07/06/2009

Sou republicano, mas...


Tenho um viés monarquista. Deixo claro que sou infinitamente democrata, que ninguém deve ser punido por causa daquilo em que acredita e pensa, que até mesmo os adoradores de imbecilidades televisivas têm o direito de aniquilarem seus neurônios.

Mas eu não me constrangeria em chamar alguém de Majestade. Da mesma forma como não me importo em chamar o presidente de Excelência, se bem que por este tratamento um monte viraria as cabeças, pensando ser consigo.

Quando se deu aquele plebiscito mal feito, mal divulgado e mal esclarecido, votei na república presidencialista. Eu já tinha esta tendência, mas alguns factores pesaram a mais na minha decisão. tanto parlamentaristas quanto monarquistas (seja por decurso de tempo ou o que for) não apresentaram argumentos plausíveis para me convencer. Ambos vendiam suas idéias como a salvação da pátria, exemplificando países onde há monarquias e repúblicas parlamentaristas com elevados padrões de vida, segurança, estabilidade social e boas tradições. Não explicavam, entretanto, como essas idéias poderiam ser aplicadas por cá com o mesmo desempenho, assim como não fizeram menção aos países monarquistas e/ou parlamentaristas que estão em situação bem pior do que a nossa, ou são ditaduras sangrentas. A China, ainda que tendo um presidente, este é eleito pelo partido comunista, na prática é um tipo de parlamentarismo da pior espécie.

Também se esqueceram de citar que temos na América uma república (ainda que muito estranha) que é o país mais rico e poderoso de todos os tempos, gostemos ou não é o cérebro do planeta. Tá, um cérebro dando curto, mas ainda um cérebro.

Não acredito que não tivessem melhor argumentação, acredito piamente que muitos dos integrantes pró mudanças tinham, mas não foram ouvidos nem receberam canais para divulgação adequada. Quando digo "adequada" me refiro a recursos materiais, monetários e midiáticos para que as pessoas digam os motivos que as convenceram a aceitar esta ou aquela idéia. Ninguém me disse porque acreditava que um rei e um primeiro ministro juntos fariam o que os presidentes não fizeram até então. Só me disseram que fariam e ponto final.

Outro problema é que houve debate demais e esclarecimento de menos. Debates se fazem entre pessoas que conhecem um mínimo do assunto, sem o quê o debate se torna uma aula bastante tendenciosa. Para debater, a população deveria estar a par do que é cada sistema e forma de governo. Mas quantos brasileiros se lembram de que já fomos uma monarquia? Quantos, pior ainda, se lembram de que já fomos parlamentaristas? Os motivos para que sejamos uma república presidencialista, então, nem pensar.

Entre correr o risco de dar com os burros em águas desconhecidas, e o de dar com os burros em águas onde sabemos onde estão as pedras, o povo não teve dúvidas, continuamos elegendo um presidente a cada quatro anos, que traz um vice na mochila e um presidente do senado para substituir a ambos, em último caso.

Digo isso porque as propagandas pela continuação do presidencialismo também foram podres. Qualquer pessoa minimamente bem informada sabe que ninguém fica de joelhos diante do rei Carl XVI Gustav. Se houvesse uma quarta opção plausível, os presidencialistas teriam me convencido a dar um pé no traseiro do presidente.

Tudo esclarecido, explico que não sou "Conservador" na acepção prejorativa da palavra. Tenho a mente bastante aberta, mas esta abertura tem o filtro do bom senso e da ciência gregária. Sei que uma boa tradição, se bem enraizada, pode sustentar um povo nos momentos mais dolorosos, como sustentou os ingleses durante os bombardeios nazistas, e reergueu os japoneses após a guerra. Humildade faz parte da educação de um rei nos dias de hoje.

Me agradaria saber que ao menos uma pessoa responderia a vida inteira pelo país, não haveria a desculpa de responsabilizar o antecessor pelas cacas espalhadas. Não me importo que uma pessoa tenha poderes perpétuos, não me interessa que esta pessoa pense diferente de mim. Minhas preocupações são com o povo, este sim é a nação. Os judeus só há menos de cem anos têm um território, mas sempre foram uma nação. É notório o cuidado com que cultivam suas tradições e (embora haja os chatos) estas não impedem que gerem pesquisas e tecnologias novas, algumas de ponta. Pelo contrário, é para preservá-las que este povo abençoado (excluamos a politicália que gera os atritos fronteiriços) se esmera em encontrar soluções novas para os problemas, que nunca são exactamente os mesmos ao longo dos anos. O universo muda o tempo todo, as boas tradições ensinam isto.

Entretanto, ao contrário do que aconteceu ao longo dos séculos, tenho a convicção de que realeza e nobreza têm uma obrigação básica e vital para com a plebe: dar o bom exemplo. Sempre. Erguer palácios, estradas, pontes, conquistar territórios e aparecer bem nas capas de revistas fazem um rei entrar para a história, mas não ajudam a instruir o povo. Reconheçamos que bons exemplos a nossa república nunca deu. Um bom exemplo vindo de cima se reflete rapidamente na base.

Aliás, a experiência republicana na América Latina não é das mais felizes. Desde ditadores que juraram estar defendendo a democracia contra os comunistas, até malucos jogando seu país em pandarecos numa guerra contra uma super potência mundial, tivemos de tudo. Quando um presidente entrava, qual a sua primeira providência? Lembram? Não? Eu me lembro: desmanchar e abandonar tudo o que o antecessor fez, não interessa o quanto estivesse beneficiando a população, o governo anterior deveria ser esquecido ou odiado. O que um rei faria? Culpar seu pai, sob o risco de ganhar uma surra da rainha mãe? Ele teria que baixar a cabeça para as besteiras feitas e tentar consertá-las. Seria uma pessoa que (não importa a profissão que escolhesse, esta poderia ser livre) seria preparada durante toda a juventude para representar o país, ao contrário de parlamentares que compraram seus diplomas e propõe leis que desafiam a própria constituição, quando não as leis da física.

Digo mais, acredito que as monarquias se tornarão mais populares, doravante, porque representam uma estabilidade que falta na vida comum, assim como na vida corporativa das empresas. Por mais aventureira que seja uma pessoa, ela precisa de alguma estabilidade, ainda que meramente de referência. Hoje sabemos que a gravidade puxa para o centro, não para baixo, mas foi uma mera mudança de conceito, a essência continua a mesma: se afastar requer energia, se aproximar poupa energia. Ou seja, até para a subsistência global existe ao menos uma referência confiável. E quem confia, em são consciência, em políticos?

O presidente, por melhor, mais "honesto" e competente que seja, é um político e está comprometido com seus partidaristas, em menor ou maior grau. Isto nós sabemos de cor.

Não quero, com este texto, deflagrar uma campanha ou movimento pela restituição da monarquia no Brasil. Só repito: A monarquia será um modo cada vez mais popular. Em meio a celebridades fabricadas, mais falsas do que frutas de cera, uma princesa tem um motivo para ser célebre, ela deve alguma mínima satisfação de seus actos e palavras, ela precisa de conteúdo. Um dia os artistas fabricados não saciarão mais a população, que então se voltará para quem jamais perdeu a majestade, os artistas realmente talentosos e a nobreza.

3 comentários:

Lívia Hartmann disse...

Olá, obrigado pela visita e pelo comentário, volte sempre!
Ah! E a Rachel Bilson é muito esperta, garota de habilidade, eu adoro ela, sou muito fã dela como pessoa e como atriz, depois da pesquisa deste post passei a ficar mais fã ainda dela como estilista e editora, hehe!
até mais!

Nanael Soubaim disse...

Isso aí, broto :)

umbelarte disse...

è isso ai