14/05/2014

Uma declaração


  Declaro que não sou um idiota. Ainda que minha fronte ostente vagas semelhanças com as mais vulgares expressões de déficit de atenção, de modo algum meus limites intelectuais me enquadram na idiotice, tampouco dão a outrem o direito, prerrogativa ou mesmo autoridade de me taxar como se eu o fosse; especialmente pelos motivos torpes que têm servido de âncora aos manifestantes.

  Declaro que não sou um egoísta. Se porventura nego auxílio a alguém é por ter ciência de que a dose converteria o remédio em veneno. Amparar pelo simples motivo da facilidade, da comoção ou (pior) da piedade, me ensinou a vida ser um desserviço ao virtual beneficiário. Cedo e concedo de minhas exíguas posses sem medo de arrependimentos, já o fiz, faço e farei sempre que for necessário. Não concedo, no entanto, os meios para a perpetuação da dependência de quem pode mover as próprias pernas e caminhar, seja em que âmbito, circunstâncias ou por qualquer pretexto.

  Declaro que não sou segregador. Minhas opções culturais e estéticas jamais me tolheram a visão dos humanos que se escondem debaixo de suas aparências. Nunca tratei com desdém, desrespeito, pilhérias, cinismo ou arrogância o meu semelhante. A muitos é notória a sisudez e às vezes belicosidade de meu temperamento, mas ele não o é por qualquer motivo externo, muito menos por distinção de pessoas, o é por sua rude e temperamental natureza. O facto pois de eu preferir elementos do meio de século passado, mas não todos eles, é por identidade e nenhum outro motivo.

  Declaro que não sou alienado. Não me convenço com dados de um governo que fala de si mesmo, seja qual for esse governo. Não me atenho a poucas fontes, não acredito só porque já confio e não desacredito só porque não confio.0Nnão defendo ideologias e meu raciocínio é livre de suas amarras, desvelando minha visão de mundo para além do que discursos afins pretendem me conduzir. Minhas conclusões são baseadas em parâmetros, jamais em opiniões, pontos de vista ou noticias tendenciosas, estas que têm sido as predominantes na história da imprensa. Opiniões, aliás, por vezes são tratadas com desprezo pela minha análise, inclusive as minhas, posto que raramente têm ancoragem científica.

  Declaro que não sou canalha. Pauto minha passagem neste orbe pela consciência de que sou um sócio igualitário, em ações ordinárias, não me cabendo o direito a qualquer prerrogativa que não tenha conseguido por meus méritos e esforços, bem como a deliberação de não me valer das que porventura detenha se não for absolutamente necessário. Não acredito no que quero, no que me conforta, ou ainda seria ateu, acredito no que me convence e não sou convencido por discursos, estes antes me repelem. No que creio e o que pratico são embasados nos resultados perenes, que se estendem muito além das finalizações sumárias e festivas da linha de chegada. Teria seis vezes ou mais os vencimentos que hoje recebo, se a canalhice me fosse minimamente aceitável.

  Declaro que não confio em governo algum, nacional ou estrangeiro, tanto menos quanto mais emprega em propaganda o erário e mais investe nos temores de seus simpatizantes. Pedi a cabeça do Sarney por quase ter levado o país à bancarrota. Pedi a cabeça do Collor pelos indícios consistentes e posterior confissão de corrupção. Pedi a cabeça do FHC pela dependência patológica de capital especulativo a que nos atrelou. Estranho e lamento ser repreendido e denegrido por me voltar contra Lula e Dilma PELOS MESMOS MOTIVOS.

  Declaro, porém, que não sacrificarei amizades e boas relações por causa de canalhas que fizeram contra o país o que Geisel falhou em fazer, eles o dividiram em facções inimigas. Relevei, relevo e relevarei as ofensas indirectas a mim dirigidas no afã de defenderem o foco de seus temores mais íntimos, pois sei que más intenções não lhes povoam as ações.

  Assim sendo, peço apenas que moderem o rajar de suas metralhadoras ideológicas, religiosas, políticas ou afetivas. Embora eu e muitos mais relevem em prol da amizade, suas balas furiosas continuam sendo ferinas. Ler publicações que chamam de idiota, egoísta, segregador, alienado e canalha quem não se deixou seduzir por discursos e estatísticas maquiadas, é como receber um tapa destinado a um outro que talvez nem exista de facto. Eu simplesmente não acredito e minha experiência consolidou minha descrença.

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