28/10/2011

Falo pelos paulistas

Fonte: http://www.trekearth.com/gallery/South_America/Brazil/Southeast/Sao_Paulo/Sao_Paulo/photo1159942.htm

Não me refiro àqueles que se intitulam O paulista modelo único padrão e sem opcionais, que xenofobia é doença como toda fobia e deve ser tratada.

Me refiro aos amigos que conquistei, à boa gente que me recebeu com presteza e paciência, à Cidade-Estado que em breve terá cento e cinqüenta carros eléctricos em sua frota pública, aos bons compatriotas que sabem que o são.

Em nome desses numerosos amigos, de seus conterrâneos e toda gente que sabe receber bem, digo aos brasileiros que são todos bem-vindos à São Paulo. Todas as pessoas que lá descerem, com intenções honestas e ordeiras, serão incondicionalmente bem-vindas à terra da garoa. Todas mesmo, incluindo nordestinos.

Fosse verdade o que pregam os separatistas, noventa por cento da população nacional sequer desembarcariam nos aeroportos paulistas, onde seria exigido um atestado de "pureza ariana" com teores mínimos para ingresso à cidade. A única semelhança genética que tenho com os arianos é a quantidade de cromossomos, mas o bom cidadão paulista soube guiar com naturalidade e discrição alguém que jamais tinha saído de seu Estado natal, dando infornações precisas e bem detalhadas; não me perderia por lá nem que quisesse. A falta de pedigree não constituiu, em momento algum, motivo para sequer manterem distância.

Afirmo então, seguro da aprovação de meus amigos, e os amigos deles, bem como os amigos desses amigos deles, além dos consecutivos amigos que se seguem, que vocês podem viajar, pernoitar, se hospedar, eventualmente até mesmo morar na cidade gigante, que tem itinerários de ônibus com mais de sessenta quilômetros... maior que as distâncias entre muitas cidades no interior do país.

Convido meus concidadãos, os que partilham meu gentílico, a gente boa deste país a visitarem São Paulo, sem medo. Quem lê as notícias por inteiro sabe o quão mal quistos são os que discriminam, agridem e tentam segregar. São marginais, ainda que de classe média alta. Vão e preparem seus tubos digestivos para um festival gastronômico sem par, começando pelas cantinas, passando pela pizzaria e terminando na drogaria, para acalmar a digestão.

Convido a todos aos eventos culturais que seriam notícias de primeira página na maioria absoluta das cidades, mas por lá apenas constam nos cadernos culturais. Podem ir sem temores, tenha respeito pela casa do paulista e serás tratado como um morador. Vá e leve uma boa câmera, não se esquecendo de levar souvenires na volta. Cultura e contra-cultura te esperam de braços abertos. E Nova Iorque não é a maior e mais cabal prova de que as culturas se complementarm, e que é a presença do Estado e não a segregação que torna uma cidade boa de se viver?

A Cidade-Estado está tão repleta de diversidade, que só o teu assombro e encantamento dirão que és forasteiro. Mas pode ir tranqüilo, tua pele corada e teu sotaque carregado não serão vistos como confissão de crime, ao contrário do que gostariam os que causam vergonha e arranham a imagem da cidade. Meus amigos nativos terão prazer em te orientar e ajudar no que lhes for possível.

Aos que intencionarem morar lá, apenas recomendo uma fase de adaptação, uma ou duas viagens de reconhecimento e uma terceira para atar laços com nativos, porque São Paulo não é apenas seu município, todas as cidades da região metropolitana se servem de suas virtudes, então recomendo conhecer a região onde pretendes se instalar e o percurso diário a ser percorrido como rotina, porque na pressa sim, podes se perder.

Por mais provocações que lhe dirijam, ninguém pode tolher o teu direito a uma paulisséia desvairada, pipocar em museus dos mais diversos temas, sêbos com tudo o que não se encontra noutras cidades, o legítimo e inimitável pastel de vento, conhecer o metrô para ter experiência a passar aos seus concidadãos e cobrar da tua prefeitura. A violência existe, os paulistopatas existem, mas nada disso te impedirá de acompanhar teus amigos a passeios noturnos nos parques da cidade, de ver a vida continuando depois do pôr do sol em lojas, mercados, restaurantes e tudo mais. Não é por jamais desembarcar em São Paulo que vais ficar livre de meliantes.

Tudo isso falo em nome da Amanda, da Cristiane, da Mônica, da Paula, da Paula, da outra Paula também (meu Deus quantas Paulas há naquela cidade?) da Renata, do João, do Leandro, da Flávia, da Clarissa, do Dener, do Stefano, da Carolina, da Carolina, e tem mais Carolina ainda, da Diva, da Fabiana, da Priscila, da Serena, do Marcelo, do Gabriel Felipe, do Laerte, da miríade de pessoas do balacobaco que a internet me permitiu conhecer, e muitas das quais tive que encarar vis a vis.

Por esta gente boa e brasileira que pulula por terras paulistas, assevero que São Paulo é para o paulista, também para o cearense, para o paraense, para o gaúcho, para o goiano, para o acreano, para o potiguar, para o uruguaio, para o novaiorquino, para o berlinense, para o atlante, para a tonga da mironga do cabuletê. 
Porque São Paulo se apóia na sua história, mas não vive do passado.

2 comentários:

Newdelia disse...

Oiêee, seus textos são sempre deliciosos de ler. E como sei que conhece é óbvio que saiba que não sou de jogar confetes sem boas razões.
Tudo o que foi dito é mais do que verdadeiro e mesmo não sendo paulista vivo mais ou menos bem perto dessa realidade.São Paulo é uma cidade com várias caras, vários sotaques, várias cores. E se não fosse assim, jamais seria o que ela é hoje. O povo que para lá imigrou foi o mesmo que fez com que a cidade tivesse vida como hoje.

Beijos doces e um bom final de semana.

Nanael Soubaim disse...

São Paulo é uma dama, tem virtudes demais para eu me ater aos seus problemas.