09/09/2015

Contrariando, pró ocidente

Art by Shag
  Texto longo. Vão descansar suas cabeças e voltem depois, porque pode ser também indigesto.

  Eu sempre digo que governos mentem, governos corruptos mentem muito, governos ditatoriais mentem mais do que a própria boca. Digo e reafirmo. Mas ao contrário do que parece, esta posição encontra resistências ásperas, quando o sentido mais amplo e profundo vem à tona. Governos democráticos não são a regra na civilização global.

  A recende onda de refugiados do oriente médio para a Europa começou a receber ataques. Recentemente um vídeo com uma suposta adolescente síria, em trajes muito ocidentais (camiseta e jeans) acusou o ocidente de forjar tudo, alegando subliminarmente que se aqueles fossem refugiados reais, teriam pedido ajuda a países vizinhos. Mas o cenário despertou minha completa desconfiança, porque era a escadaria de um prédio oficial com a bandeira síria ao fundo. Não preciso dizer que foi justo a Síria que começou a sufocar a onda de protestos da chamara "primavera árabe", preciso? Mas já disse.

  Vamos a um facto notório e assumido pelos orientais; Quando um deles, de qualquer país, vem para o ocidente, mesmo com a discriminação que um estrangeiro sofre DESDE QUE A HUMANIDADE DESCEU DAS ÁRVORES, ele pode viver de acordo com seus costumes e sua cultura, e às vezes usa isso para burlar leis locais de defesa aos mais fracos. Quando um ocidental faz o mesmo, ai dele se tentar viver como vivia aqui. Leis de proteção diplomática podem ser sumariamente desprezadas, como rotineiramente são. Percebem? É o uso de dois pesos e duas medidas.

  Ah, quer que eu vá estudar história? Faça o mesmo. mas faça-o sem o ufanismo ideológico que lhe incutiram, estude toda a história nos mais obscuros meandros que puderes encontrar, e veja o que os antepassados dos orientais fizeram a outros povos, como o Império Persa, que subjugou e praticamente escravizou o berço de nossa civilização contemporânea; por ruim que seja, só ela te permite falar asneiras sem o risco de seres punido só por emitir uma opinião. SÓ ELA.

  Afirmar que a riqueza ocidental é fruto de espoliação e a oriental é legado cultural, é novamente o uso de dois pesos e duas medidas. Miséria e servidão não foram inventadas por um povo específico e não começaram na Idade Moderna, começaram com a própria civilização e existem até na natureza, em outros graus, como a homossexualidade existe entre os animais; eu flagrei cães mais de uma vez, não me venha com sermões teóricos de quem não sabe do que realmente está falando.

  O poder trocou de mãos, após milênios. Novamente tocando na história, por milhares de anos as potências orientais deixaram o ocidente na pré-história, ainda éramos bárbaros quando a China se destacou. Praticamente só a Grécia acordou cedo. O Império Romano só foi o que foi porque bebeu na fonte helênica. Mas como eu disse, o poder trocou de mãos. Não sejam ingênuos em acreditar que simplesmente ser oriental tornava um rei justo e bondoso com seu povo. E não faz muito tempo, não tem nem um milênio direito, os mouros ainda amedrontavam a Europa em plena Idade Média. Ou seja, em princípio ainda temos milênios de hegemonia pela frente.

  Aos críticos, que dizem que o ocidente perdeu sua identidade e se esqueceu de quem é, procure um oftalmologista e vá ver direito a pintura, ela é caótica, mas é um tanto menos triste do que seu astigmatismo lhe mostra. Aqui, como eu já disse, pode-se ser idiota, protestar, falar asneiras, reclamar do líder do país e emitir opiniões absurdas do ponto de vista lógico. Nada disso seria motivo para sanções. Ser ateu, aqui, não é crime, senhores intelectuais de sala de aula! Em muitos lugares, quase todos no oriente, és obrigado a fingir às últimas conseqüências que acreditas no credo predominante, que geralmente é também o único. e muitas vezes esse credo obriga o indivíduo a permanecer na margem da sociedade por sua própria iniciativa.

  No ocidente, que muitos diplomados criticam tanto, essa hipótese geraria revolta, e seria justa. Da mesma forma como um valentão que espanca a esposa é execrado aqui, mas em muitos lugares ela é vista como um bicho de estimação e reprodução do marido; novamente muitos de vocês usam pesos e medidas diversos, chamando isso de "traço cultural", enquanto aqui é "opressão da sociedade patriarcal". Tente dizer isso na Arábia Saudita. Oficialmente, terias direito, na prática o governo saudita faz vistas grossas para quem reagir com violência, inclusive violência policial. Oficialmente, tu és livre para decidir tua vida, na prática as escolhas se resumem a adereços que também podem legitimar represálias populares.

  O ocidente nunca perdeu sua identidade, simplesmente porque ainda a está construindo. O agravante é essa construção ter começado com o advento e progresso acelerado dos meios em massa de comunicação, que permitem fazer comparações entre "nós" e "eles" o tempo todo, nem sempre com o senso crítico e raciocínio cético que deveriam acompanhar a observação. O oriente se formou quando era normal uma pessoa morrer sem jamais saber da existência de outra cidade, que para ele era o mundo inteiro. Um ocidental na primeira infância já sabe que existem até outros países e que precisa viajar muito para chegar a eles. Em muitos países do oriente, os governos e o clero não fazem questão de que um adulto saiba disso.

  É por isso que a cultura atribuída aos americanos é tida como a padrão das massas no ocidente. Acontece que eles receberam, principalmente, as culturas britânica, francesa, espanhola e uma pitada da oriental, quando chineses foram trabalhar nas ferrovias. Destes eles pegaram o modelo de trabalhador que gostariam de ter em seu país, mas foi só. Desde aquela época as mulheres já arremessavam panelas em maridos folgados, enquanto no extremo oriente elas muitas vezes nem podiam tocar as sombras dos maridos. Não estou brincando! Até pouco depois da Segunda Guerra, isso ainda acontecia no Japão. A cultura americana, na verdade, é o trabalho feito em cima da cultura européia e asiática, e até um aroma da indígena local, feito e adaptado para a realidade de um país que é tão maior do que a Europa, que um carro médio europeu só serve como transporte urbano por lá. Assim como o Halloween NÃO NASCEU na Inglaterra, não em sua origem pura, a cultura típica ocidental não nasceu nos Estados Unidos da América. Acontece que eles mandam, eles têm a mídia, se quiserem cortam a internet do mundo inteiro, enfim... Eles fazem de modo muito menos traumático o que TODOS OS POVOS QUE PUDERAM, FIZERAM COM OS OUTROS. Vá estudar história, vá.

  Todas as mazelas ocidentais só aparecem porque aqui elas podem ser mostradas, apesar de políticos adorados por intelectuais de ar condicionado se esforçarem para tolher qualquer tentativa. Sabem qual é realmente a maior mazela ocidental? Aquela que inclusive gera protestos e idealizações de um oriente paradisíaco? O ocidente sofre de um agudo e crônico excesso de autocrítica. Eu sei o que é isso, tenho o mesmo mal, e ele quase sempre vem acompanhado de uma depressão bem severa. Tem seu lado bom, mas os excessos de rigores de sua intensidade causam efeitos colaterais muito graves, como os extremismos ideológicos, e a mania de muita gente em fazer mea-culpa pelos erros dos bisavós, enxergando todo e qualquer estrangeiro como coitadinho que precisa ser defendido de tudo a todo custo. Dê uma lida sobre o que muitos refugiados muçulmanos fazem com cristãos, no meio do Mediterrâneo. Eles não são mais e nem menos danosos do que nós, só o são à sua maneira. Entre os inocentes que realmente fogem da carnificina, há muitos mal intencionados que querem estendê-la à Europa, e alguns até tomar o poder por lá.

  Eles não querem viver em paz, não querem restaurar a cultura tradicional islâmica, não querem libertar os povos do jugo ocidental, não é essa a intenção real. Eles querem simplesmente se garantir no céu. Não é por amor ao próximo que fazem isso, fazem porque "deus mandou" e vai punir ou recompensar. É interesse, causa própria, compreendem? Seguem à risca, ao pé da letra as normas que acreditam que os levarão pra o céu, como todo fanático religioso. Matar quem desconfiam que não seja um clone mental deles, o que muitas igrejas brasileiras pregam por debaixo do pano, faz parte. É tudo por interesse pessoal. Quem tem fé sadia, não se abala por vírus psicológicos.

  Tem, tem mesmo muita besteira veiculada, gerada por paranóia, que é um dos efeitos colaterais de que falei. Por isso também falei em senso crítico e raciocínio cético. Não é para tu seres cético, é para a lógica do teu raciocínio ser, para não sofrer influências de paixões e empatias de qualquer espécie, porque elas sabotam tudo sem que percebas. Não acredite pura e simplesmente nos teus próprios pensamentos, eles podem ser apenas frutos de tuas aspirações mais altruísticas, e por isso te fazem acreditar que todas as conclusões derivadas dele são conclusões lógicas. Preciso dizer que tudo isso é virtualmente inviável em muitos países de lá? Não, não preciso esmiuçar. Difícil? Vá ao berço do ocidente e beba da fonte limpa, lá tem o manual de instruções bem claro.

  Por último, me lembrei de um caso que, se não me engano, foi publicado na Super Interessante, quando revista digital ainda era panaceia. Um casal decidiu largar tudo, abandonar a civilização que passaram a desprezar e viver com os ursos, que julgavam ser criaturas doces, meigas e gentís, apenas incompreendidas pela visão maniqueísta ocidental, bla-bla-bla e blo-blo-blo. Um vídeo foi encontrado algum tempo depois, no acampamento deles, ao lado de corpos destroçados e praticamente descarnados. No vídeo, o rapaz, que assistia à esposa ser devorada por um urso Kodjak, se lamentava pelo erro, afirmando que não era nada do que pensavam, que era só brutalidade e selvageria. A fome do urso não lhe permitiu fazer um discurso muito longo. Até a natureza é impiedosa. Esse conceito de fraternidade, piedade e amor ao próximo, como todas as utopias e todos os sonhos modernos de paz e harmonia entre os povos,  meus queridos, é essencialmente ocidental. Encontra pouco eco no oriente.

  O único povo que jamais fez mal a outro, é aquele que ainda não teve a chance.

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