Não lamento as perdas ditadas pelo ciclo do inevitável, cuja vacância resultante abre a porta para o novo; sem a respiração deste ciclo a vida estagna e apodrece.
Não lamento as perdas mais caras que cumpriram com seu dever, cuja dor resultante empunha a forja do caráter; sem os golpes deste ciclo o espírito enfraquece e sucumbe.
Lamento somente a porta trancada que não permitiu a entrada do novo, deixando a perda crua e seu ônus descoberto sem a bonificação.
Lamento silente a perda que em vão deixou sua vaga vazia e ressonante nas quatro paredes duras do vazio que se estabeleceu perene.
De tudo o que perdi, vi cego em flashes fugazes a fuga do que fazia a diferença, levando consigo seu valor. Ainda que tudo perdesse havia então a esperança de tudo recobrar, ainda tinha eu a vontade pujante de viver.
De tempos em tempos mais um pedaço que tinha morrido deixava o vazio maior, evaporando no nada em que as lembranças de apoiavam; Era duro sustentar tanto peso no vazio.
De tempos perdidos eu já tinha um cervo que adoçava com a calda da esperança, evaporando as lágrimas vertidas das dores lavadas; Era duro perceber que ainda assim a dor aumentava.
Cantei silente a melodia que aos poucos se desvanecia da memória sobrecarregada, deixando em brumas tudo o que tinha nitidez.
Cantei inocente a esperança de que toda perda eu recobraria no fim da estrada, mas a força pujante sem reposição um dia se esgota.
De tudo o que perdi, vi já não tão cego, mas ainda nebuloso a fuga da esperança remanescente, levando consigo seu calor. Ainda que tudo perdesse havia então a decisão de tudo recobrar, ainda tinha, petulante, a firme decisão de viver.
Já havia mais passado do que porvir, o prazo escasseando indiferente ao que eu sonhava ou deixava de sonhar, e o sonho perdeu as cores como uma photographia exposta à chuva e ao sol; É duro perceber que só lembro o que sei, que o sentimento desapareceu com os rostos.
Já havia mais pesares do que sorrir, os olhos secando pela lágrima faltante hoje dificultam dormir, e dormindo não há mais sonhos que refaçam a lucidez perdida, somente monstros das lembranças distorcidas; É duro enxergar mais do que pelo espelho se vê.
Chorei mudo o choro seco que a meus olhos irritava, vindo então como única certeza o campo estéril que meu trabalho não foi capaz de fertilizar.
Chorei alheio ao mundo em meu mundo fechado para não ser incomodado, vendo minha distopia desmoronar e revelar a areia suja do tempo de quem sofre só.
A inércia mantém o movimento, Deus sabe até quando. A estrada não parece ter fim, o aclive mais íngreme a cada passo, mas parar não me pouparia do cansaço, só aumentaria a dor da fadiga. Não viria o desenlace para tudo terminar, só aumentaria o sofrimento da dor crescente. Músculo quente dói menos, músculo só se aquece em movimento.
De tudo o que perdi, vi então ante minha cegueira moribunda, nada mais fazia diferença, nada mais tinha sabor. Ainda que tudo recobrasse nada mais serviria em meu favor. Já tinha eu, sem perceber, perdido a mim mesmo.
2 comentários:
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