27/12/2009

Rosinha não, mamãe!!!


É consenso que o rosa já teve seu apogeu, e que durou bastante. Mas hoje a cor vive um paradoxo, é oferecida aos borbotões para o público feminino, vendendo a contento, mas grande parcela deste mesmo público o rejeita com ódio hepático. Tem gente que compra a bola da Barbie só para poder chutá-la todos os dias sem arcar com a compra diária de uma boneca nova, não somente pela onda anti-americana que ainda tem eco, mas porque poucas cousas são mais cor-de-rosa do que o mundo desse brinquedo... Talvez a Penélope Charmosa, mas só agora ela está sendo revigorada.

Algumas empresas exageram, oferecendo artigos nas cores rosa e roxo exclusivamente para as mulheres. Neste ponto, estou de acordo com as mais exaltadas, pois além de discriminar os meninos, que não têm artigos que possam chamar de específicos, fica a impressão de que o mundo de uma mulher é e deve continuar a ser rosa. De facto deprimente. É querer ver um cantor cantando vinte e quatro horas por dia, ad infinitum.

Mas a concordância acaba aqui, porque rosa e azul são sim as cores da mulher, simplesmente porque as mulheres são de sua própria concepção, superiores aos homens. Confusos? Explicarei os motivos, mas não asseguro que ateus e crentes radicais vão gostar, provavelmente não, pois tratarei de espíritos superiores e afins.

Rosa não simboliza o amor puro, é a cor que emanam os que já compreendem e detém o amor puro, que é algo muitíssimo acima da condição humana. Azul claro é a aura de criaturas absolutamente serenas e equilibradas, o que também está além de nossas parcas capacidades. Por isto os espíritas mais eruditos e humildes (raríssimos) aconselham as mulheres a usarem combinação de branco com azul ou rosa na indumentaria. Uma mulher precisa do homem apenas para se reproduzir e tem certeza de sua maternidade; o homem depende da mulher para se reproduzir, sobreviver ao primeiro ano de vida, garantir a segurança dos filhos e, principalmente, só com o advento da genética pôde ter certeza da paternidade... Se o médico não for muito amigo dela, claro.

A tal “revolução sexual” marcou o declínio da ligação entre o feminino e a cor rosa. Por uma imbecilidade extraordinária que só nós homens somos capazes de executar a contento, o azul (filtro e protetor espiritual, entre outras propriedades) foi tomado das mulheres, que ficaram só com rosa e branco. Essa mesma estupidez nos fez colocar o sistema nervoso periphérico acima do central, fazendo com que a brutalidade tomasse o trono do intelecto... Só assim para membros flácidos do nosso gênero se sentirem superiores às suas esposas. Com isto, a mulher e tudo o que lhe diz respeito passou a ter papel secundário nas sociedades pós-atlânticas. Com o rosa não foi diferente, passou a simbolizar (mentirosamente) fraqueza e submissão, o que o mulherio ávido por liberdade e dignidade não poderia nem deveria tolerar.

O problema é que muito dos conhecimentos que incomodavam a sociedade mais machista da nova história, a romana, foi extirpado de textos sacros e proibido, incluindo a ciência das luzes e suas cores. As mulheres da sociedade cética da América do Século XX não tinham, então, noção de alguns erros que cometiam. Elas queriam se igualar aos homens, sem saber que isto as rebaixava, embora o materialismo reinante faça parecer o contrário. Uma mulher que saiba conduzir deu lar como as ancestrais faziam, não usando o amor pelos filhos para privar-lhes das conseqüências de seus actos, sabe conduzir uma empresa muito melhor do que um homem. A última crise é só uma amostra do estrago que a competitividade infantil e irresponsável, inerente à fraqueza masculina, é capaz de fazer ao mundo. Para eles tudo se resume ao desafio e ao gozo de humilhar alguém, se fosse só dinheiro o comportamento seria mais comedido. É falsa a premissa de que o mais forte sobrevive, as ossadas dos tiranossauros e a proliferação dos mamíferos são provas.

Alguns me perguntarão, então, por que Jesus veio como homem? Simplesmente porque Ele não é idiota, sabia que ninguém daria ouvidos a uma mulher. Ele fez o que era possível, não o que queria fazer. Mas fez tudo o que a masculinidade da época condenava, certamente muitos devem tê-lo achado afeminado por não ter se casado nem empunhado armas nem mesmo para defender sua carne e, principalmente, amou como poucas mulheres (e quase nenhum homem) são capazes.

Por tudo o que disse, afirmo que uma mulher que exagera no feminismo, se torna tão machista quanto os homens que diz combater, pois quer privar as outras de sua feminilidade. Não foi à toa que Mário Covas, no auge da ditadura, convocou as moças a boicotarem os militares nos bailes, ele sabia o que estava dizendo e da tragédia interna que isto causaria nas forças armadas. Ele e todo aquele com um átomo de sabedoria sabe, é o comportamento feminino que impulsiona e sustenta o mundo, que dá as ordens aos músculos dos homens, que é a mulher feminina (não confundir com afetada) com seu comportamento cor-de-rosa, a única força capaz de fazer um guerreiro chorar feito criança. Uma mulher que luta por poder corre atrás do que já tem.

O ceticismo criado pelo fanatismo misógino nos custou caro, mas tenho esperanças e apelo às moças que não se neguem para si mesmas. Nem tudo o que é do tempo da bisavó é ruim. É a capacidade de adaptação que elas tentaram transmitir às descendentes, não a força bruta, que garante a sobrevivência da espécie. Assim como os maus proliferam na omissão dos bons, é por querer trocar o rosa pelas conquistas que a selvageria do capitalismo fugiu às rédeas. Promiscuidade, queridas, não é conquista, é uma fraqueza masculina, que vive a repetir que a carne é fraca e mesmo assim faz suas vontades. Não se troca uma virtude por um mérito, este é conseqüência dela. Ser delicada e fazer uma tropa de marmanjos tremer nas bases é o que uma mulher faz de melhor, caso se permita.

Usar rosa não faz nada cair, não causa problemas de saúde e não abrevia a vida. Se alguém se afastar de ti por causa de uma peça rosa, então não merece a tua amizade. Não se limite a uma cor, mas também não se prive dela. Não foi o homem que inventou as cores e suas propriedades, estas já existiam antes da humanidade e continuarão existindo quando outra espécie nos suceder. Não será um vestido cor-de-rosa que vai te fazer de capacho para alguém, isto é trabalho para a auto-estima. Nem mesmo uma farda ajuda quando não se tem amor próprio, culpar e politizar uma cor é no mínimo infantilidade.

Para finalizar, algo que os especialistas já perceberam: Não é Barack Obama que manda nos Estados Unidos, é Michelle Obama. Por isto está dando certo. Ela não precisa do título, ela tem o poder.

19/12/2009

Música Francesa - A Nova Geração


Finalmente, já em cores, a nova geração de cantores desde (mais ou menos) os anos 1980.
Muita cousa mudou, o mundo ficou mais frio, materialista de um lado e fanático do outro, mas quase todos querendo viver (em ambos os casos) mais sensações do que o corpo humano pode suportar. Mesmo assim a música francesa manteve as nuances celebráveis de sua estirpe. Sítios como Quebec Pop e
Audiogram são redutos destes novos e de velhos talentos que o Brasil não conheceu.

Desilereless. O hit "
Voyage Voyage" estourou e durou até início nos anos 1990. O grande mérito foi agregar ritimo a uma letra mais lenta, sem perder a qualidade musical. A figura androgina ajuda a vender e se tornou um dos símbolos da tolerância social.

Marc Lavoine. Oitentista por excelência, "
Même si" e "Chère Ami" são carregadas da melancolia contraditória de uma época que misturava o optimismo de que já estávamos no fundo do poço, e que portanto não havia como piorar (como estávamos enganados!) e o pessimismo da paranóia da guerra fria, que ameaçava dizimar a vida na Terra a qualquer momento. São ambas músicas muito bem acabadas, com toques de new age, que merecem ser ouvidas à noite, com amigos ou uma pessoa especial.




Isabelle Boulay. Pois é, vêm de Quebec as grandes contribuições modernas à música de língua francesa. Esta belíssima ruiva brejeira de voz madura e levemente adocicada começou a cantar no restaurante da família, para logo ganhar sua independência e brindar o mundo com suas canções e versões, inclusive cantou "Tico-tico No Fubá" em francês, com arranjos próprios que fizeram desta canção uma ode ao chorinho. A conheci por "Jamais assez loin" e "Où est ma vie", a primeira uma declaração de amor digna da velha guarda, a segunda uma música leve que convida a pensar na vida e vivê-la sem neuras. A nova canção "
Chanson pour les mois d'hiver" faz juz ao gigantismo de seu talento. Sua pista entregou muitas outras pérolas, das quais destaco as seguintes:

Carla Bruni. Pois é, para quem não sabe, além de modelo, actriz, socialite e primeira-dama da França, ela é cantora. Excelente cantora, diga-se de passagem. "Ma Jeunesse" é uma canção baseada no piano, com toques de infância prestes a maturar, uma execução que adoça as saudades mais doídas. Se alguém tinha vontade de vê-la tropeçando e não sabia de seu tino musical, agora vai querer que tropece em uma recepção ao papa e caia de cara no seu colo, com câmeras ao vivo, porque esta recebeu doses generosas de muitos talentos, a música é um deles.


Amylie. Mesmo quem torce o nariz para o estilo indie, tem grandes chances de gostar desta moça, simplesmente porque ela não exagera. "Espace" é uma demonstração de música para se ouvir durante uma viagem, despretensiosa e com variação harmoniosa de andamentos. Como a capa de seu último álbum, sua regra parece ser não complicar o que não precisa, o que se reflete nas músicas.


Sylvie Paquette. Tem ligações fortes com a velha e a jovem guarda. "Doucement" é uma música sutil, delicada, que parece ser cantada em corda bamba, com seu ritimo lento e a predominância do violão e do sintetizador ao fundo, acompanhado por coral em dado momento, dando uma atmosphera onírica e sensibilizante. Sua voz é sedosa e morna, chegando a ser sensual sem fazer qualquer esforço. Não ouçam "Soleil d'Espagne" se não tiverem condições de visitar terras espanholas, porque esta canção vai lhes despertar o desejo de conhecê-las.


Océane. Seu nome é Maryse Lebeau, conhecida por Océane. Faz um trabalho similar ao do nosso Palavra Cantada, mas em tom mais materno, suas músicas são quase sempre curtas, próprias para o seu público. "Ma mamie à Moi" é uma canção que pode ser usada com sucesso para ninar, de execução simples e sem qualquer sofisticação tecnológica. "La Garderie" é mais animadinha e claramente dirigida para os pequeninos. É uma mulher bonita que, porém, usa sua beleza para encantar as crianças, não para seduzir seus pais com roupas de matadoras.


Magnolia. É uma flor de cantora, sem trocadilhos. Uma de suas obras que mais me agradaram é "Mexico City", cantada com arranjos de (principalmente) guitarra e rabeca acompanhadas de uma batida forte e melódica de bateria bem executada. É daquelas músicas que parecem ter sido gravadas há décadas, pois evoca saudades e lembranças ripongas. Sua voz não é extraordinária, mas é trabalhada com esmero e varia de tom com maestria.


Laurence Jaubert. Estilo meio caipira, na melhor acepção da palavra, canta com o coração mais do que com as pregas vocais. Estas, aliás, muito bem dotadas. É, portanto, outra adepta das cordas, como em "Je Pars a L'Autre Bout Du Monde", que canta como es estivesse na varanda da fazenda, lembrando dos parentes que se aventuraram à cidade. "Anne et Arthur" é cantada devagar, com um vigor moderado e melódico. Longe de fugir à essência da música francesa, lhe acrescenta o brilho rural que só quem é do interior conhece. Eu conheço e recomendo.


Chango Family. Quem gostava de Os Mutantes em sua melhor forma, vai gostar deles. Cantam como quem não recebeu sua injeção diária de gardenal, mas com muito charme e irreverência como em "Paramatman", que tem um toque hispânico moderado, dentro dos limites do bom gosto. Como os egos dos componentes ainda não são maiores do que os mesmos, presumo que ainda terão bastante tempo cantando juntos nos mesmos palcos, nos mesmos shows, sem que um tente enforcar o outro com a fiação do equipamento.


Lara. Uma
cantora surpreendente, para dizer o mínimo. Consegue misturar charleston, jazz, tango, blues e ritimos modernos (entre outros) com um talento que pensei ter morrido com os Beatles. "Mon Petit Coeur Assassin" é um exemplo desta habilidade musical. Suas execuções são de um cinismo adorável, "Café Saravejo" é um exemplo magistral, que me faz duvidar da sanidade do público de hoje, que bebe urina de bestas cheios de rótulos e chiliques pseudointelectuais, e não enche de dinheiro as burras de artistas como ela. É mesmo uma época triste, Aznavour foi profético. Não se assustem, ao ver o novo álbum, com a carinha de psicopata, na vida real ela sabe sorrir com sinceridade, sem ver a cabeça de alguém rolando.

Gaële. Se a trupe da Chango Family não recebeu, nesta
moça os psicotrópicos já não fazem mais efeito. Muito bonita, com um jeitinho de Audrey Hepburn rebelde, ela está mais para Rita Pavone do que para Gigliola Cinqueti. "Cockpit" dá impressão te total desconexão, mas depois da metade da música se percebe tudo foi muito bem trabalhado e colocado, é para se dançar aleatoriamente e exorcisar seus males. O controle vocal para tanta maluquice dá prova de seu talento. "L'ideal Tango" parece um deboche, mas não é, precisa de alguma abertura mental para aceitar bem seu estilo, feito isto, a audição é só alegria. Se não entender, não leve à sério, só isso.

Decerto que há muito mais gente talentosa, e também há homens talentosos. Mas faço desta trilogia (principalmente esta parte) uma homenagem às mulheres, que souberam manter o romantismo apesar de tudo o que tem acontecido, com isto alimentado a demanda por músicas de alta estirpe, apesar de tudo o que tem acontecido. Em especial à amiga Meg, que estuda francês e saberá, muito melhor do que eu, apreciar as obras aqui expostas.
Redez-vous à la musique.

13/12/2009

Música Francesa - Jovem Guarda

Não existe uma linha limítrofe clara entre as gerações, são necesários cerca de cinco anos para que as diferenças se evidenciem. Com a música não é diferente.
A nova geração da música francesa mostrou as garrinhas, os dentes e preservou o charme de seus professores, especialmente porque a maioria ainda trabalhava e podia puxar-lhes as orelhas.

Gilles Dreu. É um dos fronteiriços, com suas canções vigorosas e plenas de coração, como "Alouette", que foi interpretada em tom dramático com coral e um belo cravo substituindo o piano. Está praticamente esquecido no Brasil, poucas rádios se dignam a executar suas performances.

Sylvie Vartan. Cantora de beleza plástica e vocal, apresentou ao mundo seu timbre maduro e possante. De suas interpretações, a minha preferida é "La Maritza", com leves nuances ciganas e espanholas, principalmente ao fim, quando a ladainha dá impresão de uma dança em giro cada vez mais rápido, para disfarçar o choro de resignação.

Michel Sardou. Era um garoto talentoso, com jeito despretensioso e uma cabeleira alá Roberto Carlos. A idade veio, a cabeleira encolheu, mas o talento não perdeu o brilho. Seu mérito maior (além do musical) foi envelhecer com a dignidade que as celebridades de hoje desconhecem, sendo hoje um senhor de respeito que se respeita e ainda encanta, com pérolas como "En Enfant" e "La Maladie D'Amour". Seu público é basicamente o mesmo que no Brasil compra Roberto Carlos.

Françoise Hardy. A ternurinha deles. "Comment Te Dire Adieu" é um de seus hits. De apelo mais jovem, ditou moda e teve o cuidado de não contrariar demais os pais de seus fãs, como resultado sua fama é duradoura. Cantou o amor não patológico e a alegria de se viver a vida. Procurando em discotecas decentes, se encontram seus álbuns sem muita dificuldade.

Salvatore Adamo. Pelo nome se tem alguma estranheza, até porque ele é italiano, mas canta em um francês perfeito. E foi em francês que estourou em todas as paradas de sucesso nos anos 1960/70. "C'est Ma Vie" conta uma história de amor e ensina que a maioria delas acaba. Fez recentemente, com esta canção, dueto com Isabelle Boulay, uma das estrelas do próximo texto. "Inch'Allah"* é uma canção menos conhecida, mas que recomendo formalmente. Também soube cultivar a maturidade, não se rendendo às facilidades cosméticas tão em voga e desnecessárias, ao menos para quem tem conteúdo. Ainda arrasta sua legião de fãs e esgota rapidamente os ingressos onde quer que marque uma apresentação.

Catherine Ferry. A aparência singela desta moça marcou também seu trabalho. Não tenho muito o que dizer, praticamente não se encontra material a seu respeito (nem meus compromissos, infelizmente, me permitem grandes buscas). "1, 2, 3" é um exemplo de música leve e analgésica para um dia de folga, com um ritmo rápido e gostoso que atenua rapidamente o estresse da "vida moderna".

Joe Dassin. "Et si tu n'existais pas" é uma das maiores declarações de amor que já ouvi em minha vida piegas. Sua voz grave, bem empostada e disciplinada aveluda a audição. Um cantor que dispensa artifícios, podendo facilmente contar com um banquinho e um violão no palco vazio, nada mais. A platéia de alto nível que conquistou até gosta, mas prescinde de pirotecnia. "Ça Va Pas Changer Le Monde" é uma de suas obras-primas, e das que mais fazem lembrar da época que tinha tudo para colocar o mundo nos trilhos. Seu repertório é vasto e seria inútil tentar falar de todas as canções, é uma obra para se ouvir por dias seguidos, mas sob o risco de passar a esnobar quase tudo o que se canta hoje em dia... como eu.

Nicoletta. Lembra muito minha amiga Mymi. É outra moça de voz potente que sumiu dos catálogos tupiniquins. Não me parece ter sido o tipo que se levava à sério, mas levava à sério o seu trabalho. A entonação tinha influência bastante clássica, combinando ainda assim com os arranjos modernos de então. "Il est Mort Le Soleil" e "La Musique" são as contribuilções à música pelas quais mais me lembro dela, sendo a primeira de um tom melancólico que instiga a dizer "Eu te amo, caramba, vamos antes que a vida passe!".

Michel Polnareff. Visual agressivo e debochado, até onde sei ainda na activa, brindou o mundo com a balada romântica "Love-me, Please, Love-me". Apesar do que os mais jovens podem pensar, é cantada em francês, sendo o título apenas o refrão. Um dos roqueiros que conseguiram sobreviver à idade e às modas, mas como rock em francês soa muito estranho, não emplacou muito mais sucessos no Brasil.

Dalida. Muitos pensam que é uma personagem de filme, mas asseguro, bons amigos, ela existe. é hoje uma das grandes damas da música francesa, sendo mais conhecida pela canção "Paroles, Paroles", em dupla com Allain Delon. Entretanto, fez homenagens à Tunísia (e ao povo árabe) cantando "Salma ya salama" e "Helwa ya baladi", esta no idioma tunísio. Sua voz sexy e vibrante já foi motivo para discórdias e reconciliações entre casais, mas ficar indiferente à Dalida é prerrogativa dos surdos... se também forem cegos.

Julien Clerc. A carinha de bom moço foi o cartão de visitas por muito tempo, hoje é a de bom homem. "Une Vie de rien" lhe deu direito a cantar na sala de star de qualquer família, por mostrar o quanto pode ser bom a vida agitada e moderna, mas também o quanto o porto seguro de uma vida pacata e bem embasada faz bem. Não há muito o que dizer dele, a não ser que, se encontrarem seus discos, comprem. Ele honra a genética musical dos franceses.

Francis Cabrel. Um da turma dos intimistas. Mesmo quando eleva o tom, o faz de modo breve, sóbrio e bem controlado, como se estivesse falando à amada, não ao público. Nisto muitas fãs se creditam o destino de canções como "Je L'aime a Mourir". Não vamos encontrar suas aparições nos "bbb's" da vida, ainda assim é possível saber mais a seu respeito com alguma pesquisa, desde que se tenha paciência de montar quebra-cabeças e filtrar o que a wikpédia diz.

Il Eté Une Fois. Temos um sexteto para os mais jovens, com roupas coloridas e músicas açucaradas, mas é da época em que computadores não corrigiam falta de talento, vale à pena ouvir "J,ai Encore Rêvé D'élle", para aliviar as tensões sem intoxicar os ouvidos.

Daniel Gérard. "Butterfly" é praticamente tudo pelo que se lembra dele. Depois dela, ficou praticamente restrito à França e a mídia mundial o esqueceu. A fama é ingrata, porque ele teve ao menos mais uma música digna deste texto, embora totalmente diferente do maior sucesso: "Petit Gonzalès", que é um rock bem humorado e dançante dos anos 1960.

Jean-François Michael. Para finalizar, ou este catatau não terá fim, este é um exemplar de voz meio rouca, grave e refinada, com algumas propriedades terapêuticas para o sistema nervoso. "Adieu Jolie Candy" é a sugestão para quem não conhece o intérprete.

Por hoje é só. Mas para quem quer matar saudades, ou mesmo conhecer a jovem guarda da música francesa, este índice poderá levar a muito mais pérolas neste oceano de talentos.

No próximo texto, selecionarei alguns da nova geração. Até lá.
Errata: "Inch'Allah" é de outro monstro sagrado da música mundial: Christophe, intérprete da eterna "Aline".

05/12/2009

Música Francesa - A Velha Guarda


Assim como já foi chique (quase obrigatório) falar fancês no Brasil, a música francesa moderna também fez muito sucesso em nosso território.

Era uma época de novelas bem feitas, bem escritas, bem dirigidas, bem interpretadas e com trilhas sonoras que dispensavam os milhões hoje gastos em propaganda. Era preciso ter qualidade para rivalizar com os francos, o público de então era muito exigente.

Dentre os ícones da época, destacavam-se alguns que estão na activa até hoje, e venderam elepês até falar "chega":

Charles Aznavour. É praticamente um sinônimo de música francesa. Há mais de uma década ele tenta se aposentar dos palcos, mas não consegue. Ele não toma sopa de letrinhas, toma sopa cifrada. A melancolia controlada de sua voz já remete ao álbum amarelado de família, às lembranças da moça que deixamos escapar e nunca mais apareceu, da juventude para a qual duas décadas não foram o bastante. Profissional competente e carismático, é tido como um Frank Sinatra da França, o que não deve ser dito a um francês, sob o risco de reações hostís, para eles Aznavour é muito melhor. Pondo ambos na mesma balança, só o estilo os diferencia, o fiél permeneceria erecto. Ainda hoje se chora ao som de "Hier Encore" e "Que C'est Triste Venise".

Edith Piaf. Exemplo clássico de que tamanho não é documento. Um toquinho de gente que se tornava uma giganta quando abria a boca. Como Charles, gostava de desabafar cantando, chorar em acordes sobre os amores que perdeu, as decepções e a maturidade que as surras da vida lhe impôs. Mas sempre enfatizando que não se arrependia do que fez, mas sim do que não fez, como em "Non, je ne regrette rien". O filme feito a seu respeito retrata com boa fidelidade a sua vida conturbada e abreviada, é indicado para quem quer um motivo para chorar em público sem dar vexame.

Jacques Breu. Muito antes de "Presença de Lolita" mostrar a versão actual, ele já emocionava com "Ne Me Quitte Pas". A plástica não era seu forte, mas o microphone revelava o Apolo que se escondia detrás daquele rosto tristonho. Sua dicção invejava mesmo os franceses, especialmente uando cantava "La Valse à Mille Temps". Infelizmente ele sumiu quase que completamente da memória e da s rádios brasileiras, mas o francês não é ingrato como nós e o mantém sob o holofote à que fez juz.

Patachou. Que eu saiba, ainda hoje está viva e participa de vez em quando da televisão. Também quase desvanecida no Brasil, ela conquistou o mundo pós-guerra com sua despretensão e sua competência. Seu jeito meigo e brejeiro se aliava à indumentária discreta. "Paris C'est une Blonde" revelava o que se escondia sob a imagem de boa moça, não que ela não fosse, mas não condizia com o rosto de noviça que tanta gente enganava.

Charles Trenet. Outro brejeiro, só que não escondia o que era, mas enganava. As feições de jurado de programa de auditório sumiam com "La Mer", que já embalou os namoros de muitos de seus pais, caros leitores, talvez dos avós, sei que eu usava suas músicas como entorpecente (mode entrega de idade "on") e atenuava meus dias.

Mireille Mathieu. Outra smurfete que coloca todos aos seus pés, quando abre a boca. Um amigo a conheceu pessoalmente e afirma que esta católica espevitada é uma pessoa agradável como suas canções. "La Dernière Valse" foi tema de muitos debutes, com sua voz maternal e os arranjos exemplares. "Une Histoire D'Amour" é o típico exemplo de música que nos toma de assalto. Os primeiros acordes são serenos, mas o tom cresce à medida que a música avança, como se a cantora não agüentasse mais se segurar e soltasse o choro. Com freqüência se chora, mas é choro bom, que desabafa e evita o primeiro infarto.

Soeur Sourine. Esta uma freira de verdade, mas que escandalizou muitos ortodoxos ao gravar um disco. Ficou famosa com "Dominique", que cantou como se cantasse para crianças em uma sala de aula. Marmanjos do mundo inteiro lamentavam sua vocação, pois não era de se jogar fora. A música ganhou muitas versões em muitos idiomas e hoje é tema da Oktoberfest.

Gilbert Becaud. Em patamares próximos ao de Aznavour, tem um estilo mais enérgico como em "E Maitenant", mas também descamba para a sutileza em "Au Revoir". Até os anos 1970 e início de 1980 fazia relativo sucesso no Brasil, mas até um peixinho dourado tem mais memória do que o brasileiro.

Juliette Gréco. "Sus Le Ciel de Paris" ajudou a vender muitos pacotes turísticos para a França. Seu estilo é o de uma balzaquiana ainda com o frescor, mas já sem as ilusões da juventude. Canta como quem já aprendeu as regras do jogo, mas não se conforma em ter menos do que merece. Um rosto daquele, decerto que merece bem mais, acompanhado pela voz poderia levar o cartão sem limites.

O que há em comum entre todos estes monstros sagrados da música, além do talento, é a gratidão que não permite lhes acontecer o que aconteceu com similares brasileiros: a gratidão do público. O francês ainda hoje é muito exigente com a qualidade musical, e ainda hoje dá deliberada preferência à produção local. Não basta mostrar partes pudentas, elas devem ter algum conteúdo para não serem tratadas como simples apelo pornográphico.

Acreditei sinceramente que poderia dividir o texto em duas partes, para tratar a respeito, mas já vi que três são o mínimo para a preservação da integridade do que quero passar.

Este idioma íntegro, revolucionário e ao mesmo tempo tradicional, que ainda hoje inspira romances e forma diplomatas, tem muito mais representantes na velha guarda do que os descritos, mas não caberiam em um livro, quanto mais no artigo de um humilde blog. Para os que já ficaram com água na boca, façam uma visita ao Malhanga Home Page, lá cliquem em Músia Francesa, et voilá, poderão conhecer em áudio e vídeo o que lhes falo.

O próximo texto será sobre a Jovem Guarda da música francesa, os artistas da actualidade ficarão para o texto final.

Até lá.