06/12/2013

Um canto de natal

Image from Sacred Mundane
Aconteceu há muitos e muitos anos, durante o rigoroso inverno americano, quando a nevasca já tinha feito o estrago que tinha a fazer.

Um figurão do show business e seu amigo andavam no início da noite, conversando sobre seus dramas e seus planos para o ano que se anunciava.

Homens bem sucedidos, o sucesso conseguido trouxera também problemas da mesma envergadura, muitas vezes oriundos do próprio seio familiar. Ninguém parecia satisfeito com o que ganhava, tudo o que lhes era oferecido parecia pouco, era como jogar cimento em um buraco negro, ele ficava mais faminto quanto mais matéria recebia.

No decorrer da conversa, viram uma cena estranha, dois garotos despontavam no cenário glacial, sem a companhia de qualquer adulto. Via-se, pelas roupas, que eram crianças pobres. O mais inusitado é que um deles estava carregando o outro, visivelmente cansado.

A cena fez os dois homens esquecerem seus problemas, naquele momento. Bem agasalhados e bem alimentados, interpelaram o menino que carregava . Queriam saber por que estavam àquela hora naquele lugar, sem seus pais...

- Estamos indo para casa, senhor.
- Mas é muito tarde para vocês estarem na rua, sozinhos.
- Esse menino está bem?
- Sim, senhor, obrigado. Ele só está cansado, por isso eu o estou carregando.
- Não está muito pesado?
- Ele não é pesado, ele é meu irmão. Eu sou forte o bastante para carregá-lo.

Os homens ficaram atônitos, porque os dois não se pareciam em absolutamente nada. Talvez fossem filhos de mãe solteira, talvez alguém os tenha acolhido porque não tinham mais ninguém, e acabaram se adoptando como irmãos.

Talvez não tivessem realmente para onde voltar,  talvez nem mesmo para quem voltar. O certo é que o menino não reclamava de ter que carregá-lo, embora seu corpo protestasse visivelmente, parecia que já tinha caminhado muito e talvez não tivesse tido uma refeição decente.

Só tinham certeza de que aquele garotinho faria tudo o que estivesse ao seu alcance, para que o outro estivesse bem. E longe de qualquer amargura, ele dizia sorrindo "É meu irmão". E eles se lembraram de mensagens já esquecidas, soterradas pelo consumismo egoístico e pela animosidade mútua, que diziam reiterada e repetidas vezes que seu irmão é o seu próximo.

O garoto que levava o outro foi se despedindo, disse que ainda havia um bom pedaço a ser percorrido e não queriam chegar tarde demais, até porque o avançar da noite derrubaria a temperatura, comprometendo a sobrevivência dos dois. Ele desejou feliz natal aos dois e seguiu. Os dois homens ficaram paralisados, quase que envergonhados pelos problemas de que reclamavam.

Alguns dizem que eles observaram os dois se afastando até desaparecerem na paisagem, como que observando um mestre saindo da sala, após uma aula. Outros que lhes ofereceram carona, temendo que se ferissem ou se perdessem naquela noite. O certo é que os dois homens não voltaram a dar aos seus problemas o poder que davam até então.

A história, cercada de muitos folclores, é real. Dela nasceu uma das canções mais belas e mais cultuadas do século XX, e faz as pessoas meditarem ainda hoje. Gravada por The Hollies nos anos sessenta, e depois por Bill Medley nos anos oitenta, em ambas as ocasiões a canção foi um estouro nas paradas de sucesso. Como disse o menino "He ain't heavy, he's my brother.



Um comentário:

Anônimo disse...

MARAVILHOSA POSTAGEM!
SOU CADA DIA MAIS, ADMIRADOR DO SEU TRABALHO. PARABÉNS!
Carlossam.blogspot.com