As concessionárias economizam com estoque, com a baixa oferta de cores, por isso mesmo não estimulam a população a escolher cores. O povo, por sua vez, fica com medo de na hora da revenda, ficar difícil passar o possante para frente. Deixam de comprar o que gostam para agradar aos outros. A argumentação de que há cores mais fáceis de vender cai por terra, quando se analisa seriamente o mundo dos carros usados.
No meu tempo, não havia tanta exigência estética na compra de um usado. Primeiro porque compra um carro usado quem precisa, se pudesse compraria um novo e escolheria desde a cor até os acessórios da loja autorizada; Segundo porque ninguém tem os mesmos gostos que os outros, por mais predominantes que sejam. Se olhavam a estrutura e a mecânica, nem sempre a cor decidia a compra. Nem todos gostam realmente de cores sóbrias, a prova é o sucesso de vendas do Ecosport, que oferece tons de amarelo e vermelho dignos dos anos 1970, bem como as picapes grandes, como a F250 e as mais arrojadas, como a L200.
Na verdade, perguntando às pessoas que compram carros usados em tons de cinza, preto, branco ou prata, vi que elas também têm muito medo de ser difícil passar o carro para frente, mais tarde. Há, nas redondezas do meu bairro, uma F250 laranja-tô-podendo, não bastando o tamanho, o carro é visível a quilômetros, mesmo de noite.
Notaram? Não é gosto, é medo de rejeição. Neste caso é psicologia agravada pela economia. As pessoas não compram o que gostam porque alguém (quase sempre garageiro) pode usar o mito instalado para depreciar o carro. Os ladrões agradecem.
Os carros estão todos muito iguais, com essa monotonia cromática fica fácil roubar um e escondê-lo no próprio trânsito pesado das metrópoles. Ninguém tenta roubar um Opala SS 1975, simplesmente porque os tons que oferecia (principalmente aquele verde escandaloso) o destacavam no trânsito por mais cores que os outros carros tivessem. E eram muitas cores, era praticamente impossível confundir dois carros na multidão rodante, a não ser que fossem duas Kombis dos correios.
Ah, a Kombi. Lembro que ela já teve um leque muito bom de cores, inclusive contou, por muitos anos, com a charmosa pintura saia-e-blusa, com a parte acima da linha da cintura branca e a de baixo em outra cor qualquer, como vermelho, azul ou verde. Hoje só sai branca, alegam que para reduzir custos. Mas não dava para oferecer cores opcionais? Eu conheço mecânica industrial, sei que é possível, muito mais questão de vontade que de técnica ou economia. Mas não é a primeira besteira daquela que já foi minha montadora preferida.
Ah, a Kombi. Lembro que ela já teve um leque muito bom de cores, inclusive contou, por muitos anos, com a charmosa pintura saia-e-blusa, com a parte acima da linha da cintura branca e a de baixo em outra cor qualquer, como vermelho, azul ou verde. Hoje só sai branca, alegam que para reduzir custos. Mas não dava para oferecer cores opcionais? Eu conheço mecânica industrial, sei que é possível, muito mais questão de vontade que de técnica ou economia. Mas não é a primeira besteira daquela que já foi minha montadora preferida.
Não que eu escolhesse uma combinação de roxo e vermelho escarlate, se fosse comprar um carro novo, mas um azul celeste intenso eu compraria.
Aliás, as seguradoras parecem ainda não ter notado o tamanho da seriedade: É muito fácil esconder um carro no trânsito. Se um ladrão tiver que escolher entre um Ecosport amarelo e um dourado-esmaecido, o segundo será candidato a virar clone. É muito fácil. Cores que o mitológico mercado (que não passa de multidão, multidão não raciocina) compra em excesso facilita a vida do meliante, dificultando a recuperação e tornando o carro uma escolha mais óbvia. Porque não se oferece um dourado vivo, mas tons esmaecidos ou sombrios de dourado, o mesmo valendo para a prata. São tons muito parecidos e muitíssimo fáceis de confundir com outros. Imaginem o cidadão chegando à seguradora e ouvindo "Cinza? Bem, então há um acréscimo de 5% na franquia". Asseguro que um saia-e-blusa vermelho e branco é tão ou mais sóbrio que as cores tristes tão em voga, mas muito mais difícil de esconder, seja no trânsito, seja em uma vila da peripheria.
Quem dera fosse só (?) com os automóveis. Hoje as pessoas acham prejorativamente brega ter um liquidificador azul na cozinha, pior ainda se toda esta for colorida. Tudo tem que ser branco, cinza ou preto. Meu, a cozinha é o coração da casa! Se o coração da casa é sombrio e triste, que dirá o resto? Nem panos de prato bem bordados são admitidos, porque não se acha chique. Desculpem, mas sou do tempo em que chique era ser sem fazer força, sem querer seguir modas ou (muito menos) agradar aos outros. Se a questão é ser "chique", sigamos o exemplo da Rolls Royce, que oferece a cor que o cliente escolher, seja ela qual for e em que combinação for.
Alguém pode argumentar que o mundo está sombrio, que a sociedade está sombria e que o "mercado" só reflete as tendências. Repito então: Não existe mercado. Existem multidões que, como tais, não raciocinam, portanto também não se regulam, ficando à mercê de qualquer espertalhão que saiba vender suas idéias, sejam quais forem. Multidões não raciocinam, portanto também não escolhem, simplesmente seguem. O mundo e a sociedade são as pessoas, os indivíduos; eu, tu, ele, nós, vós, eles. Cada um de nós, não um ser sobre humano e intangível. De cada um de nós, eu não aderi a essa histeria pré fabricada.
Se começam a aparecer pedidos de ventiladores verdes, carros lilazes, armários de aço azuis, eles serão fabricados, no mínimo como opcionais, dependendo da demanda, esta que depende de cada um de nós.
Houve uma tentativa, nos anos 1980, de resistir à melancolia coletiva em que mergulhamos, por conta das besteiras que nós mesmos fizemos. Houve exageros de formas e tons, mas foi uma tentativa de as pessoas não se entregarem. Porque só às trevas interessa uma população apática e conformada. Das cores passaram para os filmes, os programas de televisão, as músicas, até os quadrinhos. Tudo ficou triste e pessimista. Feio. A alegria não se expressa mais no jeito de ser, mas nos abusos, na vulgaridade e na depredação.
Eu gostava mais quando cores e formas davam nossos recados.
2 comentários:
Nanael,
prazer em conhece-lo!
estava eu a rolar a vida sem manual e vi o título do seu post.
antes de chegar, já sabia o que encontraria aqui!
eu tenho um carro prata. decidi que assim que me for possivel, compro um carro amarelo ovo, verde limão, azul anil!
e eu nem tinha pensado nas opções que vc. mostrou, mas na praticidade de nunca mais perder meu carro no estacionamento do shopping - vexame que me permito com certa frequencia!
adorei lhe ler!
bjs!
Falou, bicho. O carro e as despesas dele serão da tua conta e de mais ninguém.
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