23/12/2011

Uma criança


A criança corre serelepe ao redor da árvore. É uma árvore grande, não cabe sob um pé direito comum. A cerquinha branca é tudo o que impede a invasão. Muito baixa, mas é suficiente para demarcar o limite.

O contraste do verde escuro e envernizado, com os reflexos coloridos e deformados dos enfeites de polímero, não bastassem os pirilampos distribuídos por toda a estrutura, enchem seus olhos pueris. A alegria de estar vendo aquele espetáculo atrai outras crianças, mas àquela, ainda em tenra idade, o valor da novidade se soma ao da beleza que vê.

Os pacotes de presentes, ainda mais coloridos, enchem a base da árvore. Ela corre em volta para ver todos, ainda que a presença de tantas outras crianças, a disputar posições, dificulte. Ela corre, tropeça, cai, levanta e volta a correr. Seu riso se confunde com os tantos outros.

Se afasta e vê a estrela no topo, que passou-lhe desapercebida. Não imaginava haver tanta beleza no mundo. A música repetitiva de fundo não incomoda, embala. Crianças gostam de ser embaladas, não necessariamente de serem empacotadas.

Atenta á mudança da movimentação e olha para trás, um homem estranho de barba e roupa vermelha se aproxima. Não consegue discernir o que as outras falam, todas ao mesmo tempo, mas em tempos diferentes. Vai lá também.

Forma-se uma fila, organizada por assistentes. A primeira fila da vida daquela criança... a primeira de uma série, pobrezinha. Os assistentes lhe perguntam o que quer ganhar do Papai Noel, ela fica tímida, ri e não consegue responder. Vai chegando sua vez e ela fica exitada, vê outras crianças voltando com saquinhos de guloseimas.

Chega sua vez e ela fica encantada. A conversa segue em tom estranho ao que está acostumada, ele fala manso, pausadamente. Fazem pose para uma photographia, que será impressa e incluída no saquinho de doces. Ela promete ser uma boa menina, se comportar, ajudar a mamãe e tudo mais.

Volta com seu saquinho vermelho de bolinhas brancas à admiração. A árvore brilha e cintila de modo harmônico, de acordo com a música de fundo, que finalmente muda. Olha para trás, vendo aquele velhinho bondoso, que continua atendendo as crianças. É um mundo de sonho.

Seus pais chegam e ela mostra o que ganhou. É pega pela mãe e, pelo caminho, vai contando tudo o que viveu naqueles momentos, mostrando insistentemente o saquinho de doces. Mas é hora de irem embora, eles já conseguiram o que queriam. Têm uma cesta natalina para suprir as necessidades da família por alguns dias.

O mundo de sonhos fica para trás, cintilando nos olhos da criança. Colocam-na e a cesta no carrinho de papelão e puxam-no de volta para casa; um baú de caminhão, abandonado em um terreno baldio e adaptado ao uso. Neste natal, pelo menos neste, terão algo a comemorar.

3 comentários:

Vy disse...

Sem palavras... Beijo!

Lilly Rose disse...

Bom dia querido Amigo Nanael,

Realmente excelente teu texto.

Aos infantes (não importa seu nível sócio-econômico), o Natal mostra sempre seu verdadeiro significado.

E de de maneira muito clara: Alegria, Esperança, Encantamento...

Tudo isto é obra Divina.

E a simples reação da criança diante de tanta beleza, fabricada pelo Homem, não deixa de ser, a maninfestação Divina em seu coraçãozinho.

Já o efeito que tudo isto causa aos pais é outro, porém não menos abençoado.

Endurecidos pelas dificuldades da vida, o contraste entre sua realidade frente ao luxo de um shopping, já não lhes causa espanto.

Mas eles continuam a lutar por sua família.

A Fé manisfesta-se neles também.

Pois eles buscam pela união e sustento de sua família.

Este é espirito do Natal, a União.

A Luz Divina, chega até cada um, de formas diferentes.

Mas ela está lá !! Em seus corações.

Amigo querido desejo a ti, um Ano Novo repleto de Bençãos e Realizações !!

Com todo o Carinho e Aromas de Flores do Campo...

Lilly Rose e seus Elfos :)

Nanael Soubaim disse...

Soham.