
27/12/2008
Sim

13/12/2008
Só o trabalho produz

02/12/2008
Vaca digitando

27/11/2008
Drama; 3 de 3

- Tio? Eu?! Mas nem irmão eu tenho!
21/11/2008
Drama; 2 de 3

13/11/2008
Drama; 1 de 3

Laura surge por trás, com o lanche e sugere que, em vez de resmungar, que aproveitem o adiantamento do amigo para se darem bem na escola. Eles acatam a idéia. Na manhã seguinte, Leandro dá uma notícia preocupante. Nem ele, nem nenhum dos colegas do mundo inteiro que consultou, sabe o que Angus tem. A medicação errada fez uma confusão de sintoma tão grande, que ninguém mais arrisca dizer que tratamento deve ser seguido. Além de áreas internas e importantes demais estarem envolvidas na lesão. Por enquanto, continuarão com a medicação e as actividades de praxe, mas alerta para que não subestime o menor sintoma, qualquer tremedeira, a mínima formigação, e mantenha Angus longe de lâminas e pontas.
Graças à mãe firme e disciplinadora, consegue chegar à puberdade sem maiores revezes, contando até com a presença da tia que nunca tinha visto na vida. A coleção de Mavericks de papel impressiona, não pela quantidade, mas pela personalização e pela qualidade da montagem, hoje com co-autoria da mãe. Aliás, se perguntam se um bom padrasto não seria de ajuda para ela cuidar do filho...
- Mas que idéia mais estapafúrdia!
25/10/2008
Nova balzaquiana
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Beleza aos vinte é um presente, aos quarenta é mérito próprio. |
Uma mulher assim é uma obra de arte biológica, uma ode à criação divina. Qualquer uma que chega aos quarenta anos sem ter se azedado, é uma vencedora, porque o machismo misógino ainda impõe a burrice de que se deve destruir o que se ama. Uma mulher que chega aos quarenta anos e é reconhecida de pronto por uma amiga de adolescência, é uma gloriosa, porque muitas se entregam cedo aos excessos que se convertem rapidamente em vícios, apagando os traços mais sutis de sua juventude, que ainda não deveria ter terminado.
Uma mulher que chega aos quarenta anos com a leveza que tem as de vinte e cinco, ah, esta é uma diva, uma deidade que deve ser venerada e respeitada, para quem o trânsito deve parar imediatamente, ainda que o sinal esteja verde.
Acreditem, há muitas assim. Não citarei Nicole Kidman, que é covardia. Desculpem, já citei, mas ela é um exemplo escancarado de uma multidão anônima que as câmeras ignoram. Tenho olhos já treinados e refinados, vejo muitas balzaquianas de quarenta pelas ruas, entretidas em suas leituras dentro dos ônibus, ignoradas por conta de seus trajes discretos e insuspeitos. Pois as observo com a devida reverência e discrição. São verdadeiras beldades que ainda têm o bônus da bagagem de vida, do conteúdo de suas palavras, da sabedoria para agir ou não agir, ainda assim conservando os traços e a fluidez da flor de suas eras. As quarentonas de hoje são brotos exalando perfumes primaveris.
As garotas de trinta agora são isto mesmo: garotas. Algumas ainda têm espinhas, seus rostos ainda são abaulados e seus olhos ainda são arredondados. Inconteste prova da evolução da espécie... pelo menos física. As de vinte acabaram de sair da adolescência para a emancipação recém-adquirida.
A mulher de quarenta exubera sua beleza, mas já não tem o desespero de cumprir sua quota de beijos em estranhos da noite. Arrasta o ar por onde passa, em seus passos firmes e elegantes, sem os requebrados forçados e trotados das adolescentes mais atrevidas. Sabe rir, sabe gargalhar, sabe quando e o quanto cabe um e outro.
Já viram o corpo de uma quarentona dos dias vigentes? A mulher que hoje tem de quarenta e cinqüenta anos teve que ralar na vida, não teve essas facilidades excessivas de "delivery", controle remoto para abrir o armário, fast-fat-food e toda uma quinquilharia que, na sua tenra juventude, simplesmente não existia. Elas iam da cozinha à sala para atender ao telephone, subiam escadas, giravam manivelas para descer o vidro do carro, iam ao restaurante para comer sem esquentar a barriga. A mulher de quarenta foi lapidada, sua beleza não é uma dádiva da idade nem um presente da indústria cosmética, que na época era só cosmética mesmo. Sua beleza é um mérito. É muito comum encontrar mães em muito melhor forma física do que suas filhas e, pasmem os homens desatentos que só enxergam partes, é muito comum ver mulheres maduras muito mais belas e bem conservadas que seus jovens rebentos. Os excessos de sua juventude são nada, se comparados à destruição suicida que a garotada venera e chama de "atitude"... Aham, tá. Vamos ver que atitude têm no primeiro acidente grave de trânsito.
Rendamos honras às musas que ora povoam, incógnitas, um mundo carente de inspiração. Beijemos suas mãos e as convidemos para uma noite, não apenas para uma cama, que elas são muito mais do que isto.
Há anos venho insistindo para o meu alfaiate começar a fazer roupas femininas, alego que vestidos são basicamente camisas esticadas, e saias são basicamente calças de uma perna só. pois nesta semana foi uma nova-balzaquiana, que com um modelito pronto para copiar, o convenceu a fazê-lo. Uma mulher de baixa estatura, mas bela, charmosa, elegante em seu estilo sessentista, que ainda tinha uma programação para resolver os negócios da família. Rugas? Sim, havia, eu disse que não deveria haver? A vantagem nesta bela senhora, é que as poucas e discretas rugas, em vez de estragar, emolduram seus traços e deixam ver perfeitamente a menina que ela já foi, e pelo visto ainda habita-lhe a alma.
17/10/2008
Tristeza assumida

04/10/2008
Aeromoça
Leva algum tempo para perceber o que está realmente acontecendo, está iniciando uma queda de quase três mil pés. A princípio chora, se desespera como se alguém fosse socorrê-la, como se o avião fosse dar meia-volta para tentar salvar sua vida. Mas ele se afasta a seiscentos quilômetros por hora, buscando altitudes menores, com o comando se esgoelando para pedir auxílio à torre. As comissárias de bordo não fazem questão de avisar da tragédia.
Cai em si. Ninguém vai salvar uma simples funcionária, para a qual existem milhares de candidatas para preencher a vaga que deixou. Ainda mais uma chata de caroço que insistia em ser chamada de aeromoça. Que merda! A gente não pode ser educada com os passageiros? Só porque não fazia careta quando me pediam uma caneta à bordo? Tá, eu nunca fui baladeira e companheira de manguaça, essas coisas. Isso deve pesar contra mim.
Vai pensando, meditando e praguejando enquanto a velocidade aumenta a 9,806 m/s². Sabe que estaria à salvo, na cabine da tripulação, se não tivesse se lembrado daquele bocó que levou uma revista pornô para o banheiro. Ele teria se lascado, acha que teria sido bem feito ao fedelho mal criado, mas seu senso de dever falou mais alto. Exactamente como lhe ensinara a sua mãe. Ah, droga! Agora ela chora desatadamente. Como ficará a sua mãe quando souber? Foi por causa dela que ingressou na carreira. Vanda era aeromoça, nos anos 1960, 1970 e 1980. Mas naquela época as cousas eram diferentes, se lembra bem de uma viagem que fez com ela e o pai à Lisboa, em 1978. Todas sorridentes, como enfermeiras que precisavam transmitir algo de bom aos pacientes. Aeromoça era algo glamouroso, conheceu várias pelo mundo, com uniformes que copiou e colocou em suas bonecas. Estão até hoje na estante, a mais nova tem o uniforme que usa agora. Droga! Droga! Droga! Droga! Droga! Droga!!!!!! Ela não queria ficar rica com isso, não queria viver imensos amores em cada país, nem mesmo escrever um livro quando se aposentasse. Só queria ser aeromoça. Conhecia a fundo as demandas da profissão, quando iniciou sua carreira, há menos de um ano. Mas que surpresa desagradável teve. Se sentiu uma arquiteta com doutorado, trabalhando com peões que não sabem fazer uma parede que não seja de tijolos furados.
Se pergunta o porquê de isto estar acontecendo. Sempre foi honesta até o talo, se dedicava aos passageiros como se realmente fosse uma enfermeira. Enfermagem, aliás, faz parte de sua formação, tal qual sua mãe, a melhor aeromoça que a antiga companhia aérea já teve. Sua mãe é seu ídolo, trabalhava com tpm, cólicas, joanetes, o que fosse. Ainda que com o semblante mais sóbrio, sempre tinha um sorriso para os olhos suplicantes de seus passageiros. Ser aeromoça demandava classe, elegância e boa educação. Seguiu todos os seus exemplos, tudo mesmo, à risca. Mas os tempos não são aqueles e a impessoalidade dominou quase tudo. Numa época em que a fedelhagem dos fóruns de internet rechaça quem demonstre cordialidade e camaradagem a todos os participantes, em que os carros rígidos e bem ajustados são chamados de resistentes, em que memórias sórdidas de uma prostituta (que se fez sem necessidade) são best-selers, em que ninguém mais sabe fazer piada sem palavrões e ofensas, em que uma brincadeira com um amigo pode render processos por alguma entidade neurótica, as suas qualificações não tinham mesmo o espaço de outrora.
Agora eu me pergunto, por quê? Por que eu me preparei tanto, se transar com o comandante é a única forma de subir naquela birosca, aquela garagem de paus-de-arara aéreos? Bem feito pra mim! Bem feito! Fiz tudo certo, deu nisto: vou me espatifar no chão daqui a pouco, vou virar ração em pasta pra cachorro. Eu sou burra, bur-ra... Mas não me arrependo de nada.
Começa a parar com as lamentações, pois o fim é inexorável. Se lembra do beijo que recebeu de uma criança autista, ao fim de uma viagem. Os pais da menina ficaram pasmos, completamente atônitos com aquilo, a psicóloga dela exigiu três testemunhas para acreditar. Acha que não fez nada de mais. Foi atenciosa, respeitou o mundinho daquela pequerrucha e conseguiu seu respeito. Volta a chorar, mas agora de alívio, pois esta lembrança honrosa traz outras, e outras, e mais outras. Não é ela a burra, são os chefes que não enxergavam e não remuneravam a contento a jóia que tinham em seu quadro.
Mas agora se lascaram! Ah, ah, ah, ah, ah, ah! Minha mãe vai poder comprar o condomínio inteiro com a indenização! Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah! Vai poder mandar todos aqueles xaropes pra fora e encher os apartamentos com nossos parentes. Irra! A Paula vai ter casa própria quando casar! Até que morrer não é tão ruim assim. Mas será que dói? E por que tá demorando tanto?
Aproveita a demora para, em um lampejo, pegar seu celular. Liga-o. A recepção está extraordinariamente boa. Pela primeira vez não amaldiçoa o inventor daquele aparelho. Liga para a mãe. Avisa que aconteceu um imprevisto e que não chegará em casa a tempo para o noivado da Paula. Se puder mandará mensagem (por um médium, quem sabe) e diz que ficará bem. Se despede da forma mais amorosa que consegue e desliga. Agora sim, chora copiosamente. Pela gente que deixará e, se o alfaiate Zé estiver certo, não verá por muitos anos. Se lembra de tudo o que fez de bom na vida, percebe que supera de longe suas traquinagens.
Começa a rezar para, não pedir, mas agradece pelo que pôde fazer de bom no pouco tempo de vida que teve, por não ter se rendido aos ataques dos colegas radicais de extremo rancor contra passageiros, por não ter deixado de fazer o que realmente queria e por ter sido uma aeromoça. A-e-ro-mo-ça. Foi para isso que se esmerou.
Olha para baixo, agora o chão está próximo. Que conveniente, bem o fundo do Instituto Médico Legal. Faz uma manobra para não ver e não sofrer ainda mais. Ajeita o broche na lapela, a echarpe azul e branca, coloca a boina contra o peito e acabou.
Nem doeu. Agora vai embora, que não precisa mais de nada daquilo.
23/08/2008
Onirautas VI; A roupa sumiu!
- Primeiro porque a nudez acontece de surpresa, quando menos se espera: Pum! A roupa some. Se há deformidades no corpo, ou uma parte com proporções e/ou beleza acima da média, é aquela que será destacada. Aí o maior fanfarrão do mundo fica rubro.
- Segundo porque nunca estamos sozinhos, nesta situação. Mas nunca mesmo. Assim que baixamos as calças para mandar o barroso, as paredes somem e uma multidão se aglomera para nos observar.
- Terceiro porque acontece quando mais precisamos, no sonho, nos concentrar. Como em uma reunião, quando o chefe te diz "Que mordida é esta no teu mamilo, Márcia?". Então a mesa inteira some, a cadeira some e te obriga a ficar de pé e pelada. Terrível, não?
- Quarto e último, porque nudez ainda é tabu. Imaginem uma carola sonhar que está ajudarndo na missa e, quando vê, está pelada e maquiada na frente de toda a comunidade. Ela vai querer morrer, vai meter a cabeça na parede e se penitenciar, quando acordar.

16/08/2008
A morte merecida

09/08/2008
Não merecemos!

30/07/2008
Ética prática

Todo mundo fala em ética. Todo mundo exige ética... dos outros. Pois todo mundo diz que ninguém é ético e quem não seguir a correnteza é trouxa.
Eu poderia me perder em divagações redundantes sobre a origem da palavra, o conceito primitivo e toda uma etimologia completamente supérfula. Seria até divertido, teria o aval dos catedráticos, mas não seria ético. Eu estaria pleiteando glórias em detrimento da missão que me foi confiada. Vão cinco regrinhas pragmáticas que qualquer um pode praticar.
Primeira regra - Faça consigo o que gostarias de fazer ao próximo. Que foi, bem? Achaste que eu iria dar a velha e surrada regrinha de "Faça ao próximo o que gostarias que lhe fizessem"? Não, primeiro experimente o teu remédio, depois dê para que experimentem. Se te der vontade de esganar alguém, siga estas instruções: Peque uma gravata ou encharpe longa, dê uma volta no pescoço, segure firme as duas pontas e estique fortemente os braços para os lados, agora tente respirar. Viu como foi didático? E ainda pudeste se livrar da agonia para colocar a lição em prática. Decerto que nem tudo precisa chegar a este termo, mas com a prática as idéias homicidas desaparecem, chegará o momento em que a dor do outro vai repercutir em ti, então já estaremos conversados.
Segunda regra - Não faça com o outro o que ele não quer que seja feito, mesmo que gostarias que fizessem contigo. Pensa bem, filhote, tu gostas de rock da pura, de balada da mais fina categoria, falou que é de turma lá estarás tu. Mas há gente que gosta da solidão. Eu sou assim. Muito mais gente do que imaginas é assim. Aquilo que te faz falta, pode ser justo o que o outro tem em excesso e do que queira se livrar. Se queres agradar, então se informe a respeito dos gostos e necessidades do próximo. Quase sempre a presença amiga é suficiente, pois há pessoas que não gostam de receber presentes, o que não é o meu caso, mas conheço alguém. Por mais que te dê espasmos, alguém no mundo gosta de musiquinhas melosas e diabéticas dos anos 1920/30, e desde que não invada o teu espaço, deves respeitar.
Terceira regra - É teu? Não? Então não ponha a mão. Parece tão óbvio! Mas quase ninguém acha que só uma olhadinha com a mão trará problema. Mas traz. Há gente metódica, que tem na organização de seu ambiente um elo com a sanidade, e pessoas realmente metódicas percebem alterações milimétricas em tudo o que têm. Não se enganes, não é frescura, e se for não é da tua conta. Também há cousas que parecem com as do cotidiano, mas podem ser instrumentos específicos e difíceis de se conseguir, ninguém conhece todas as artes e ciências. Vale o ditado dos antigomobilistas: Carro antigo é como mulher de amigo, tu admiras, mas não põe a mão.
Quarta regra - Dê o exemplo. É aqui que a porca torce o rabo! É seguramente a mais difícil de todas. Pense na cena: Uma mulher com roupas caras, óculos caros, batom que compraria todo o estoque de uma boutique popular, sapatos de couro de Dragão de Komodo albino, laquê artesanal montado molécula por molécula por um laboratório exclusivo, jóias confeccionadas para a Rainha Claópatra, et cétera. Um nojo de chique. Agora imagine essa senhora abrindo uma embalagem de chiquete, começando a mastigar feito ums ruminante e jogando o papel no chão, sem nem olhar. Tem muita gente pobre que guarda seu lixinho no bolso até encontrar uma lixeira pública. Vale o mesmo para o trânsito e tudo mais; se sabes que mereceste a multa, pague. É teu direito recorrer, mas pagando e não reincidindo, vais ensinar ao teu filho que nem tudo o que é permitido é lícito. Se ele aprender esta lição contigo, em vez de aprender na escola chata e depredada, vai querer imitar e até ensinar aos amigos. Tua ação tão simples pode dar mais frutos do que imaginas.
Quinta regra - Não confunda tolerância com indiferença. Muita gente que chega do exterior fala da tolerância que existe no "primeiro mundo"... Dá licencinha... RÁ, RÁ, RÁ, RÁ, RÁ, RÁ, RÁ... Voltemos ao caso. Muita gente que imigrou do "primeiro mundo" me conta outra história, diz que se alguém morrer na rua, só removem o cadáver quando começa a incomdar a coletividade com o mau cheiro. Eles não toleram a diversidade e a liberdade individual, eles simplesmente não se importam com o próximo, mesmo que o outro esteja à beira de um suicídio. Campanhas internacionais, tudo bem, pois estão agindo em prol de uma causa, mas danem-se as pessoas. Longe de aconselhar que alguém bedelhe a vida alheia, se importar com a situação do outro não é invasão de privacidade. Não penses que se interessando por um drama familiar, serás mal visto, salvo se o sujeito for um cafageste que espanca esposa e filhos. Pergunte como vai, se disponibilize para uma eventual ajuda e isso será o suficiente para o outro não se sentir totalmente sozinho. Será um potencial suicida a menos, ou um potencial surto psicótico a menos. Com o tempo, infelizmente pode levar muitos anos (talvez décadas), os frutos virão, tanto para os outros quanto para ti.
Isto não é tudo, mas é o mínimo básico sem qualquer opcional, nem rádio AM-FM. Mas é o bastante para começar. Se ao menos tentares, mesmo sabendo que vais falhar muito, já estarás melhorando o teu mundo. Se mais alguém vai seguir, é problema deles, a tua parte já está sendo feita.