27/03/2012

Como entrevistar um cartunista

Repórter que copia e cola perguntas, by Benett.
 O amigo Benett costuma falar das besteiras que lhe perguntam, quando o entrevistam, falando de novo em uma postagem feita hoje (clique aqui e leia, é engraçado) no blog que ele está para abandonar; como já fez com tantos.
Acontece que a cousa é generalizada, já teve gente que perguntou ao amigo Rico (este aqui) se eles, os cartunistas, como artistas plásticos (Meeeeeu Deus!!!) são uma classe unida. Eis algumas altamente repetitivas, que as pessoas (pretensas jornalistas) mandam por e-mail, dando a entender que só fazem copiar e colar a pergunta alheia:
  • Como é que você começou?
  • Tem diferença de charge, pra cartum e tira?
  • Como é o seu processo criativo?
  • Como faz, quando está sem ideias?
  • Quem é a sua inspiração?
  •  De onde você tira essas sacadas geniais?
  • Você se considera um artista plástico?
  • Você já ficou rico?
  • Qual foi o seu primeiro desenho?
  • Qual o seu personagem preferido?
  • Me dá um desenho de graça?

Pois bem, este pobre escriba, cheio de amigos cartunistas, a maioria também pobre, vem dar algumas sugestões de perguntas menos idiotas... De graça.
  • Você acha que ainda é difícil viver de cartum no Brasil (ou seja qual for o país em questão, cartunista é lascado no mundo todo)?
  • Tem ideia de quantos personagens (se for o caso, nem todos têm personagens fixos) você já criou?
  • Alguém já te abordou e disse que uma situação ou personagem parecia estar falando dele? Se sim, você conseguiu fugir?
  • Você troca ideias com outros cartunistas? Como é a convivência?
  • O seu humor, no cotidiano, é parecido com o que coloca no seu trabalho?
  • Qual foi a época mais difícil, também financeira, para o seu trabalho?
  • Como sua família e seus amigos reagiram, quando você decidiu que iria viver de cartum?
  • Você já foi plagiado? O que fez?
  • Tem planos de comercializar seu trabalho de outra forma, como adesivos e camisetas?
  • Rola alguma alfinetada, quando vocês falam de outros colegas, inclusive de fora?
  • Tem algum ressentimento de quadrinistas estrangeiros fazerem tanto sucesso aqui dentro?
  • Você já foi ameaçado por causa de suas charges, especialmente (se for o caso, nem todos têm estômago) as políticas?
  • Cartunistas são pessoas normais?
  • Você faz cursos ou dá palestras? De que forma se aprimora?
  • Você é mais técnico ou intuitivo?
  • Tem muita correspondência de leitores? É uma comunicação amistosa?
  • Sua família ainda nutre esperanças de que você tenha uma 'profissão normal'?
  • Poderia dar dicas para quem quer se aventurar neste ramo?

Terminado o interrogatório, agradeça, confirme o retorno da entrevista e não peça trabalhos grátis. É até possível que ganhe algum, mas fica muito chato pedir de graça o que o sujeito faz para viver; é como pedir ao taxista, uma carona só até o outro lado da cidade. Se for a primeira entrevista, não se aprofunde na intimidade e não insista se a pergunta causar desconforto. Se for uma nova entrevista, não repita as perguntas da primeira, veja se e o quanto pode aprofundar na intimidade, mas não insista se a pergunta causar desconforto.

O retorno da entrevista deve ser o prometido, no mínimo. Mande um número (em caso de imprensa impressa) do periódico, ou um exemplar do livro, com a devida dedicatória, para demonstrar que valorizou o tempo que lhe foi emprestado, porque este tempo pode ter custado caro ao cartunista.

É só. São apenas algumas dicas, que qualquer ser com Q.I maior do que o de uma pá, consegue digerir. Outras podem surgir a qualquer momento, de acordo com quem for o entrevistado. Entendeu, ou quer que eu desenhe?

4 comentários:

f.r disse...

olha isso, nanael: http://30preguntas.blogspot.com.br/

Nanael Soubaim disse...

Quem conseguir ser aprovado na minha, pode passar para essa; é muito interessante, vale à pena estudar, antes de entrevistar alguém.

Anônimo disse...

Nanael:

Me diga uma coisa: o que você tem de parecido com Harvey Pekar, o criador do "American Splendor"?

Nanael Soubaim disse...

Fora o facto de eu também acreditar que a vida real é uma boa fonte de inspiração? Creio que nada...