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- E então, o que vocês trazem?
- Conseguimos solucionar o problema, Seu Rizonho. Encontramos a argumentação perfeita.
- Então mostrem, mas é bom que seja convincente, espero lucrar mais de trezentos por cendo com esse empreendimento, mas para isso não pode ficar uma só unidade encalhada.
- Vamos focar em alguns medos e obsessões da população. Já contactamos uma canastrona gotosa, para dizer que em São Paulo a moda é ter praticidade absoluta, é viver em apartamentos minúsculos para não ter trabalho em limpar e manter.
- Vamos dizer que no mundo moderno de hoje, as pessoas estão antenadas e viendo a mil por hora, então não podem perder tempo com o que não precisam. Os jovens precisam ser cool e curtir a vida enquanto podem, para tanto o temanho do apartamento não tem tanta importância, já que ele só vai lá pra dormir.
- Interessante, estou gostando. Continuem.
- Vamos dizer que os 28m² do apartamento rendem três metros a mais graças à evolução da engenharia da Rizonho Empreendimentos. Não vamos citar que as paredes internas só têm cinco centímetros de espessura. Quem precisa saber disso quando a vida lá fora convida a viver tudo ao mesmo tempo e na intensidade máxima?
- Aproveitando o gancho da neurose de muitos jovens em deixar de viver para juntar dinheiro e viver bem na velhice, ignorando que nessas condições gastarão os tubos com tratamentos médico-psicológico antes de chegarem à velhice, diremos que o espaço enxuto não distrai a atenção do workstation, contribuindo para o sucesso profissional de nossos clientes. E ainda tem o argumento falso da segurança, mostraremos crianças brincando alegremente em uma manhça ensolarada, com adultos ao longe, para passar tranqüilidade ao inconsciente do nosso público alvo.
- Rapaz! Se eu não soubesse da picaretagem que faço, até eu me convenceria! Continuem.
- Outro argumento para distrair as atenções do cubículo, é haver praças e áreas verdes a poucos minutos de caminhada, fazendo parecer que nós fizemos e/ou recuperamos aquelas áreas, tudo pelo nosso cliente. O senhor disse que está abrindo lanchonetes de fast food, lojas de conveniência e outros mimos metropolitanos na área.
- Sim, claro! Foi pra isso que forcei a desvalorização e degradação da área, pra poder comprar tudo a preço de banana e continuar lucrando em cima dos trouxas depois de quitarem suas gaiolinhas.
- Então! Pra quê cozinhar em casa se tem um restaurante bacana logo ali em baixo? Pra quê sujar louça, gastar água, enfim, ter trabalho depois de um dia agitado e haver a balada esperando?
- Se o sujeito quiser cozinhar, que compre um microondas! Dos menores, para caber na copa. Mas desencorajaremos à exaustão o preparo de alimentos em casa.
- Também conseguimos um trunfo. Conseguimos conversar com o nosso fornecedor, em troca de uma propagandazinha simples, os móveis dele mobiliarão o apartamento decorado.
- E o que os móveis dele têm que valorizam tanto o imóvel?
- Os que encomendamos, especificamente, são feitos em escala 3/4. Fazem o apartamento parecer bem maior, por serem menores. E no contracto, em letras miudinhas, diremos que o efeito decorativo conseguido só pode ser reproduzido com móveis com essas características, que são patenmteadas pelo nosso fornecedor.
- Então os móveis do modelo decorado sairão de graça?
- Dos três. Teremos três modelos decorados, para dar impressão de que cada apartamento é único e tem a cara do comprador. Para acentuar mais, as paredes terão só pintura de fundo, a cor e a textura ficarão a cargo e gasto do comprador. E vamos ser francos, pelo menos nisso, os arquitetos capricharam, são ovinhos, mas são muito bonitos!
- Sim, claro, disso eu faço questão! E as vagas de garagem, como resolveram?
- Alugamos alguns Smart para colocar nas vagas. Eles são minúsculos, cabem até no bolso. Darão a impresão que que cabe sim um carro naquela vaga, e de quebra dá um ar pós-moderno ao empreendimento. O comercial será claro, só mostrará os Smart nas vagas, então o sujeito não poderá reclamar se seu Mille raspar na parede durante uma baliza.
- Aha... Beleza, muito bem! E a questão dos congestionamentos? Eles já são crônicos em Goiânia.
- Primeiro diremos que a iniciativa privada não pode ser responsabilizada pelas deficiências do poder público, que pagamos impostos aviltantes e não temos retorno como todo cidadão... O que é verdade.
- Mas também diremos que mesmo assim nosso cliente não pode ficar à mercê da inoperância estatal. Aproveitando que isto atenua a pequenez das vagas, o condomínio terá entrada e saída pelas três ruas, para escolherem a mais livre na hora de sair... Como se houvesse rua de trânsito livre no Bueno!
4 comentários:
O meu apartamento é pequeno, mas até que eu não tenho maiores reclamações. A única coisa que realmente me incomoda é não ter condições de ter um cachorro.
Bom dia meu querido Nanael,
Amigo que trama maquiavélica, para vender-se um imóvel. Foi por isso que meu Elfo nunca se acertou neste ramo.
Ele jamais aceitaria fazer estas cousas p/vender.
Mas tem gente a fazer isso, tem sim senhor!! Depois deitam com a consciência "leve" igual a um chumbo !
E é bem assim como tu descreves. Teu texto como sempre, directo ao ponto.
O mercado imobiliário de nosso país, está com as mesmas mazelas dos outros setores. Contaminado pela cobiça e pela ganância...
Aihh é melhor deixar-te um Aroma de Vétiver e desejar-te um Abençoado FDS amigo querido.
Com todo o Carinho,
Lilly Rose
Particularmente, nada tenho contra apartamentos, a encrenca é cobrarem cada vez mais por espaços cada vez menores, de um imóvel que nunca é realmente seu, por causa da necessidade de se pagar condoínio sem poder deixar de pagar o IPTU.
Condomínio é mesmo uma grande chatice. Vizinho perto demais acaba sendo outra fonte de incomodações de vez em quando...
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