04/03/2013

Ecochatos e ecocegos

EV1 e Superbird; Sabendo usar, dá para se ter ambos no melhor de dois mundos.

Se me perguntarem qual dos dois é o pior, respondo que dou um pelo outro e não peço troco. Os dois são resultado directo da guerra suja de laudos científicos, que tomou conta de praticamente todas as áreas do conhecimento humano. Ambos são ameaças à perpetuação da espécie.

O ecochato ignora que o próprio ser humano é parte da natureza, e que é impossível haver qualquer actividade biológica sem geração de resíduos, por pouco que sejam. Os mais radicais pregam a extinção voluntária da humanidade, mas eles mesmos não nos fazem o favor de dar o exemplo.

O ecocego nega que a humanidade dependa da natureza para qualquer coisa, afirma até que queimar o Brasil inteiro não aferaria nem mesmo os países vizinhos, sem dizer qual foi o pseudocientista que afirmou isso. Seu sonho é devastar o planeta e vender tudo sem medir conseqüências, mas ele mesmo quer viver em uma alameda florida.

Tudo começou com a Eco 72, pouco antes da crise do petróleo deflagrada por Kadafi. Até então, era ponto pacífico que a poluição e o desmatamento desordenado estavam prejudicando a própria humanidade. Ninguém dizia para demolir todos os carrões com mais de um metro e  meio de comprimento, mas era consenso que o uso comedido por si só já reduziria drasticamente a poluição atmospherica, que chegava a níveis alarmantes em todas as metrópoles do mundo.

A partir de então, as pessoas passaram lentamente a se interessar por ecologia, mas ainda tinham alguns mitos na cachola. Por exemplo, a Amazônia não é o pulmão do mundo, este é o mar, a função da floresta é regular o clima, e faz isso com tamanha competência que ela produz seu próprio clima, permitindo uma diversidade e densidade ímpar de espécies. Muitas destas, aliás, estão fornecendo material científico e comercial precioso, ignorado há até dez anos.

No decorrer dos anos setenta, com a crise do petróleo, os extremos se exaltaram. Um lado berrando "Eu estava certo! Ahahahahahahah! O mundo está condenado e vocês são os únicos culpados!" enquanto o outro gritava "Esses comunistas safados querem roubar o seu emprego e destruir nosso modo de vida! Nenhum de vocês é bandido, nossas famílias não podem passar fome por causa de alguns passarinhos idiotas!".

Reagan, por meio do aumento do endividamento, e do aparelhamento da máquina de guerra, conseguiu controlar a crise financeira decorrente da crise petrolífera, inclusive fomentando a produção doméstica. O mundo ocidental ficou tão maravilhado, sem imaginar que a bomba estouraria neste início de século, que nem percebeu suas sabotagens ao desenvolvimento de energias limpas; tendo inclusive removido os painéis solares da Casa Branca.

Preciso dizer que o outro lado encrespou? Não, né! Ninguém se importava muito se em Cubatão, crianças nasciam anencéfalas por causa da extrema poluição, e do triste título de cidade mais poluída do mundo. Simplesmente olhava para o noticiário e esperava que Spectreman viesse limpar tudo com seus raios coloridos.

Ah, sim, tivemos o proálcool. O mundo inteiro nos invejou por uma década inteira. Mas a prioridade de nenhum governo brasileiro foi o Brasil, nenhum mesmo! O que deveria garantir nossa independência energética, virou mico.

Nesta esteira, vendo radicalmente o outro lado da moeda, os ecoxaropes começaram a gritar que a extinção dos motores seria a salvação da humanidade, da qual querem a pronta e voluntária extinção. Como fazer centros cirúrgicos funcionarem, como levar pacientes em tempo hábil aos hospitais, como transportar dezenas de toneladas de água e equipamentos até um incêndio a dezenas de quilômetros, como transportar família mais compras ou bagagem, como atravessar o oceano, enfim, como fazer um mundo integrado existir na base de pedais, é uma equação que eles não conseguem equilibrar; simplesmente porque não dá zero.

Cometendo o mesmo erro de um século atrás, demonstrando que parte significativa da população tem uma afeminação enrustida, soltaram boatos de que carro que não mata por câncer de pulmão e não ensurdece os outros não é carro de homem. E assim o consumidor idiota deixou que matassem o Chevrolet EV1. Só que as companhias conhecem a verdade, são elas que financiam e compram (ou compravam) os laudos pró-petróleo. Hoje temos mais de quatro e meio milhões de carros eléctricos pelo mundo, menos de vinte anos depois dos ecocegos terem matado o EV1. Para meus leitores habituais, eu não preciso desenhar.

D'outro lado, tão medonho quanto, estavam os radicais que pensavam que eram bichos-grilo. Mas só pensavam, porque a philosophia de paz e amor foi p'ras cucuias em três tempos. Eles não ficaram nem um pouco felizes com a redução acelerada dos níveis de emissões, queriam que as máquinas deixassem imediatamente de soltar carbono. Quando os eléctricos ressurgiram, em vez de aplaudirem, atacaram com veemência o potencial poluidor das baterias, sem dar pelotas à possibilidade de se dar pequenas cargas até pedalando, nem para o quanto é remota a possibilidade de o material reativo vazar. Não, eles querem que se instale um gerador em cada roda para alimentar o motor, e assim fazer o veículo funcionar por moto perpétuo... Não, não é piada. Já li e ouvi isso muitas vezes, na internet e ao vivo, de quem ignora as mais elementares leis da física.

Caríssimo leitori, vosso amigo de fé, irmão camarada vai lhes dizer o que a experiência me ensinou, e o que deu certo à margem da guerra de laudos corrompidos que os dois lados aloprados divulgam, ainda que matando a comunidade científica de vergonha.
  • Seus carros poluem. Triste isso, não? Mas dá para fazê-los poluir menos. Como quase sempre andam com pouca carga, vocês podem esquecer as marchas pares, na cidade. Arranquem com a primeira marcha, passem, para a terceira e, se for o caso, para a quinta. A aceleração fica mais lenta, mas o consumo cai bastante, na mesma proporção das emissões, e cidade não é lugar de apostar corrida;
  • Andar de bicicleta é muito bom, principalmente se lembrar que a calçada não é lugar para elas. Se puder adaptar um kit de bateria, controlador e motor de furadeira nela, ou mesmo pagar o preço abusivo cobrado por uma eléctrica no Brasil, teu transporte individual estará garantido para a maioria absoluta dos casos, desde que não chova, não precise levar carga nem enfrentar rampas íngremes. Use o bom senso;
  • Quantos Cadillac Big-Block 500" vocês costumam ver pelas ruas? Poucos, né? Nem todo dia se vê mais do que um. Embora seja individualmente um carro beberrão, a soma de seus exemplares é pequena, assim como as emissões totais da espécie. Um carro popular, no conjunto de seu modelo, pode facilmente poluir muito mais do que uma percentagem muito grande dos muscle-cars, que além de poucos, também são utilizados com parcimônia... Ou não haveria viatura no mundo que os pegasse;
  • Falando em carro popular, vamos a um mito muito arraigado. Pensa mesmo que trocar de carro a cada três anos, ou mesmo todos os anos, te garante uma postura ecológica? Tu precisas ficar com ele por cinco ou seis anos, para neutralizar o impacto ambiental de sua construção. Para reverter, no mínimo oito anos, tempo suficiente para ele sair de linha e valer uma ninharia, no mercado de usados;
  • Vamos ser sinceros, transporte público brasileiro é uma desgraça para a acepção da palavra. Mas só porque brasileiro acha que progredir é andar sozinho em um utilitário esportivo, dentro da cidade, usando só marchas baixas. É este povo, ou seja, nós, que deixa o governo entregar o transporte público nas mãos de gente indicada por pilantras dos bastidores da política. Não fosse assim, nenhuma cidade com mais de um milhão de habitantes estaria sem metrô, inclusive Goiânia;
  • Separe o lixo. Ponha material orgânico em um saco e resíduos humanos em outro, bem como papel, vidros, metais, plásticos, borrachas, trapos, material electrônico e madeira, tudo devidamente identificado. Cabe um adendo, as lâmpadas fluorecentes compactas devem ser descartadas inteiras, em caixas forradas e com seu conteúdo identificado. Simples? Nem tanto...
  • Tirem seus traseiros dos sofás, parem de ver bizarre-show que nada tem de realidade, e façam suas associações de bairro, de classe, do que seja, exigir a cabeça do secretário municipal, se ele não providenciar imediatamente um centro decente de triagem, separação e encaminhamento para reciclagem. Não, meus amigos, eles não entendem outra linguagem, tanto menos quanto mais comprometidos com as próximas eleições estiverem. É para colocar os safardanas contra a parede, deixando claro que suas carreiras políticas estão por um fio;
  • Seu pinto não vai cair, se não pegar uma doença grave o não o cortarem fora. Salvo estas duas situações, e nenhuma outra, NADA DO QUE FIZERES VAI AFETAR TUA MASCULINIDADE! Então, benzinho, não tenha medo de rodar numa daquelas motoquinhas movidas à pilha. E caso não saibas, é bastante simples envenenar uma, converse com um técnico competentes, o que poderás ver pelas instalações de sua oficina e as coisas que ele faz no tempo livre. Som? Dá para se colocar, sem grilo;
  • Podes comprar um super carrão eléctrico, mesmo sabendo que ele custa quase o dobro do similar de mesmo desempenho? Para quem é o carro, heim? Então, mané! Compra e não dê satisfações aos outros. Tens mesmo um Plymouth Superbird na garagem? Estás com medo de quê? Use a melhor gasolina, os melhores aditivos, o melhor lubrificante e desfrute de teu carro! Se tens bala para comprar este foguete de asfalto, é porque podes mantê-lo sempre na sua melhor forma, basta seguir o que eu disse sobre andar na cidade;
  • Tu não gastas mais por um chocolate fino? Por um destilado mais elaborado? Por uma roupa de marca? Então por que vais economizar sem necessidade em teu carro, na tua casa, na tua alimentação, no teu lazer, enfim, consigo mesmo? Artigos que geram menos impacto são mais caros até conseguirem escala de produção para baratear, isso só depende do consumidor, ou seja, de nós;
  • Não se mete na vida alheia. Desde que o outro não esteja burlando uma lei, ou prejudicando deliberadamente os outros, deixe-o seguir sua vida. Nada é mais capaz de transformar alguém em inimigo de um conceito de vida, do que ser maltratado por causa dele. Preciso desenhar? Não, né.

Todo o resto é especulação, campanha difamatória, ignorância ou mentira lascada mesmo. Lembrem-se de que vivemos uma época em que pesquisas bombásticas são desmentidas diariamente por novas pesquisas, que são desmentidas pelas consecutivas e por aí vai. Antes de darem crédito ou desacreditarem em alguém, vejam quem está por trás daquela informação, quem financia a pesquisa e a notícia, qual o histórico do pesquisador, mas sob hipótese alguma acredite só porque está escrito, ou porque vai de encontro com sua ideologia ou seja lá como chame suas idéias. Empresas fazem coisas boas e coisas ruins, são geridas por pessoas, não por anjos ou demônios, só por pessoas.

Exemplifico com as ditas terapias alternativas. Amaldiçoadas por céticos radicais, e tidas como salvação suprema pelos bichos-grilo radicais, elas foram combatidas à exaustão pelos laboratórios, porque reduzem a necessidade de medicação. Como sei? Dez anos trabalhando em vigilância sanitária, filhos. Eu vi tudo isso acontecer. Porém, como toda obra humana, essas terapias têm seus limites e contra-indicações, que qualquer terapeuta sério sabe levar ao paciente. A Avnisa liberou esses tratamentos, mesmo sem seus defensores terem bala para fazer lobby, porque apresentaram efeitos práticos mais do que suficientes para merecer o crédito. Isto é só um exemplo ilustrativo, porque gente completamente ignorante combate ou exalta sem ter conhecimento de causa, usando bordões, frases prontas, palavras de ordem  e gritos de guerra.

Guerra, aliás, se deixarmos, é no que os dois xaropes econeuróticos vão acabar mergulhando o mundo. Entre eles, a guerra já existe. E numa guerra, vocês sabem quem é a primeira vítima.

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