre com os pés frios, para se lembrar de quem realmente é.

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