10/08/2011

Para sanear o Brasil; 1 de 3: vida pessoal.


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Tenho asco de retórica e uma repulsa incontrolável contra prolixidade, então serei didático e directo. Tudo começa em casa. Tudo mesmo!

Para começar, deve-se atentar para os próprios hábitos, para que seus filhos e/ou tutelados vejam credibilidade no que lhes disser. Pode parecer inócuo, mas é nos hábitos do indivíduo que a cultura social é gestada. Mudança de hábito perseverada muda os paradigmas de uma pessoa. É muito difícil, mas só assim para obter os resultados necessários.

Quando chegar em casa, especialmente do trabalho, NÃO XINGUE! Pode reclamar do cansaço, do transporte, das condições de trabalho, do que mais for, mas não reclame de precisar trabalhar. As crianças aprendem com os adultos, mas não têm memória e noção de tempo bem desenvolvida. Se te virem reclamando de ter precisado trabalhar, inconscientemente acreditarão que trabalho é ruim. Claro, que mais tarde isso pode ser remediado, mas nunca fica bom como deveria, a imagem do pai chegando bravo e reclamando de ter precisado trabalhar sempre emergirá à menor dificuldade no emprego. Por pouco que pareça, isso facilita a vida de corruptores, pois mesmo que eles não se corrompam, não terão argumentação para coibir a corrupção, porque no fundo concordarão com ela.

Se estiver realmente farto de teu emprego, diga que não ganha o que merece por causa de gente desonesta e teça teus comentários a partir disso. Mas nunca reclame de precisar trabalhar. Depois do desabafo, que ninguém é de ferro, comente que graças a Deus nem toda essa corrupção te privou de poder sustentar a casa.

Em suma, não precisa (nem deve) se fingir de feliz por más condições de trabalho e salário aquém de tua competência, mas deve demonstrar que o trabalho em si é bom. Faça um esforço, tu consegues.

Seja civilizado. Imite tudo o que já sabes que um cidadão faz em sua conduta social, no primeiro mundo, e faça questão de que a criança imite. Estimule que o faça.

Ajude nos afazeres domésticos. Mesmo que o cansaço lhe corroa as forças, pelo menos levar o próprio prato à pia tu podes. Deixe claro às crianças que o conjugue não é um empregado da casa, muito menos tua propriedade. Isto é muito importante para as crianças crescerem acostumadas a dar a todos a mesma importância social. Ser mulher, ou negro, ou homossexual, de outra religião, migrante ou imigrante, deficiente, nada deve ser motivo para destratar uma pessoa. É em casa, com os TEUS exemplos, que as crianças aprendem isso. Se aprenderem que todos merecem respeito, ficará mais difícil serem convencidas de que merecem se dar bem às custas dos outros. Também previne contra homophobia, machismo, xenophobia e outras pragas do gênero.

Por falar em ambiente doméstico, vamos aos mais abastados: Seja justo com teus empregados. Se não podes pagar mais do que um salário mínimo, que pelo menos complemente com productos. É muito comum a empregada doméstica ser proibida de comer da comida que prepara, ser revistada na saída do trabalho, ter que entrar pelo elevador de segregação e por aí vai. NÃO FAÇA ISSO! Por mais que pareça normal, que todo mundo faça, é um dos comportamentos que alimentam a vaidade de bacharéis que insistem em serem chamados de “doutor”, e fazem misérias com o dinheiro público em proveito próprio. É o mesmo argumento que eles usam para dificultar o acesso do cidadão àqueles que elegem, chamando-os de “pessoas comuns”.

A empregada não vai cuspir no próprio almoço. A criança que vê um subalterno ser tratado com dignidade, não vai alimentar a idéia estúpida de que pobre merece pouco e tem que se dar por satisfeito, mentalidade usada para colocar paus-de-arara no lugar dos ônibus, latas de sardinha no lugar do metrô, negligenciar o saneamento básico, desfalcar postos de saúde e toda essa bandalheira. Se o condomínio for dessa “elitezinha” falida que pensa ser do primeiro mundo, mude de endereço.

Aliás, criança não tem que dar ordens aos adultos, sejam quais forem, mesmo os empregados.  Eles têm que obedecer às instruções dos adultos da casa, criança não tem discernimento para interferir nelas. Há quem se estufe de orgulho quando ouve o filho dizer “Tá despedido!” mesmo que a demissão não se concretize. Não, leitores, o petiz não estará aprendendo a ter autoridade, estará aprendendo a ser arrogante, a acreditar que existem pessoas melhores e piores, a ver em gente mais pobre ou “diferente” um objecto a ser usado ao seu bel prazer. Quem manda em adulto é adulto e ponto final. Deve haver regras claras para todos, os pimpolhos devem ser preservados do que não podem se defender e respeitados em sua condição de criança, mas eles precisam respeitar os adultos. Não pensem que hierarquia é cousa de militar, o mundo real é hierárquico, a natureza é inflexivelmente hierárquica.  Em casa não tem que ser diferente. Os pais mandam, os filhos obedecem. Acostumem-nos a isto desde a mais tenra idade. Claro que não espero que isso seja seguido à risca, nem precisa, mas deve ser a regra e não exceção. Não precisa ser rígido, mas deve haver rigor.

Quem aprende a reconhecer autoridade em casa, não vai desacatar ninguém na rua. Com isso não vai precisar de favores de “gente influente” e um elo da corrupção estará quebrado.
Há muito filosofo por aí defendendo os mimos e redoma de cristal em que as crianças têm sido colocadas. Gente que não faz mais do que enfeitar seus discursos prolixos com retóricas cheias de citações de philósophos de verdade. Bem, esse tipo não vai criar o teu filho, não vai corrigi-lo e tampouco visita-lo na cadeia. A vida real, a que funciona, a prática que testa todas as teorias me provou o contrário, a mim e aos professores, profissionais de saúde mental e assistência social com os quais lido. Crianças precisam de carinho, muito carinho, muito colo, muito chamego e brincar de montão, de preferência com os pais e parentes juntos, isso estreita os laços e reduz a sedução dos brinquedos. Mas crianças também precisam de limites, de aprender a assumir actos e responsabilidades, de se preparar para a vida adulta; é esta a função de uma brincadeira.

Quando teu filho tiver discernimento para escolher a roupa que quer, ele escolherá; quando puder pagar por ela, poderá ter a palavra final em todas. Até lá a decisão é dos pais. Pode parecer contramão, mas a liberdade sem critérios que as crianças recebem para escolher o que ganhar, não é verdadeiramente decidida por sua família, é mais imposição de consumo e comodidade ao abrir mão da responsabilidade familiar. Notaram que as propagandas de productos infantis há muitos anos não dão mais a mínima pelota para os pais? Senhora leitora e senhor leitor, quem paga as contas no fim do mês? Quem cuida de agendar escola, médico, compras e tudo mais? Mais uma vez eu digo: Criança precisa aprender a valorizar o trabalho dos pais, a hierarquia interna da casa, as regras internas da casa, porque o mundo lá fora não vai perguntar se eles aprenderam, vai coloca-los directo na linha de produção e punir ao menor deslize. Sofri bullying durante a vida inteira e sei que agressão é sempre reprovável, mas os pais devem ter sangue frio para punir o filho quando se fizer necessário, de preferência no acto da transgressão. Evite-se que seja em público e se dêem o direito de chorarem pelo feito depois, longe dos olhos deles. Se vocês não sabem a diferença entre corrigir e agredir, desculpem-me, mas não estão devidamente preparados para criar um cidadão, contentem-se em ser tios, porque a polícia, meus amigos, bate muito mais forte e com muito mais vontade do que qualquer pai; excetuando-se os trogloditas que deveriam ser esterilizados ainda na puberdade.

Vocês não têm religião? Então acostumem as crianças a freqüentarem lugares calmos e propícios à reflexão com vocês, como o zoológico ou um parque. Eles precisam se acostumar a fazer concessões, como ir a lugares “chatos”, com a família. Quem aprende a fazer concessões desde cedo, aprende também a digerir frustrações e contrariedades que são comuns à rotina de um adulto. Mas depois leve a molecada para se divertir, tem dó! Se tiverem religião, então levem seus filhos consigo à igreja, sinagoga, mesquita, templo, o que for. O caminho que quiserem seguir depois será com eles, a base social já estará formada.

Finalmente: Não minta para as crianças. O que não puderem falar-lhes sem ajuda, peçam que esperem para procurar a resposta e busque quem possa socorrer. Se for algo que não possam compreender no momento, peça ajuda de gente profissional e experiente, mas não minta. A mentira é a filha mais promíscua da corrupção.

3 comentários:

Lilly Rose disse...

Bom dia meu amigo querido,

Nanael, que texto !!! Parabéns!!

Enxerguei muita cousa, que graças aos céus, já fazemos correctamente com nosso miúdo, outras nem tanto...

Mas estamos no caminho certo. Isto é um alívio, pois como dizia minha avó:

"- Esteja sempre presente e atenta, pois miúdos não chegam a este mundo c/manual de instruções".

O que tu escrevestes não é um manual por certo, mas uma constatação muito sagaz e coerente do retrato da educação e seus reflexos p/a vida adulta.

Os pais,(não a escola ou amizades...), serão sempre o primeiro e mais contundente exemplo p/ seus filhos.


Nanael querido, abençoado FDS p/ ti !!!

Aromas de Rosas...

Lilly Rose

Nanael Soubaim disse...

Eu esperava começar essa trilogia em alguns meses, mas começou a sair sem pedir licença.

Lilly Rose disse...

Boa tarde querido Nanael,

Amigo, estou anciosa p/ler a Trilogia completa.

Qdo vem a inspiração, deixemos fluir !!

Beijos e abençoada semana p/ ti!

Aromas de Acácias...

Lilly Rose