06/03/2010

Do interesse estrangeiro pelo nosso etanol


Três cigarros já viraram cinzas, os sapatos já apresentam desgaste no solado e o terno já apresenta amarrotados. Cinco minutos frenéticos indo de um lado para o outro da sala, sobre o piso de mármore, de um edifício construído quando todos pensavam que duraria para sempre. Chega o outro com o palm-top em uma mão e a outra na testa...

- E então?

- Xisto betuminoso.

- Puts que @#**O=X!!! E a prospecção que fizemos?

- Tinha petróleo puro, sim, mas agora vemos que era só uma camada. Em um ou dois anos vamos ter que extrair xisto betuminoso.

- Mas a extração dele é absurdamente cara! Teremos que colocar filtros até nos sanitários do refeitório!

- Calma, nem tudo está perdido. Há alternativas.

- Mas até lá o mundo fica parado? Motores à etanol, de facto, só há no Brasil. Os aviões ainda usam querosene, os navios ainda usam diesel, as locomotivas ainda queimam petróleo! Vai ser o caos!

- Talvez não. E já que tocou no Brasil, é lá mesmo que teremos a solução.

- A produção deles mal dá para o consumo interno.

- Hoje. Acontece que há pesquisas em fase final para aumento da productividade, e também para a extração de biocombustível de outras plantas, sem afetar a produção de alimentos.

- Como?

- Enquanto o povo se lamenta com as tragédias e se entorpece com programas masturbatórios, os cientistas ficam sem cobertura decente. Já entrei em contacto com pesquisadores e detentores de patentes, que ainda não conseguiram, colocar suas idéias em prática. Já há até mesmo pesquisas para extrair diesel da cana. Sem enxofre, sem particulados, sem hidrocarbonetos, nada. Limpinho.

- Mesmo? Legal, mas isso ainda demanda algum tempo e os nossos custos começaram a subir muito.

- Outra vantagem, uma das pesquisas usa o etanol para acelerar o refino do petróleo, especialmente o de óleos pesados, que ficam até menos poluentes.

- Aleluia!!!

- Eu já mandei vir um navio alcooleiro para fazermos um teste, mas o que a nossa agente viu e comprovou deixou até mesmo ela empolgada.

- Heim? Fräulein Geladeira ficou empolgada? Aquela mulher não se empolgaria nem com a ressurreição da mãe!

- Quer levar outra surra? Acha mesmo que alguém não se interessar por você é sinal de frigidez?

- Nem por mim nem por ninguém. Tá, vou maneirar e poupar outro implante dentário. Continua com a do navio.

- Chega na próxima quarta-feira, já separei uma porção de petróleo com xisto betuminoso para repetirmos o teste que ela fez. Teremos um aumento de custos por barril, mas evitaremos um prejuízo maior.

Fräulein Schroeder entra em seu impecável tailleur chanel, alá Audrey Hepburn. Entrega-lhes uma apostila que fez por conta própria...

- Eu não gosto de esperar o que não precisa. Fiz no Brasil mesmo um teste mais amplo e testei em máquinas e veículos dos nativos.

- Muito bom!!! Você usou quantidades bem pequenas de etanol.

- Estive pensando uma coisa... Por que esperar? Como a nossa colaboradora disse, não precisamos esperar o que não precisa esperar. As empresas do ramo no Brasil ainda são baratas, desorganizadas, com sindicatos medíocres. Podemos começar a ganhar com esse ramo desde já.

- De quebra subsidiamos nossos custos, para evitar protestos mais violentos.

- Fräulein, busque os amigos que fez e faça a oferta.

- Eu já fiz. Já sou dona de usinas.

Os dois desabam no sofá. Por mais vigilância que puderam colocar, ela lhes passou a perna e agora está em vantagem na negociação. Mas não há tempo para xingar a moça e depois saírem em uma ambulância para a emergência, tratam de adular e explicar a situação...

- Os únicos amigos que consegui fazer em minha vida são aqueles brasileiros. Vão poder trabalhar e ganhar à vontade com eles, mas haverá limites.

Se olham. Olham para a planilha no palm-top. Pensam nos lucros que terão com o pioneirismo, dão de ombros e voltam a sorrir. Negociam com ela ali mesmo e assinam o protocolo, para dar origem ao contracto. Ela sai leve e elegante para voltar ao Brasil e ampliar sua rede, falando cara a cara para ganhar a confiança dos brasileiros...

- Somos um bando de chorões mesmo! A solução logo ali, do outro lado do Atlântico, e a gente se desesperando.

- E por um precinho camarada. Acha que devemos mudar o nome da corporação?

- Bobagem. Nós trabalhamos com energia, o petróleo era apenas a mais barata e abundante. Agora vamos plantar cana, mamona, erguer geradores eólicos, geradores marítimos, enfim. A vida continua depois do petróleo.

- Vamos contar para os outros?

- Sim, claro... Depois que a bomba estourar e já estivermos firmes no mercado.

Gargalham como há décadas não o faziam, afinal estão salvos. Transferirão aos poucos as suas actividades para o Brasil, aproveitarão para financiar também pesquisas de baterias e nanocapacitores para uso automotivo. Afinal, a situação petrolífera é muito pior do que os jornais anunciam, mas se soltarem as matérias antes da solução efetivada... Nem querem pensar da calamidade que o pânico vai gerar.

4 comentários:

Newdelia disse...

Como comentar um texto de um 'expert'? Mas, enfim, sempre abocanham nossas riquezas e ficamos lambendo os beiços.

Bom final de semana e que descanse bastante.
Beijos doces em você.

Nanael Soubaim disse...

Longe de ser um expert, sou bem informado como todo cidadão mediano deveria ser. Abraços.

goiano disse...

manoel obrigado pelas visitas no meu blog sempre que posso estou por aqui bração e muita felicidade junto aos teus

Adriane Schroeder disse...

Querido, adoro quando você usa a Fraulein Schroeder.
Po que será?
:-*