17/06/2011

A sugestão de Adão


Adão Iturrusgarai é um cartunista brasileiro que vive há anos na Argentina, porque casou-se com uma porteña e achou que ela valia o sacrifício. Laura é o nome da felizarda. Ela acabou por pegar o vírus do  marido e também começou a desenhar e publicar em seu blog. Às vezes eles desenham a quatro mãos, ou três, sabe-se lá se uma está ocupada com a proximidade do cônjuge, e publicam em ambos os blogs.

Adão tem um personagem patologicamente tímido, chamado Timóteo. Mas a timidez não tira uma grande virtude deste, ele tem um Citröen 2CV provavelmente dos anos noventa. Comentei que adoraria ter um desses, mas além de precisar ser filiado a um clube de antigomobilistas, ele me custaria o triplo da ninharia que custa na Argentina em taxas aduaneiras e sopa de letrinhas do fisco. É que o 2Cv não é mais fabricado, só poderia trazer um com trinta anos ou mais, para o acervo de um associado.

A sugestão do cartunista foi que eu me mudasse para lá, eis o comentário: "pois é nanael. por isso sugiro q vc mude p argentina. além de tudo ser mais barato, voce chuta uma moita e salta uns 30 citroen 2cv. e tá cheio de mecanicos especializados no modelo." (sic)

Isto me fez lembrar da quantidade de modelos que importamos de lá. Desde Ford Ranger, Mercedes-Benz Sprinter até a Space Fox. Provavelmente aquele chato que odeia argentinos, anda em um carro argentino e o adora.
Em seus delírios digitais, entre um desenho e outro, ele deixa transparecer o quanto é bem tratado, mesmo os argentinos sabendo que é brasileiro. Pela descrição do cotidiano, dá a entender claramente o quanto um passeio noturno é mais seguro do que em qualquer metrópole brasileira. Adão jamais mencionou um incidente grave em Buenos Aires, por seu gentílico.

A Argentina tem mais encantos do que os Kirshner conseguem demolir, e do que nossa visão estreita de mundo nos permite perceber. Uma página interessante é esta aqui, "Brasileiros na Argentina". Um dos pontos que eles destacam é a qualidade da educação, onde não há empurrismos, ninguém é estimulado a distorcer a gramática portenha, como resultado têm o reconhecimento internacional. Aliás, os brasileiros que estudam lá não têm do que reclamar, se tu és estudante e queres fazer um curso fora do Brasil, esta postagem interessa-lhe. Há também um portal muito útil para quem quer visitar ou fazer negócios lá: Argentina.ar.

O argentino, quando não está tomado pela febre tifóide do futebol, é um cidadão educado e com boa conduta em público. A fama de arrogante só aparece quando os brios nacionalistas são postos em xeque, como quando alguém toca no assunto das Malvinas. Pois é, a derrota que derrubou a ditadura ainda dói en nuestros hermanos. Em sã consciência ele pode ser até divertido. E um real vale $ 2,40!

Agora algo que eles têm e nos matam de vergonha do que temos aqui: Infra estrutura. Há dezessete rodovias nacionais administradas por empresas privadas, mas ao contrário do que ocorre em São Paulo, a distância entre os postos é maior que um quilômetro.

São trinta e quatro mil e quinhentos quilômetros de ferrovias em pleno uso, com três bitolas diferentes. E estão em vias de reactivar linhas antigas, para passageiros.

O transporte público é eficiente e barato, quase todas as linhas de metrô e ônibus de Buenos Aires funcinam vinte e quatro horas por dia. Aliás, 69km de linhas de metrô, e a previsão é duplicar a extensão até 2017. Preço da brincadeira: R$8,5 bilhões para ampliar as linhas, comprar novos vagões e modernizar o que já existe. E eles estimulam os trólebus, ao contrário do que acontece entre nós. O ônibus, com frota majoritariamente brasileira, custa entre $ 1,10 e $ 1,25 para se andar em veículos novos e bem conservados.

Uma tradição vivíssima na capital argentina é o tango (aqui e aqui). Ninguém te chama de maluco se começas a dançar com teu par em uma praça, desde que dance direito. Experimente dançar catira em via pública por acá, ou mesmo um sambinha. Ao anoitecer os dançarinos se proliferam para aproveitar a noite da cidade, que tem ares europeus bem mais acentuados do que o dia.

Uma novidade em Buenos Aires, que nem sonho em ver por aqui, é das bicicletas públicas, chamadas de "amarelinhas", do programa "Mejor Bici", com site próprio, que já tem mais de quinze mil cadastrados. O residente cadastrado pode se valer das bicicletas por até duas horas, em um dos doze pontos espalhados pela cidade, proporcionando economia de tempo e dinheiro para o cidadão; e desafogando o trânsito. A primeira etapa, vejam o que digo, só a primeira etapa, prevê construir cem quilômetros de ciclovias na cidade.

As estradas são boas, cem mil quilômetros de asfalto que não precisam de suspensão reforçada para serem transpostos em boa velocidade. Além de elas terem o que receber, pois a importação de veículos não tem os trâmites que enfrentamos aqui, os carros são lançados antes e mais baratos para os argentinos. Carros feitos aqui são vendidos lá pela metade do preço.

Apesar da crise econômica que assola o país, a infra estrutura está em boas condições, os investimentos continuam sendo feitos e tudo mais. O que nossos jornais chamam de "argentinos lutam contra a miséria" não se compara ao que nós consideramos normal desde o Brasil-Império., onde nossa mentalidade parece ter estacionado, com as manias de qualquer bacharéu querer ser chamado de "doutor". A mentalidade européia, tão amaldiçoada por acadêmicos que mendigam recursos europeus para suas ongs, coloca o argentino em um patamar de civilidade muito acima do nosso.

Por tudo isso lamento que o Mercosul, como a onu, nunca tenha realmente saído do papel. Todos os quatro integrantes agem como se fossem nações sob tensão, adoptando medidas unilaterais sem consultar os demais, como o acordo automotivo entre Brasil e México. No que depender de nossos dirigentes, nada muda. Então cabe a nós, o povo, agirmos. Cabe principalmente a nós, brasileiros, aproveitarmos a pechincha que é viajar para a Argentina e preparar nuestros hermanos para um dia formarmos um bloco coeso.

Aproveitando que o ensino de lá é muito superior ao nosso, sendo difícil algum ser pior, intercâmbios estudantis são uma excelente actividade a ser estimulada, para evitar que os laços frouxos se desfaçam. Em vez de abrir fábricas com condições de trabalho sub-humanas na China, aproveitar que a Argentina tem dois litorais para empregar gente nossa e deles, pois ainda existe um acordo de facilidades tarifárias que beneficiam os quatro países.

Não, não me mudarei para Buenos Aires, no máximo uma viagem recreativa. A sugestão do Adão apenas serviu para esta reflexão.

6 comentários:

Anônimo disse...

Bela postagem.
Bom fim de semana. Abraços

Anônimo disse...

Continuam belas suas postagens.
Bom fim de semana. Abraços

Nanael Soubaim disse...

Obrigado, volte sempre.

Anônimo disse...

Eu particularmente não tenho nada contra os Argentinos; muito pelo contrário.
Se fossem bobos, Buenos Aires sozinha não teria um dia a quantidade de livrarias igual ao Brasil...
Acredito que a "pinimba" seja mais criada pelos jornalistas esportivos loucos por manchete.
Mas, mesmo assim, a impressão que alguns de nós Brasileiros temos é corroborada na AL.

Existe uma piada Mexicana que diz:"O negócio mais lucrativo do mundo é comprar um Argentino pelo que vale e vender pelo valor que ele acha que vale".

Todos os Argentinos que conheci são 100%. Hermanos mesmo!

Nanael Soubaim disse...

Disse tudo! E eles têm 2CV a granel!

Lilly Rose disse...

Bom dia amigo querido !!
Nanael, depois eu volto p/ ler com o devido carinho teu post !!

Passei rapidinho p/ desejar-te um feliz Yule amigo querido !!!

Beijos e Aromas de Rosas....

Lilly Rose