28/05/2011

O cartão de crédito

Meio por cento de desconto no cartão da loja!!!
Surgiu graças à popularização do automóvel nos Estados Unidos, sendo então Henry Ford o padrinho da encrenca. O Ford T, que em suas primeiras versões atingiam incríveis 55km/h, tornou mais fácil ao cidadão médio viajar, cobrindo em poucas horas distâncias que uma carroça percorria em um dia inteiro, se o cavalo não se cansasse. Isto em um país onde já era comum ver Cadillacs, Buicks, Oldsmobiles, Packards, Willys e outras marcas quase desconhecidas no Brasil, algumas das quais jamais chegaram por aqui. Restam poucas das mais de quatro mil que aquele país já teve. A segunda geração do T já excedia 70km/h.

Com tamanha facilidade de mobilidade, e o afã do americano por viagens, o cartão de crédito tornou-se um avalista que dispensava os riscos de se carregar grandes somas em dinheiro, ou grandes volumes de cheques pra cima e para baixo, em estradas que ainda eram novidades para o cidadão comum, mas bastante conhecidas por gatunos.

No Brasil, que vivei décadas de atraso e ainda hoje vê lá fora o que demorará a aportar seu território, o cidadão comum se deslumbrou com o cartão de crédito. Afinal ele vê o cartãozinho de plástico indo e voltando da maquininha, sem enxergar seu suado salário de trabalhador honesto indo embora.
O que antes era símbolo de status, hoje é oferecido nas ruas, por abordagens de garotos que ganham por productividade, que usam discursos sob medida para a gente de baixa renda, fazendo parecer que o cartão de crédito é uma renda extra. Não é à toa que a maioria de nós está endividada até o pescoço.
A malandragem nem vem dos garotos, que estão tentando defender seu primeiro dinheirinho, talvez o único da casa. A malandragem é dos bancos e financeiras, que administram tudo, pagam uma miséria e usam de um legalismo frio para justificar o que fazem.

Provavelmente sou excessão, mas eu jamais tive problema nenhum com cartão de crédito. Tenho dois, do meu banco, que me deu um limite quase 400% maior do que meus vencimentos, em cada um. É, vocês já caíram nesta arapuca, né! Não sei o que vocês, maiores de idade e vacinados, fazem para se enrolar nessa fita adesiva que está em suas mãos, não nas do banco, embora ele incentive o desenrolar descompromissado do rolo. Eu sigo algumas regras simples e gratuitas:
  • Faço as contas diariamente do que já gastei e do que ainda posso gastas, que é bem pouco. Subtraindo as despesas da casa,  tenho em mãos os valores que posso consumir até sair o pagamento;
  • As prestações podem caber no orçamento, e daí? Quantas mais eu tenho que também couberam no orçamento? Juntando todas elas, será que ainda cabem no meu orçamento, sem comprometer o da casa? De onde vem...
  • Já tem dois cartões, que asseguram poder comprar em qualquer estabelecimento? Queres outro para quê? Exibir à vizinhança o teu poder de apertar o nó da forca? Recuse educadamente, mas com firmeza qualquer tentativa de te darem novos cartões. Facilidades que as lojas oferecem nas primeiras compras são cantos de sereias, te levam a naufragar ao menor descuido;
  • A casa é, bem ou mal, o teu refúgio e o teu amparo no fim do dia. O cartão de crédito pode te tirar dela, se seu uso não for domesticado. Então, primeiro vejas a manutenção da casa, depois, se sobrar, teus mimos. Bar, "balada", cinema e outros quetais são mimos, eles não te dão nada, só consomem;
  • O banco geralmente não tem dono, quase sempre tem um ceo que deve satisfações a pessoas que talvez nem saiba ao certo quem são, neste caso são especuladores que estão se lixando para a origem do dinheiro e os métodos para conseguí-lo. Jamais esqueça-se disso;
  • Guarde sempre todas as notinhas que saírem da máquina de fatura, todas mesmo. Organize-as por cartão e ressome tudo a cada notinha nova. A maioria de vocês se surpreenderá com o quanto realmente custam aqueles lanchezinhos baratinhos no cinema;
  • Parcelamento de fatura tem regras próprias: Parente em hospital particular, já que a saúde pública inexiste, e o plano de saúde mostrou o monstro que realmente é. Neste caso (e emergências similares) sim, vale à pena ir conversar com teu gerente, explicar a situação e fazer um empréstimo a juros camaradas para quitar tudo, sai mais barato e te dá boa fama na operadora. Neste caso sim, o cartão de crédito é um anjo da guarda, pois salva o que o dinheiro não compra... E ainda servirá de prova processual contra o plano de saúde;
  • Compras pela internet obedecem duas regras: Ou eu conheço quem está vendendo e posso ir até lá tirar satisfações, ou o endereço do site deve começar com "https", "S" de security. Se não preencher uma destas exigências, perdeu a venda para mim. De preferência deve ter ambos;
  • Guardo tos comprovantes, nos envelopes de suas respectivas faturas, por pelo menos um ano. Isto garante que ninguém me fará cobranças indevidas;
  • Tens filhos? Eles querem cartões de crédito? Para quê? Se exibires para amigos de horas alegres? Quando tiverem idade e renda para sustentar um, que solicitem os seus. Dar cartão para uma criança sem a devida educação financeira é suicídio. Não só porque gastam sem se importar com quem pagará, mas também porque são alvos mais fáceis de meliantes. Há cartões fofinhos no mercado (como este) que constituem uma tentação a mais. Prefira pecar pelo excesso do que pela falta de cuidado;
  • Meus cartões  vencem no mesmo dia. Não há um terceiro que vence mais adiante, para criar a ilusão de que ainda tenho recursos que na verdade não existem. Vencem no mesmo dia e neste são pagos sem delongas. Ou vocês acham que o banco aumentaria o limite de um inadimplente?
  • O cartão é de crédito, não de renda. Ele é um fiador, ele diz ao comerciante que pagará a dívida se tu não o fizeres, é por isso que te manda a fatura. cartão de renda é do Bolsa Família, ou o famigerado cartão corporativo, que o governo conseguiu corromper com uma facilidade imensa!
Meus cartões tornaram-se meus contadores particulares de bolso. Por eles eu controlo todas as minhas despesas e tenho todos os comprovantes no acto de cada pagamento. O que sai no papel termossensível da impressora não é um comprovante de recebimento, é um atestado da dívida que terei que pagar. Por isso os cartões sem chip precisam da tua assinatura, é para que reconheças e assumas o ônus de tuas compras.

Em caso de aperto, de desemprego e similares, vá à operadora (ou teu gerente) e negocie. Eles sabem que não adianta tentar tirar leite de pedra; isto Moisés fez, por extrema necessidade e urgência, e não deu a receita para ninguém.

2 comentários:

Denize disse...

destes uma lição de economia e lucidez...aprendi a duras penas que limite altissimo em cartão de crédito para quem não tem renda para suprir, é a maior roubada. Pago por isso até hj!!!!

Nanael Soubaim disse...

Que bom que aprendeste. Muitos se enroscam na meada até cortarem-lhe o crédito.