27/09/2012

O pequi, esse incompreendido


Uma das últimas piratarias japonesas, graças também ao completo desinteresse do Planalto em manter aqui dentro os nossos talentos. Explico: eles descobriram que o óleo do pequi não serve apenas como farta fonte de combustível, ele também é útil no tratamento térmico de aços de grande responsabilidade, como  molas de suspensão automotiva ou de válvulas de motores, bastando adicionar 50ml de óleo de pequi (patenteado como chemical strengtheneer layeer) em 4 litros do óleo mineral usado na têmpera, para se conseguir uma superfície extremamente dura, resistente ao desgaste, à fadiga, com maior capacidade de carga uniforme, et cétera e tal. m\ais uma que perdemos, Dilma.

Voltando ao fruto, ele nasce da árvore homônima, que é tortuosa, alta e de casca contundente, profícua no cerrado, mas ainda de difícil cultura, tanto que grande parte da produção ainda é extrativista. Altamente calórico, como toda oleaginosa, é também altamente proteico, o que lhe rende o apelido de carne vegetal. Come-se a poupa, que envolve a semente, cozida.

Ainda é muito comum a ocorrência de acidentes, por imprudência de gente que insiste em roer o pequi, em vez de raspar a poupa. Pior ainda é com forasteiros, que teimam em morder como se fosse uma castanha. Acontece que a semente tem milhares de espinhos afiados, quebradiços e potencialmente infecciosos, logo abaixo da parte esbranquiçada e mais dura da poupa; eles formam uma estrutura. Se romper a poupa branca, os espinhos cravam na boca e às vezes só saem com intervenção cirúrgica. Por isso sempre digo aos visitantes "NÃO MORDA O PEQUI!!!!!". Xingue a mãe daquele traficante com dor de dente, mas não morda a bagaça do pequi.

Ainda assim o interior da semente guarda boas surpresas. Deixando-se-a secar por uns fias, já que a poupa bacteriogênica já terá sido consumida, pode-se quebrá-la e aproveitar a castanha que há lá dentro.Com o caroço seco, os espinhos se desprendem com facilidade, sem maiores riscos, deixando o caminho livre, leve e solto para a oleaginosa interna.

Já ouvi histórias e estórias. Uma delas conta que uma paulista, quase sempre é paulista, detestou o pequi. Até aí, tudo bem, o sabor dele é extremamente forte, assim como o cheiro, é do tipo "ame ou odeie". O problema veio quando descobriram o motivo, a criatura estava comento a poupa crua... sem nem salmoura. É claro que a gordura vegetal vai emplastrar a língua e bloquear o paladar! Por isso, também em nome da segurança, a compota em, salmoura faz tanto sucesso! O pequi precisa ser cozido até o amarelo claro fosco ficar amarelo ovo, brilhante e sem grudar na colher.

Outra, que achei deveras estranha, mas há muitas amebas de quarenta e seis cromossomos por aí, foi de uma pessoa que raspou a poupa, jogou-a fora (!!!) e tentou cozinhar a semente! Deixou por três horas na panela de pressão e, sem sucesso, foi reclamar com quem lhe deu o presente. Não, a semente não amolece com o calor, ela é lenhosa, tanto que é muito usada em fogão à lenha, como combustível, junto com a madeira.

Outra que ouvi, menos idiota, mas não menos perturbadora, foi de uma pessoa que jogou os frutos fora e tentou cozinhar a casca, depois reclamou que tinha um gosto horrível... Esclarecendo, o pequi vem dentro de uma casca macia, feita para amortecer a queda, e ainda hoje tem gente que pensa que ela é o fruto.

Outro risco do pequi, deriva justo de sua maior virtude. Seu alto valor nutricional o torna alvo fácil de microorganismos, sendo terreno fértil para salmonelas. Por isso a validade é geralmente curta e, uma vez aberta a compota, recomenda-se comer o mais rápido possível. por isso também eu nem olho para aqueles camelôs que o vendem nas esquinas, descascados, expostos e prontos para contaminar todo mundo. Pior que camarão.

Com o que se faz o pequi? Com tudo. Existe até sorvete de pequi! O mais freqüente é ele acompanhar o arroz, se bem que a macarronada com pequi já tornou-se tradição, especialmente em casas vegetarianas. Comer pequi com qualquer carne é exagero, é proteína demais, especialmente com peixe, porque aí soma-se haver cheiro demais, urgindo o uso de uma pasta de dente extra mentolada em todos os cantos da boca, não só na dentição.

https://www.ufmg.br/online/arquivos/013983.shtml
Fora a patente japonesa, do pequi aproveita-se praticamente tudo, desde o veneno da raíz até a rosbusta madeira. Também do óleo se faz cosméticos que fortalecem a pele, medicamentos que vão de simples tônicos até o controle de tumores. Também aumenta a resistência física de atletas, com seus princípios activos consumidos em cápsulas, o que acabou levando ao tratamento do lúpus. Também se fazem perfumes, hidratantes, maquiagens, biodiesel... Se não pararem, vão descobrir que faz andar sobre as águas e ressuscita ao terceiro dia! Pois é, acordamos muito tarde, mas agora que acordamos, a cada dia um pesquisador sofre desdenhado na fila, para patentear um uso novo para árvore e fruto. E sofre mesmo, viu!

Tem gente inventando mais cousas, como um pequi sem espinhos, prometido para breve em escala comercial. Vai acabar com metade da graça, para muita gente, mas será útil para os afoitos e os forasteiros céticos, que até hoje teimam em não acreditar nas advertências. Sim, leitores, há muito goiano maldoso que se diverte vendo as pessoas correndo desesperadas, com bocas abertas, a gritar sem conseguir fechá-las, tamanha dor e vexame. Aliás, vexame mesmo, será se os japas patentearem também o biodiesel do pequi, que a UFG está tentando extrair em escala comercial.





Para saber mais, cliquem aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Um PDF da Emater a respeito, aqui.

2 comentários:

Francisco J.Pellegrino disse...

Nanael, comí uma vez só e gostei...

Nanael Soubaim disse...

Pois comeste pouco.