Cheguei ao trabalho como todos os dias, ou como deveria ser em todos os dias, se a porcaria do transporte público de Goiânia não tivesse decaído de "exemplo" para "lição amarga". De madrugada, neste famigerado horário de verão, que por si já atrapalha bastante. Estou acostumado a me levantar às 04h45 ou antes, às vezes antes mesmo de o despertador tocar, depende do meu nível de esgotamento; e hoje estava esgotado como se tivesse trabalhado sete dias seguidos.
Tão logo terminei os preparativos, me deparei com a típica cena de sexta-feira, as peças fiscais que normalmente só aparecem no fim de semana estavam lá, com a prolixia, a retótica, o abiso de vícios de linguagem e os garranchos hieroglíficos típicos de sexta-feira. O clima estava formado. eu via "09 de Novembro" no calendário que eu pendurei na sala, no começo do ano, mas tudo tinha cara de dia 12!
Os olhos já cansados, estavam com a fadiga típica de fim de semana, como se tivessem sido forçados por uma semana inteira seguida, para descobrir que raios queriam dizer aqueles três rabiscos completamente diferentes entre si, para depois eu descobrir que era "555"... Depois de muita investigação, com o sistema TODO EM DOS travando o tempo todo.
Cometi os erros típicos de uma dura e pesada sexta-feira, como confundir as duas Lucienes e perguntar a uma pelos erros da outra. Claro que ela curtiu com a minha cara, com a elegância característica, é claro, mas também com todo o direito que tinha... E com testemunha.
Hora mais tarde, minha, hoje única colega de recepção chegou com os queixumes de sempre, que não seriam novidade se já fosse sexta-feira. Mas o calendário não me deixava enganar, ainda era e é segunda-feira. Até os malas, os casos difíceis, os tropeços e os capilés que costumam aparecer na sexta, apareceram hoje! Eu tinha a falsa sensação de que voltaria pra casa, desarmaria tudo e no dia seguinte dormiria até tarde, por volta das 08h; mas é claro que eu não vou dormir até tarde, amanhã é terça-feira!
As faxineiras terceirizadas atrapalharam o atendimento como se fosse sexta-feira, como se a sala tivesse acumulado quatro longos dias de sujeira e suor. Fui contrariado para fora, como se fosse sexta-feira, porque a qualquer momento poderia aparecer um documento pra encaminhar e, dependendo do nível de complexidade e garrancho, seria de meia a uma hora só nele!
Ah, sim, o chá também acabou mais cedo, como se fosse sexta-feira...
Na saída, apesar de tudo, fui para o ponto de ônibus a pouco mais de um quilômetro dali com o falso alívio de que descansaria no dia seguinte. Até peguei um caminho ligeiramente diferente, como se fosse sexta-feira! O palco da ilusão estava formado! Eu sabia que ainda era começo, mas tudo tinha cara de fim de semana, até a bateria da câmera, com apenas um pique, rendeu dezenas de photographias!
Em casa almocei com gosto de sexta-feira. Não, não é um sabor agradável como pode parecer, até a língua fica cansada demais para registrar todas as nuances do sabor, o frango acabou com gosto de chuchu assado levemente flavorizado. A sesta que tiro de vez em quando, apesar do calor, acentuou o clima de sexta-feira. Acreditem, eu realmente preciso desse intervalo, ou surto!
Comer um donut assado, sem aquele peso de óleo e aquela lambreca de açúcar, que comprei de uma menina com sotaque portenho, deu pane de vez em meus sentidos. Conscientemente eu sei que é segunda-feira, mas o corpo está no clima de sexta-feira, nem quero sofrer por antecipação em imaginar a reação dele em se recusar a sair da cama, quando o despertador tocar!
Completando a confusão, hoje, no fim da tarde do horário real, uma intensa luz amarelo intenso entrou pela porta da copa, dando aquela sensação de alívio que só uma verdadeira sexta-feira dá, com a perspectiva de não enfrentar o ônibus no dia seguinte. Nada mais falso! Nada mais cruelmente falso! Eu, que normalmente gosto da segunda-feira, por este caráter enganador, estou detestando esta!
Pérfida!
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