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Alguém quis, alguém fez e ambos
ficaram felizes. |
Em síntese, uma nota é um
título de uma fração da riqueza que um país tem. O valor nominal da nota dá ao
portador o direito de utilizar aquela fração monetária, é isso que o povo chama
de dinheiro. A quantidade desse dinheiro é a base monetária do país. É mais ou
menos como figurinha de álbum. Se o país aumenta essa base monetária sem
aumento correspondente do valor que ela representa, cada unidade de dinheiro
passa a representar uma fração menor da riqueza que o país detém. Por exemplo,
se para um certo tesouro forem emitidos mil bônus, cada bônus valerá um
milésimo do que aquele tesouro pode comprar, e isso não é constante, o valor
varia com o tempo e o humor das pessoas. Se forem emitidos mais bônus sem ter
havido aumento de demanda ou de lastro desse tesouro, em pouco tempo o valor
desses bônus cairá proporcionalmente ou mais, porque a confiança das pessoas
pesa no valor de troca, e um Estado que não controla a contento suas finanças
não é confiável. O oposto, aumento do valor sem emitir notas, tem efeito
contrário. Assim como uma figurinha tem mais valor quanto mais rara e demandada
for. Sim, a lei da procura e da oferta também vale para as cédulas de dinheiro
do seu bolso, é por isso que o Dólar ainda manda, e no que depender do
assistencialismo europeu e sul-americano, vai mandar por muito tempo.
Ou seja, aumentar a base monetária, no nosso caso imprimir mais Reais,
não aumenta o valor do tesouro que o Banco Central guarda, é assim que um
governo produz inflação; endividamento é outra causa, mas demanda aumento da
base monetária, então dá no mesmo e tanto pior quanto menos controle se tiver
dessa dívida; a nossa, transferida do FMI para bancos nacionais amigos do então
governo, saltou de 4,5% para 19% de juros ao ano. Quando um preço sobe por alta
de demanda ou de custos, cedo ou tarde ele volta ao normal, porque foi causado
por um evento e isso passa, mas o aumento de preços por emissão de dinheiro é
muito mais complicado e perene, aqui o problema é na base, é a raiz do
mal. A oferta vai pela própria necessidade de sobrevivência, e o apelo
sedutor a quem ainda não estiver no negócio, aumentar até emparelhar e
estabilizar com a demanda, nisso o preço já terá caído. Por conta de haver mais
pessoas oferecendo, novas técnicas mais eficientes podem surgir e não raro o
poder de compra fica até maior do que antes; é por isso que monopólios e
oligarquias são tão nocivos à economia popular, e é o que temos no Brasil.
Ao contrário do livre mercado, alcunhado de "capitalismo" por quem
nunca entendeu como ele funciona, monopólios e oligarquias evitam ao máximo
qualquer inovação para manter seus custos o mais baixos possível, não para que
mais gente possa ter acesso, mas para que a diferença entre o investimento e a
receita seja a maior possível. Sim, em qualquer empresa o objectivo é controlar
os custos e majorar os lucros, até para atrair mais investimentos, mas quando o
mercado é livre ele tem seus pares concorrendo e aproveitando qualquer
estupidez para tomar um naco de sua clientela. Quem tem menos de quarenta anos,
não se lembra de quando todos os serviços públicos no Brasil eram monopólios
estatais, e ainda temos muito disso. O caso clássico da linha telephônica
custando mais do que um carro, não é lenda urbana, havia até prósperas bolsas de
valores de números telephônicos! Algumas pessoas tinham mais de uma linha e
simplesmente as alugavam, podiam viver disso. O resultado é que cobravam o
preço que queriam e então realmente poucas pessoas tinham uma linha em casa.
O que temos é um oligopólio de telephonia e internet, só trabalha quem o
governo deixa e como deixa, por meio das concessões licitadas, e mesmo assim
essa abertura neoliberal, ao contrário do que os sindicatos diziam,
democratizou e popularizou o telephone no Brasil, qualquer um hoje tem um
celular com acesso à internet; imaginem se fosse realmente livre, com empresas
capacitadas podendo oferecer seus serviços a qualquer um em qualquer lugar.
Assim como as notas, nos limites da viabilidade da empresa, o aumento brutal da
oferta não só barateou muito os preços a ponto de até o sistema pré-pago ter
sido viabilizado, como abriu um mercado de trabalho gigantesco que simplesmente
não existia no país. Tenham em mente uma coisa, o Estado nunca produziu
nada, até porque seu mote é administrar um território, e sempre que tenta se
meter na produção, dá com os burros n'água. Claro que a conta desse insucesso
não vai para o burocrata que errou, mas para a população, inclusive os
indivíduos que nunca usufruíram da empreitada. No fim das contas, o Estado se
faz de bom com o dinheiro que tirou da sua mesa. Se ele fabricasse riquezas,
não precisaria do povo e de cobrar-lhe impostos. Quando uma empresa erra ela
quebra, quando um governo erra ele cobra.
Quando um indivíduo entra para uma empresa, ele entra com seu tempo e seu talento. O prédio da empresa já estava lá, o maquinário já estava lá, a matéria-prima já estava nos depósitos, as encomendas já estavam feitas, a logística já estava planejada e o producto que o consumidor queria comprar já estava com os investimentos necessários totalmente comprometidos; nada foi tomado à força do operário, que no fim do mês terá seu salário depositado conforme foi combinado. O que o patrão faz? Ele é o cérebro da companhia, não fica sentado fumando charutos enquanto os outros trabalham. Ou seja, a conversa de "mais valia" é uma lorota inventada por quem jamais saiu de sua bolha, sequer sabia o quanto custavam os livros que não estudou direito. Não estou dizendo que o patrão é um sujeito bom e agradável, ninguém o é só por isso, assim como o operário não o é só por se dar bem com os colegas; uma coisa é independente da outra. Julgar o caráter de alguém por sua profissão, situação financeira ou qualquer outro critério que não sejam suas atitudes, é preconceito. E "classe", pelo exposto, é casta; eu não acredito em castas. Mercado é, em resumo, a relação entre quem fornece e quem demanda.
Uma crítica ao livre mercado é que ele incentivaria o egoísmo, como se
isso não existisse previamente, quando surgiram os primeiros micro-organismos
na Terra, que disputavam os nutrientes sem se importar se o outro ficaria sem e
pereceria. Importar-se com o outro é raridade no mundo animal, e virtualmente
inexiste nos outros reinos. Fora da esphera humana, agir por interesse bruto é
a regra, ainda que as lentes dos documentaristas só mostrem o momento em que o
elefante parte para cima do leão que estava prestes a atacar a zebra. Ela, a
zebra, é a primeira linha de defesa para os filhotes de elefante, enquanto
estiver por perto, interessa ao elefante que ela esteja viva e saudável. Só
quem ensaia compadecência desinteressada é o ser humano, nenhum outro animal
deixa alimento no ninho de outro e sai sem esperar por gratidão. Em geral,
contrariando quem não sai de suas bolhas, as pessoas gostam sim de ver os
outros crescerem e ajudam como podem, na maioria das vezes o que um indivíduo
pode fazer é caridade, quase sempre anônima, nada no livre mercado impede isso.
O que o Estado faz é dar esmolas tiradas à força de quem produziu algo,
cobrando lealdade de quem a recebe.
E não, o livre mercado não é perfeito, tem muita instabilidade e ainda não aprendemos a lidar totalmente com elas, mas é o melhor que temos. O outro lado promete uma estabilidade forçada que distribuiria prosperidade a todos, mas só fez concentrar os recursos nas mãos de uns poucos membros do governo que não tolera ser questionado, que é o Estado absoluto, enquanto o restante da população padece misérias que a imprensa local é proibida de mostrar; nada mais egoísta do que isso. Há de aparecer algo melhor, mas não será pelas mãos da arrogância positivista de quem odeia a humanidade, mas não abre mão dos prazeres da civilização. A teoria, na prática, é outra.