Nos anos 1930/40/50, houve uma avalanche de heroínas esculturais em trajes que causariam acidentes de trânsito. Desde Mulher Fatal, até Durga Râni, a virgem das selvas, passando por Orquídea Negra, Garota Leopardo, também as anti-heroínas Mulher-Gato, Vampirella e outras que dariam dois textos exclusivos.
Mas, o que elas tinham em comum, além de levarem marmanjos ao banheiro? Eram mulheres. Se murmurava "Que olhos! Que boca gostosa! Que corpinho diabólico! Que seios! Que et cétera!", pois eram mulheres. Completas. Os fãs chegavam ao cúmulo do estrabismo, tentando enxergar tudo ao mesmo tempo. Eram lindas da cabeça aos pés.
Hoje, fazendo coro com o Fio, esculacharam tudo. Quando se é toda bela, é preciso mostrar uma parte de cada vez, em uma seqüência bem feita, para os babões e as aspirantes a femme fatale poderem admirar. Hoje acentuam em grande desproporção uma só parte e a "dama" pode ficar parada, só empinando a parte, ou no máximo sacudindo para causar ereções, pois só servem para isso mesmo. Talento é exclusividade do propagandista.
As conquistas femininas estão sendo simplesmente jogadas pelo bueiro. Se antes havia a Garota Leopardo, capaz de imobilizar até mesmo um leão com as mãos limpas, hoje temos detratoras que levam ás últimas conseqüências a submissão pela passividade: Mulher Melancia, Mulher Mamão, Mulher Pêra, Mulher filé (!!!), Mulher Vaca, Mulher Galinha, Mulher Peixe-Carnívoro-Dos-Trópicos-Que-Ataca-Em-Cardumes, entre outras que são "para comer", na acepção que vocês estão pensando. Logo inventam a Mulher-Saco-De-Pancadas e eles mostrarão o que realmente querem, divulgando essas imbecilidades. O que tua avó sofreu, minha cara, para te dar a pouca liberdade que tens, incomoda. Não demora e o "Tapinha não dói" dá lugar a "Murro de marido é carinhoso". Boicotem.
Por isso mesmo sinto falta da Mulher-Ana, Mulher-Audrey, Mulher-Cristina, Mulher-Débora, Mulher-Renata, enfim, da Mulher-Mulher, que sabia (apesar da repressão da época) manejar um pau-de-macarrão e fazer greve de sexo quando era aporrinhada. Ah, essa Mulher-Mulher! Que mulherão! Ainda que seja baixinha (vide imagem acima), que não seja absolutamente escultural (faz favor! Ninguém é obrigada!), que não tenha a voz de Karen Carpenter (terra chamando). Pode ser linda como é, sendo simplesmente mulher, mas mulher por inteiro.
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