16/05/2009

Cheerleader

É comum, em filmes ianques, vermos aquelas moças com pouca roupa dançando e fazendo estripulias no campo, para animar a torcida e ocupar os intervalos. São as cheerleaders. Animadoras de torcida bem treinadas e profissionalizadas, em muitos casos, que dão o tom de espetáculo à competição, lembrando que aquilo é entretenimento, que não há razão para linchar o torcedor dos adversários... Fazem falta por aqui.
Surgiram quando as primeiras moças conseguiram furar o bloqueio das universidades, nos Estados Unidos. Elas passaram a assistir treinos e encorajar os atletas. Que marmanjo resiste a um belo rostinho gritando "Levanta e corre, palerma"? Essa delicadeza ajudou em muito a atenuar o machismo da época, no ambiente acadêmico. A criação é atribuída à melhor universidade dos Estados unidos, que viu logo os resultados tanto em campo quanto em sala de aula.
É desnecessário dizer o quanto o incentivo feminino aumenta o desempenho masculino. A maioria dos jogadores americanos se empenha ao máximo para merecer os carinhos de uma líder de torcida. Por aqui a cousa anda meio estranha, os homens não gostam de ver mulheres nas arquibancadas, que dirá no campo... Sinceramente, eu prefiro ver beldades dançando e dando shows de ginástica a ver marmanjos se esfregando, correndo e caindo. Minha preferência.

Há um verdadeiro e vasto mercado para as líderes de torcida e productos relacionados a elas, como para as pin-up girls. Os uniformes das líderes mais famosas são copiados e rendem bons royalties, assim como pôsteres, calendários, figuras de pvc, poses em revistas masculinas, aparições na televisão, escândalos para os paparazzi, enfim, são estrelas que suam para terem a fama que conquistam.

Não basta ter um rosto bonito e um corpo escultural para ser cheerleader. Na verdade, não precisa ter um rosto muito bonito, a distância dos torcedores e os trajes sumários atenuam isto. É preciso ter muito preparo físico, um estilo de vida menos pernicioso do que o cidadão urbano comum, uma disciplina acima da média e carisma. Trata-se não só de uma estrela, a cheerleader é uma atleta. Paralela à competição principal, há outra entre os grupos de líderes de torcida. Quase tudo o que há em uma, há na outra. Os bônus e os onus. Como não sou urubu, e os podres todo mundo conhece sem que os jornais precisem exibir em neon, falarei dos bônus.

Há pessoas que assistem aos jogos só esperando pelo show das cheerleaders, não somente marmanjos, mas moças querendo ver suas "ídalas", lojistas querendo copiar os uniformes para fazer fantasias, estudantes querendo usar os passos nas aulas de educação física, fanáticos querendo ver a actuação do time inteiro e não só dos jogadores, marmanjos por motivos óbvios, olheiros buscando por ninfetas, estrangeiros se perguntando porque aquilo não existe no seu país, e assim por diante.

O mais importante, porém, é que elas transformam em festa o que seria uma competição fria e sem sentido, para exibicionismo de testosterona. Cores, coreographias, pernas de fora e gritos de guerra são parte dessa festa, que permite não haver separação de torcedores, os dois lados se misturam amistosamente nas cadeiras, sabendo que aquilo é entretenimento, nada além de entretenimento, como o futebol.

Imaginem uma família corinthiana se sentar ao lado de outra palmeirense, uma assistindo aos gritos da outra sem haver o risco de agressões. Provocações sim, nunca agressões. Impensável? Não em um lugar onde entretenimento e guerra não são sinônimos. Onde um jogo de futebol americano ou de basebol é apenas um espetáculo, um espetáculo extremamente lucrativo, é certo, mas um espetáculo. E em um espetáculo é imprescindível haver beleza, graça, diversão e civilidade. Uma cheerleader é responsável por ajudar na manutenção desse clima, clima que não interessa aos marginais inúteis que invadem estádios ou bairros inteiros em busca de torcedores adversários. Vejam bem: "Adversários". Não são inimigos. Times podem desaparecer que eles inventarão outra desculpa para excluir e agredir, tal qual os nazistas faziam.

Tomem vergonha nessas caras frescas, sejam homens! Cresçam! Admitam uma derrota de vez em quando. Deixem de ser moleques chorões e aceitem que o outro time mereceu a vitória. Isso, muito bem. A vida não pára por causa de um juiz ladrão, infeliz, vai apanhar até borrar as calças, seu safado.

A consciência de certo e errado diferencia o homem dos outros animais. É certo admirar uma animadora de torcida em seus trajes sumários, até porque ela é estudante, ela tem conteúdo. Quando dá uma entrevista, não causa dores de cabeça em quem ouve, ela tem um bom exemplo para dar às nossas filhas, ainda que seja só o de estudarem.

Eu gostaria de ver uma indústria de cheerleaders por aqui, como "USP Leaders", ou "UFG leaders". Teríamos muito a ganhar, não só nos esportes, mas também na cultura. Cheerleaders são estudantes, es-tu-dan-tes. O simples facto de gente bonita e de pouca roupa precisar ter um bom desempenho escolar, já muda a visão de um povo em relação à educação pública, conseqüentemente a dos políticos também. Todos saem ganhando, exceto os corruptos e os marginais de torcida, claro.

Em vez de mostrar à sua filhota uma leguminosa esfregando a buzanfa na câmera, mostre as acrobacias de uma cheerleader e diga que ela está assim porque estuda muito, não será mentira, o resto da verdade a criança descobre por si mesma, por meios mais salutares.

4 comentários:

Newdelia disse...

Aff... assino embaixo até mais de 100 vezes se precisar. Tenho filha e sei como é. As meninas andam de cabeça virada e as escolas estão de cabeça prá baixo.
Beijos

Nanael Soubaim disse...

Eu sei, já trabalhei em escola pública. Na verdade as escolas se tornaram campos de retórica vazia.

Tati disse...

Sou Cheerleader de um time de futebol americano "brasileiro" e estudo em uma Universidade pública. Gostaria MTO q houvesse um incentivo da universidade, principalmente p/ tds os esportes. Adorei o texto ;)

Nanael Soubaim disse...

Bom saber. Colocarei um segundo texto a respeito na fila.