14/10/2006

A moça da Baviera

Andava tranqüila pelos campos. Gostava do sol tênue da Europa no rosto, embora a pele não ajudasse. Era muito clara.
Queria uma vida tranqüila e sem pretensões. Se perguntavam onde queria viver, não titubeava, soltava em uma só palavra: bayer. Pessoa de olhar calmo e sereno, não causava espanto em sua resposta.
Jovem e sem medo do trabalho, vivia feliz na terra dos teutões. Gostava de trabalhar, achava que não tinha nada melhor a fazer. Nos momentos de folga ia às feiras e festas, profícuas no berço dos celtas.
Ah, que tempos felizes! Nem mesmo as crises financeiras, a estupidez que lançara o país à recessão abalava sua moral. Se ouvia alguém orando aos céus, pedindo a solução para os problemas que afligiam seu povo, logo intrometia: arbeiten, arbeiten und arbeiten. Um prato por dia, dizia sempre, continuava valendo um dia de sobrevida e poderia ser retirado de qualquer quintal. Se alguém se dispusesse a fazer alguns tijolos em troca de algumas refeições, a economia estaria imediatamente recuperada, sem os melindres dos burocratas.
Ah, que tempos felizes. Lhe arrancava lágrimas ver uma criança tomando uma sopa, após um dia ou dois sem ter direito o que comer. Fosse judia, cigana, cristã, pagã, muçulmana, não importava. Bateu à sua porta, não sai sem suas necessidades satisfeitas. Por tudo isso era popular. Tinha o respeito da comunidade.
Mas no orbe terrestre, a felicidade é efêmera. Por tudo o que disse, tinha também a reprovação dos insanos, daqueles que insistiam em tomar um alvo para descarregar as argruras pelas quais passava apátria do trabalho. Para esses, trabalhar não bastava, era preciso trabalhar contra seus desafetos, ainda que nada lhes tivessem feito.
Ah, que tempos felizes! Essa gente medonha não tinha voz. Ainda que fazendo papagaios com o dinheiro corroído pela inflação, continuava-se a viver. Todos continuavam lutando, se recusando a dar a vitória de bandeja à morte.
Mas no orbe terrestre, a felicidade é efêmera. Veio uma voz em socorro dos insanos, falando a mesma língua, veio de fora, de outro reino. Veio dar uma direção perigosa a uma situação que, mesmo reversível, era tensa. A voz pôs veneno no rio Elba, envenenou a cerveja e todos ficaram surdos. ninguém ouvia senão àquela voz malígna. Então a roda girou ao contrário. Reergueu-se a matéria, mas o espírito ficava cada vez mais doente, delirante. Dormia-se em cama de faquir, acreditando que fosse de plumas, sem sentir o sangue escorrendo, do qual se alimentava a voz malígna.
Oh, que tempos tristes! Precisou abandonar as longas saias bordadas, as mangas bufantes, seu lindo vestido azul... e sua família.
A roda estava girando ao contrário e atropelava aqueles que, só querendo tocar suas vidas, continuavam a andar com o relógio. Era preciso tirar toda essa gente da frente e levar a campos mais seguros.
Foi assim que a moça popular e atraente se tornou subversiva. Pois subverter era, então, fazer o que era certo. Tal qual seus pais lhe ensinavam em sua infância, de educação severa, mas muito amorosa. Quando aprendera as prendas domésticas, o trabalho árduo, a dignidade pelos costumes austeros de seu povo.
A moça de cabelos negros, que rechaçava a fama, era então famosa. A moça prendada, de modos educados, agora corria, saltava e até matava, para não morrer. A moça de vestidos elegantes e pudorosos, via-se obrigada a correr de pernas à mostra, para não ser alcançada, usar as calças que odiava, as botas das quais nem queria saber, até então.
Tornou-se heroína. As vidas que salvou, a esperança que fomentou, a confortável vida na roda maldita que recusou. Seria rica, se quisesse; esposa de altos oficiais, se quisesse; teria empregados, se quisesse; seria heroína da pátria, se quisesse. Mas era heroína dos perseguidos, da pátria corrompida era traidora, maldita, prostituta dos judeus e da raça impura, a que dormia com negros e ciganos e pagava com a vergonha ariana.
Mas que falácia! Não queria ser heroína, nem mártir, nem coisa alguma mais do que era quando a cruz enlouqueceu e retroagiu. Queria a vida que tinha, seu marido, sua família, seu trabalho e seus planos para a velhice. Deixava para chorar quando estava só. No resto do tempo precisava dar esperanças aos que ajudava.
Sua cabeça estava a prêmio. Nenhuma surpresa. Nenhuma ruga de preocupação. Já estava preocupada demais, sua vida se tornara perigosa demais. Era apenas mais um detalhe feio e demoníaco da roda corrompida, que combatia sem nem saber o preço que estava pagando. Tinha a certeza de que se parasse para calcular, choraria em desespero e correria enlouquecida e sem rumo. Apenas trabalhava.
Mas o calo que mais dói sempre tem preferência. A encontraram. Sem escolha, mandou seus tutelados para um lado e correu para o outro, chamando atenção. Sem pensar, apenas atrasando ao máximo os perseguidores. Não sabe se seus tutelados se salvaram, sabe que foi pega. Desnecessário dizer dos abusos que sofreu, da violência maior que cometeram. Mas as ordens eram de levá-la para execução à Berlim, quando capturada. Ninguém mais sabia da captura, então relataram que reagiu, os desarmou e por isso foi estrangulada.
Houve festa pela morte da traidora, a prostituta da sub raça. Mas a roda corrompida cobrou seu preço, e já não havia a heroína a levantar a moral do povo.
Foi-se o corpo, só o corpo.

19/09/2006

Ganha Pouco?

É indiscutível que se ganha pouco no Brasil. Com excessão de poucas profissões, todas remuneram mal e demandam muita dedicação. Resultado: um povo que se acostumou a acreditar que trabalhando não se progride, que só especulando se tem uma chance de fazer o pé-de-meia, ou ainda entrando para a política e lá se perpetuando não importa por que meios. Em parte explica a desconfiança do brasileiro com pessoas ricas, embora quase todos aspirem a nababesca vida que reprovam.
Apesar disso, o brasileiro trabalha mais do que acredita, se esforça mais do que se dá conta é mais honesto do que dá a entender.

Entretanto, temos uns maus exemplos que me fazem pensar se certas pessoas realmente merecem ganhar mais do que um salário mínimo, (hoje, dezenove de Setembro de 2006, valendo R$350,00) ou só ganha isso porque a lei não permite pagar menos.
Hoje, saindo do trabalho, me deparei com uma trilha de panfletos, todos de uma mesma rede de supermercados, a enfeiar a calçada. Meu trabalho fica em uma esquina, no outro extremo ainda vi muitos panfletos jogados.
Eu trabalhei por anos com panfletagem. O modo como aqueles estavam dispostos me levam a crer que o garoto (quase sempre é um garoto) foi tirando as peças do pacote e deixando cair ao chão, uma a uma, andando relativamente rápido.
Concordo plenamente que menos de quinhentos reais não são um ganho decente, mas algumas pessoas fazem questão de causar prejuízos ao empregador. Concordo, pois senti na pele, que andar com um pacote de panfletos e/ou jornais nos braços e/ou a tira-colo, por horas a fio, sob um sol de rachar, acaba com o bom humor de qualquer um. Concordo também que é perigoso fazer comparações, mas neste caso não vejo saída, farei.
No longo período em que eu panfletava, ganhava muito menos do que essa garotada, pois o trabalho não era visto como emprego, mas um bico. As condições eram mais precárias e o dia demorava a passar, parecia que iria dar dezenove horas, mas não daria dezoito. Pois além de totalmente informal, o trabalho também era sazonal. Era muito difícil! Eu remendava os sapatos para que agüentassem até eu receber os honorários. Mas nunca joguei um panfleto sequer no chão, entregava todos, em mãos ou nas caixas de correios. Parava para almoçar, descansava e voltava ao batente. Eu ganhava uma miséria, mas merecia cada centavo que ganhava e mais o que valia meu serviço, pois as pessoas davam retorno, ligavam para anunciar. Sei, alguns vão me chamar de otário e outros adjetivos menos carinhosos. Ouvi isso. Mas dando prejuízo ao patrão eu não ganharia nada, absolutamente nada, e ainda perderia a oportunidade de fazer a próxima distribuição. A miséria que eu ganhava era a única coisa que eu ganhava, se a perdesse estaria frito. Sejam quais forem os motivos, sempre foi muito difícil arranjar um trabalho, como tudo em minha vida sempre foi muito mais difícil do que a média. Mas se escolhesse a desonestidade, ainda que não tivesse uma consciência a me cobrar pelos meus actos, estaria pior. Pelo menos os amigos sabiam que podiam me indicar para um temporário, sem medo de arranhar sua imagem. Aqui cesso as comparações.
Pensemos melhor. Pessoas aprendem com exemplos e não com retóricas. Se tu se comportas assim com teus subordinados, por que eles seriam éticos para contigo? E tu, operário, se és desonesto para com o teu ganha-pão, com que moral vais reivindicar vencimentos melhores? Se a empresa falir, quem vai pagar teu salário? O sindicato? Não. A função dele é melhorar teu padrão de vida, não sustentar tua família, isso é responsabilidade de teu emprego. Quanto melhor se comporta um trabalhador, mais argumentos o sindicato tem, e mais o patrão sente os dias parados. Não se trata de baixar a cabeça para o feitor chicotear ao seu bel prazer, mas simplesmente fazer por merecer não o que se ganha, mas o que se quer ganhar. Noto que esses garotos estão sempre com tênis caros, celulares de última geração e de operadoras caras, sempre a falar de uma "festa" que cobra caro para admitir foliões. Mas na segunda-feita estão a reclamar do emprego, do salário, calçando seus tênis caros e falando ao celular que acabou de sair da loja, mal tendo quitado o anterior. Perdoem esta mente antiquada, mas não consigo ver nexo nesse comportamento.
Vamos combinar uma coisa? Faça teu chefe ter medo de perder tua mão de obra. Quem trabalha bem não só é mais valorizado, como também mais valoriza o que ganha, pois sabe que merece. E tu, se conseguiste chegar até aqui sem soltar impropérios e levantar discursos pseudo-marxistas, também merece.
Uma última consideração: É o trabalho que sustenta a especulação, não o contrário.

03/09/2006

Bom atendimento.

Neste domingo em que está nublando e fazendo sol, como se fosse pique-esconde, fomos às compras do mês. Temos ido sempre ao mesmo super mercado, que não é o mais barato, por uma razão simples: ATENDIMENTO.
A maioria dos estabelecimentos comerciais está cortando custos, na esperança de seduzir o cliente de qualquer jeito, acreditando piamente que cortando uns centavos (às vezes uns poucos reais em um ítem caro) e pondo um artista da moda na propaganda, vai compensar um atendimento apático, não raro antipático, e o mau-humor dos funcionários. Meus caros, acreditem, NÃO COMPENSA. Há muitas lojas que tratam o cidadão como se estivessem fazendo um favor em atendê-lo, como que dizendo "Pobre não merece mordomia". Esses estabelecimentos vêem o consumidor simplesmente como uma nota ambulante de cem reais. Mas tão triste quanto maltratar o cliente é o cliente aceitar ser maltratado. Há gente que aceita, ou as referidas empresas já teriam fechado as portas há tempos, e já teriam ido tarde.
O estabelecimento que freqüentamos fica no Setor Coimbra, e o resto não direi porque seria divulgação comercial, e não é a proposta desta página internáutica, mas o goianiense sabe de quem estou falando e saberá enxergar minhas razões; Quando chegamos e olhamos para um funcionário, ele devolve o olhar com um sorriso e até com um cumprimento; Noutros lugares o funcionário resmunga e vira a cara. Quando pedimos uma informação, logo aparece alguém para oferecê-la, por vezes chamando até o gerente para desvanescer a dúvida; Noutros lugares já vi gente fingindo que não trabalha lá, mesmo estando com o uniforme da firma; Quando não gostamos do comportamento de um funcionário, a gerência é acionada e tudo se resolve rapidamente, sem prejuízo nem mesmo para o funcionário, que entende o recado; Noutros lugares já soube de o gerente rir na cara do consumidor. Quando nos tornamos assíduos, há funcionários que nos cumprimentam pelo primeiro nome e puxam conversa; Noutros lugares simplesmente resmungam e voltam a reclamar do emprego, certos de que dificilmente serão efetivados.
Decerto que o bom estabelecimento não é o único no mundo, mas é um dos raros que jamais deixou o trato com o freguês se deteriorar em nome de "políticas modernas e enxutas de administração" ou qualquer modismo corporativo que valha. No começo era uma mercearia, quando o Coimbra ainda era um grande vazio com poucas casinhas à margem de ruas poeirentas, e Campinas ainda não se dera conta de ter sido engolida pela cidade que ajudou a nascer. Hoje é um estabelecimento de grande porte, com uma estrutura moderna, carrinhos eléctricos para pessoas com dificuldades de locomoção e um público fiel, que não se importa em pagar a pequena diferença para ser bem tratado, porque essa pequena diferença é usada na contractação de gente capaz de fazer essa diferença. A parte social está inclusa no preço. A importância desse detalhe é imensa, pois o pouco que gastamos a mais no caixa, será revertido em menos insegurança no cotidiano, porque se alguém da família está trabalhando, as chances de um parente ser tentado a sair da linha são menores. É uma bola de neve.
Façamos uma força, minha gente, enfrentemos o escorpião que habita o bolso de cada um e paguemos pela qualidade humana. É mais barata do que a etiqueta de poliéster ordinário que muitos lugares usam como único argumento de venda, mas traz benefícios muito maiores, não só para quem compra, mas também para quem nunca pôs os pés naquela vendinha. Ser tratado como gente é uma experiência que muitos ainda não tiveram, seja qual for o motivo, mas depois que se experimenta não se aceita menos.

02/09/2006

Horto Morto?

Para os que não conhecem minha cidade, Goiânia tem um horto. Com o passar dos anos o perímetro urbano foi crescendo e logo o engoliu, hoje ele está na região central, motivo pelo qual o zoológico está de malas prontas para se mudar assim que a nova sede (longe do trânsito) ficar pronta.
Um horto é um lugar para se descansar, repôr as energias e, principalmente, ter boas e sadias horas de lazer. Pena que a prefeitura desdenha essas necessidades. no afã de asfaltar até as copas das árvores, está negligenciando um dos espaços mais tradicionais de Goiânia. Fiquei uns meses sem ir e, hoje, ao retornar, fui tomado por uma tristeza sem dó. Tudo sujo, água empoçada em todos os lugares (olha o Aedes aí, gente!) e as escadarias se deteriorando. No cais dos pedalinhos a cena é desoladora, todo o madeiramento está podre e cheio de buracos, o que me faz dar graças pelos brinquedos serem de fibra-de-vidro, ou já estariam totalmente carcomidos pela corrosão, tamanho o abandono em que se encontram.
Mas a natureza do local parece estar resistindo, ainda que com dificuldades, ao populismo do prefeito. O Lago das Rosas, um dos cartões-postais da cidade, localizado na parte interna do horto, ainda abriga peixes, desde as formas mais larvais até os adultos, de onde presumo que o ciclo da vida ainda está intacto. Testemunhei aves pescadoras mergulhando e emergindo com seu alimento vivo no bico, engolindo-o assim que se estabilizavam na água. Em um canto, um filhote de tartaruga do tamanho de uma mão adulta, com o casco coberto de lodo, descansava placidamente com as narinas de fora da água. Mas não pude admirar por muito tempo, gente estranha, mal encarada e exalando energias hortís estavam se reunindo em um grupinho, no que fui avisado para deixar minha contemplação para outro dia. Se as famílias não freqüentam, outros tipos tomam conta. E que mãe deixaria seu pimpolho, por mais robusto e acostumado aos tombos que este seja, brincar em um lugar onde o tétano se esconde debaixo de tijolos quebrados e lixeiras semi-destruídas? Que casal de namorados conseguiria fazer juras de amor em meio ao "aroma" de urina e fezes que já são comuns em alguns pontos?
Deixo claro que não sou partidarista, tenho até mesmo uma certa ressalva quanto ao Pedro Wilson, prefeito anterior, mas desde que ele saiu não se vê mais uma equipe do Parques-e-Jardins fazendo a manutenção do horto. E aos que não conhecem (ou não se lembram da fase áurea por insufuciência de idade) digo o que é aquele lugar, quando bem cuidado. Nem falo em atenção especial que, aliás, ele merece, apenas manutenção básica e preventiva: O horto é cortado por pistas paralelas de asfalto, cuja beleza é aumentada pelo desnível, sendo as mais internas as mais baixas, além de escadinhas de tijolos em grande número. A paisagem é rica em espécies, principalmente bambuzais com plantas enormes. Há uma espécie de mirante de granito para o lago, várias construções que outrora eram bares bem freqüentados, quadras de esporte, enfim, um pequeno paraíso no centro nervoso da cidade. Daria uma bela receita como locação para comerciais, até mesmo filmes e novelas, pois a exuberância escondida sob o descaso público é incontestável. Daria tomadas de tirar o fôlego. Mas isso não tem importância, asfaltar o longinqüos bairros que brotam a cada dia, com a especulação imobiliária, é preferível a trazer essa gente da peripheria para os muitos imóveis vagos, muitas vezes abandonados que há nas regiões com infra-estrutura pronta. Para quê melhorar o que já se tem, se podemos fazer, ainda que mal-feito, tudo novo em regiões distantes, que demandarão mais transporte, mais e maiores ônibus, mais carros nas ruas, mais combustível, mais energia eléctrica, mais uma aspirina que já estou com a cabeça estourando...
Vi algumas pessoas, ao entrar, mas eram bem poucas e em poucas regiões. A maioria só atravessava, pois o horto é um atalho do Centro para o Setor Oeste, e quase no Setor Coimbra, poupando muita perna e estimulando a caminhada. Saliento que esse não é o único caso, mas é o mais patente.
Abraço, minha gente, que já terminei.

28/08/2006

Palavra de Nanael
Pois bem...
Abaixo, antes que em esqueça, o material que recuperei do blog antigo... ou quase, ainda falta uma coisinha que posto assim que conseguir.
Palavra de Nanael
20 de agosto
Garotas que Dizem Ni
Há uma página que freqüento desde Maio e recomendo.
Não tem efeitos visuais, animações, não baixa arquivos (ao menos não directamente) tampouco está na lista de preferidos das "celebridades". Basicamente, só há textos. Imagens, quando tem, são oriundas de arquivos da rede ou particulares, hospedadas noutros sítios.
Há conflitos, bastante conflitos. Alguém diz bobagem, outro não gosta e bobageia mais ainda, então o primeiro chora e jura que vai embora (Credo, parece moda caipira!), quase sempre se arrepende e volta ao seio de seus amigos foristas.
Mas não é uma terra sem lei, o Don não deixa. O Capo dei Capi põe ordem na bagunça assim que ameaça sair dos trilhos, então todo mundo diz "Bênça, Don. Discupa, tá" e a vida volta ao normal... Err, a vida volta ao que era antes.
Salvo esses pontuais conflitos generalizados, o Fórum do "Garotas" é uma casa virtual, cedida pelas anfitriãs Clarissa, Flávia (que jura ter sido um playmobil na encarnação passada) e Viviana. Salvo no domingo, elas enriquecem os seis dias restantes da semana com seus textos supimpas, os quais são a base das actividades forísticas. Elas também participam do Fórum, mas este é independente. Ao contrário do que muito se vê por aí, Clá, Flá e Vivi não se colocam no centro gravitacional, enfatizam sua alegria pelos foristas caminharem com suas próprias pernas, inclusive criando tópicos novos por conta própria.
Os foristas, por fim, são figuras endêmicas. Sinceros, cruéis por vezes, unidos e cultivadores de uma boa amizade... não raro de uma boa encrenca. Fala-se de tudo e de todos. Quer falar de homem-objecto? Mulher-objecto? Educação dos filhos? Filhos sem educação? Culinária? Filme? Música? Eventos? Fofocar um pouco sobre tua própria vida? GAROTAS QUE DIZEM NI.
Não é uma página para intelectuais-de-escritório, que falam, e falam, e falam pelo simples prazer de discursar. Tampouco se presta aos baixos instintos dos sem-noção de plantão. De vez em quando trazem uma notícia quente, actualmente estamos sacan... Digo, estamos discutindo sobre a campanha política em um tópico feito para isso, sem negligenciar os demais. trata-se de uma página cuja utilidade é fomentar a convivência de pessoas díspares, que com o tempo vêem que não são tão díspares quanto imaginavam. Para tanto não há sectarismo, somos pagãos, ateus, protestantes, evangélicos, católicos, umbandistas, com certeza há algum judeu escondido lá no fundo da sala, ainda meio tímido e o que mais se pensar. Há quem goste de rock, de valsa, de punk, de bolero, de twist, charleston, samba, pagode, chorinho, quem não goste de nada e quem goste de tudo.
Queres ver (ou ler, tanto faz, chato) pessoas que mal se conhecem convivendo harmônicamente? Garotas que Dizem Ni.
Queres ver gente que mesmo após ter se conhecido continua convivendo harmônicamente? Garotas que Dizem Ni.
Queres ver gente espalhada pelo país inteiro (e o resto do globo terrestre) conversando como se fosse uma vizinhança? Garotas que Dizem Ni.
Queres saber porque o Dalai Lama ainda tem tamanha esperança na paz mundial? Garotas que Dizem Ni.
Poderia ficar horas digitando, maltratando meus dedos e ainda assim não falaria o bastante. Então te convido a conhecer nossa casa: http://www.garotasquedizemni.ig.com.br/ .



11 de agosto
Só até a porta
Alguém já viu o Bush de Mercedes-Benz? Merkel de Rolls Royce? Blair de Cadillac? Mas em seus respectivos países. Não? Pois dificilmente veremos isso.
Se houvesse uma licitação, livre concorrência para a compra dos carros oficiais desses líderes, provavelmente algum país asiático ganharia a maioria. Eles sabem disso. Mas também sabem que isso seria um golpe na auto estima de seus povos. Ai de Merkel se ousar um Hyundai em uma recepção a um Chefe de Estado em visita oficial. Isso porque o mercado é uma entidade irracional, precisa dos freios do Estado para não destruir a tudo e, conseqüentemente, a si mesmo. Livre mercado, na assepção da palavra, seria dar livre arbítrio a uma mula, ela não saberia o que fazer com isso, não tem discernimento, só instinto de sobrevivência... e algum afeto por um dono bondoso, é claro.
Agora ao Brasil. Qual o carro do Presidente da República? Não é um Democrata, nem um Joagar, nem um Miura, nem um Santa Matilde, tampouco um Gurgel. É um Holden, por aqui rebatizado como Ômega. É importado. Até a era Sarney usavam-se o bom e velho Landau, mas entrou Collor e, sem qualquer salvaguarda, incentivo ao aprimoramento ou mesmo condicionamento à parceria com os fabricantes nacionais, abriu as importações sem critérios (a ponto de carros populares terem conseguido chegar aqui). Alguns dirão "Mas isso foi óptimo! Modernizou o parque industrial brasileiro, trouxe novidades...". É verdade, até certo ponto. O facto é que enquanto a Casa Branca fez de tudo para salvar a Ford, o governo francês ídem para a Citroën, o Estado nacional virou as costas para uma indústria automobilística que, no início dos anos 1990, já se encontrava em um estágio bastante avançado de sofisticação. Não pela empresa, mas pela identidade nacional um Estado responsável privilegia (por vezes com exclusividade) sua indústria local, dando-lhe metas e estímulos para que se desenvolva a contento.
A IBAP (Indústria Brasileira de Automóveis Presidente) tinha um carro de luxo pronto e acabado, até estava negociando direitos para fabricação de um moderníssimo motor Alfa Romeo, prática comum de troca de tecnologias no mundo inteiro. Fizeram acusações de fraude e embargaram a fábrica, e o Democrata ficou só na promessa. Hoje só há um no mundo inteiro, felizmente ainda no Brasil. Era época da ditadura que, como se sabe, teve o queijo e a faca nas mãos para alavancar o país.
A Gurgel foi a que alçou vôos mais altos. Mas o presidente de então, xenólatra e com patente brasifobia, ignorou por completo a possibilidade de gerar desenvolvimento por meio da inteligência de um brasileiro; na certa acreditava que os importados o fariam. A Gurgel fechou no início dos anos 1990, quem é do ramo ou acompanha de perto o mundo dos automóveis lamenta. Seria bom para o patriotismo equilibrado do cidadão ver o Gurgel Super Mini no serviço público, como carro de entrega de super mercados e ramos diversos.
A Miura também resistiu o quanto pôde. Seus carros, extremamente sofisticados e com muita electrônica embarcada, chegaram a rivalizar em modernidade com qualquer importado de luxo. Mas era sobretaxado, como todos os outros brasileiros ainda o são, e não pôde competir com os estrangeiros.
A Puma dispensa comentários.
A Joagar foi um gol contra de JK, nos anos 1950. Hoje só resta uma picape vermelha da marca.
Não sou contra os importados, seria leviandade questionar a qualidade estrutural de um BMW, mas os nossos não deixavam (e os que restaram ainda não deixam) por menos. O desdém do governo para com as coisas nossas ainda faz nosso povo acreditar que por aqui nada se faz de bom. Os lucros que nossas fabriquetas geram ficam aqui dentro, os lucros generosos que as marcas que perdemos geravam ficavam aqui dentro, os lucros das multinacionais vão para a matriz. O que é justo. Injusto é nossa gente não ter aqui a mesma proteção que eles têm lá, porque o livre comércio chega até a porta de entrada desses países, dela para dentro há regras a se seguir e taxas a se pagar.
Hoje temos novas tentativas: Lobini, Chamonix, Americar, Óbvio!, BRM (esta uma das poucas veteranas a ainda resistir) e outras menores, que honram a tradição de robustez e confiabilidade que sempre caracterizou nossas indústrias sérias. Mas um carrinho popular com mecânica e tudo mais desenvolvidos aqui no Brasil, já não temos.
Sabe de uma coisa? Vou parar por aqui, meu teclado não é à prova d'água.

07 de agosto
Jesus bate à Porta
Há um quadro que mostra Jesus com uma lanterna de azeite, batendo à uma porta. Essa cena me inspirou um drama mais ou menos assim:
A criança está dentro da casa escura, nada podia ver, nada podia ouvir, a não ser insistentes batidas à porta...
- Há alguém lá fora. Está batendo há muito tempo, nem sei quanto.
As batidas seguiam calmamente, insistentemente, em intervalos muito precisos...
- Quem será? O que acontece se eu perguntar?
A criança mesclava medo e curiosidade, até que esta venceu e arriscou...
- Quem está aí? Perguntou esitante.
- Sou eu. Deixe-me entrar.
Uma voz grave e terna invadiu todo o recinto, como que quebrando a estabilidade vigente no ambiente. A criança calou-se por alguns segundos, mas vendo que o contacto se estabelecera, as batidas cessaram...
- "Eu" Quem?
- Sou teu irmão - respondeu a voz de cristal.
- E eu lá tenho irmão? O que você quer?
- Vim te buscar para levá-la à casa de nosso Pai.
- Ué! Pai??? Mas disseram que sou órfã!
- Não, não é. O Pai não abandona seus filhos e eu não negligencio meus irmãos.
- "Irmãos"? Então tem mais?
- Muitos mais, todos ansiosos pelo teu retorno; e eu sou o mais velho.
Um breve instante de silêncio inundou a casa escura. A criança se sentia impelida a abrir a porta, mas também temerosa pelas represálias, caso o fizesse...
- Não posso. Se eu abrir, eles me castigam. Além do mais, já me acostumei. É escuro, às vezes me machuco, mas acontece mesmo; é frio, às vezes adoeço um pouquinho, mas a vida é assim mesmo, não tem jeito.
- Não confunda medo com resignação, e nenhuma prova lhe deve ser imposta além das que o Pai lhe confiar, e tu já venceste todas.
- Mas se eu abrir, eles vão me castigar - Diz já em prantos.
- Nenhum mal te acometerá se vier a mim.
- Promete? Você me protege?
- Prometo.
- Então... Nem sei pra que lado fica a porta!
- Eu te guiarei.
- Você sabe como é aqui dentro??
- Sei de tudo o que se põe no caminho de tua felicidade. Venha, eu te guio.
Jesus guiou a criança com cuidado, pois ela já estava debilitada, de modo a não tropeçar ou ferir-se nos objetos do ambiente. Até que ela encontrou a porta e, seguindo as orientações, girou com cuidado a maçaneta da porta que só se abre por dentro. A porta se abriu. Jesus entrou, com ele entrou mais luz do que o Sol lega à Terra...
- Oi - Disse a criança sem encontrar mais palavras.
- Oi. Vamos para casa.
Assim que Ele a pegou nos braços, as chagas desapareceram, com ela a velha e já inservível casinha que a mantinha cativa. Sua casa agora é o reino infinito de seu Pai.

04 de agosto
Mirtezinha!!!
É notório o esforço dos povos para se livrarem se estigmas, como também é notória a existência de patetas que teimam em alimentá-los.
Na Vigilância Sanitária Municipal de Goiânia (Visa Gyn, para os íntimos) costuma aparecer gente de outras regiões para estabelecer negócios na cidade, a grande maioria se dá bem e não dá problemas, mas vez ou outra aparece um detrator de sua gente.
Certa feita, um paulista chegou à Divisão de Productos Químicos e Pharmacêuticos, o DPQF, para dar entrada nos papéis. A princípio não prestei atenção na proeminência abdominal, no olhar de nojo, nem nas bochechas inchadas do indivíduo, o sotaque denunciava sua origem: São Paulo. A certa altura, a atendente pediu a documentação e ele se recusou:
- Pra quê que você quer meus documentos - perguntou, de nariz empinado?
- Senhor, nós precisamos desses documentos para fazer seu cadastro...
- Quê? Em São Paulo não precisa de nada disso - esbravejou interrompendo minha colega. Quem é você pra exigir meus documentos?
O triste espetáculo, porém, durou pouco. Ele exigiu falar com o chefe da Divisão, e a chefe foi. Mirtes é um anjo de pessoa, mas quando fica brava é pior do que cólica pré menstrual. Lá foi a Mirtes, cenho franzido, boca torcida pela contrariedade, passos falsamente calmos, pediu o lugar à minha colega e encarou o sujeito. E ele falou, e falou, e falou... Até que foi murchando, murchando, murchando... A Mirtes lá, irredutível. Vendo a fera com a qual havia se metido, começou a se explicar e, com a cara mais lambida do mundo soltou:
- Mirtezinha...
- Grrrr!!!
Até onde sei, ele se comportou. Acredito que conseguiu se estabelecer, não acompanhei seu caso, de onde pode-se deduzir que não haviam dificuldades coisa nenhuma. A exemplo de outros, ele fez o jogo do "se colar, colou"... Não colou.
O triste disso é que os paulistas que chegam à Flor do Cerrado costumam dar exemplos de civilidade e disposição ao trabalho árduo. Esse povo não merece ser representado por gente como o da história aqui contada.
Gente do país e doutras regiões do mundo, Goiânia é uma mãe aguardando mais filhos adoptivos.
03 de agosto
Bico de Pena
Bem, caí em desgraça. Criei um blog. Tarde para voltar atrás.
Uma ironia me chama a atenção há décadas: Em épocas eleitorais como esta, todos estão deveras preocupados com as mazelas que assolam a sociedade, mas só param para pensar nelas quando os candidatos começam a matraquear como se fossem gravadores, limitando-se aos discursos decorados, raramente saindo da linha prevista. Assim que eles se calam, cessa-se a indignação, pois a culpa é "do povo", como diz o popular, que se esquece de sua condição de povo. Não vou agir feito uma maritaca a repetir o que muito já se disse: mas tenho que agir diferente. Se quero mudanças, devo mudar primeiro a mim mesmo, para além da revolta (ainda que justa) causada pela indignação.
Por agora é só... e já falei muito

25/08/2006

Apresentando

Venho senhoras, venho senhores, nesta ocasião sem importância, anunciar o meu novo espaço internautico. Aqui se pode ler, se pode comentar, sem a necessidade de cadastros ou quetais nefastos. Em momento oportuno, quando voltar de viagem, posto por cá o que está no antigo lar, que de tão egoísta não deixava meu círculo postar.
Por agora basta, mas advirto, não tardo a voltar, pois o guardião de sua casa não se afasta.