11/04/2009

16km/h

16 km/h. É esta a velocidade a partir da qual um acidente pode matar. Parece pouco? Pois nós somos frágeis mesmo, não importa que seja o Lou Ferrigno, a desaceleração brusca afeta o cérebro e outros órgãos vitais do mesmo jeito. Eles não ficam mais fortes com musculação.
E pensar que as pessoas, mesmo quando podem pagar, dispensam air bag e freios ABS, só porque não podem exibir para suas turmas.
Não se pode esperar muito de quem acha que vai conseguir burlar as leis da física, da mesma forma como burla as de trânsito ao fingir que atou o cinto de segurança. Alguém aí já viu gente voado pelo pára-brisas? Bicho, é bizarro! Parece uma comédia de mau gosto que vai acabar assim que entrarem os comerciais, mas não acaba. Ainda que resulte (e freqüentemente resulta) no óbito da vítima, a família e o erário público continuam sofrendo.
Mas por que esses dois equipamentos ainda são tão caros no Brasil?
Resposta: Produção. Uma empresa investe milhões de dólares para desenvolver um equipamento sofisticado que funcione direito, quanto mais unidades ele puder vender, menor será o peso do investimento sobre cada unidade. Acontece que por aqui isso está engatinhando, o que já encareceria, sendo agravado pela rejeição do brasileiro a tudo o que não for estético e de entretenimento. Os bocós gastam seis mil reais em som, inutilizando completamente metade do carro, mas não pensam em gastar cinco mil a mais para comprar um novo que já venha com ABS e air bag. A mim, soa como suicídio.
Quem pode comprar um carro novo à vista, não deveria se incomodar com os custos de equipamentos de segurança. Quem compra financiado, não deveria se preocupar com os poucos reais diluídos ao longo das prestações.
As seguradoras também não colaboram, cobram mais porque são mais componentes para consertar, em caso de acidente. Mas se esquecem que esses equipamentos as poupam de pagar indelizações por invalidez ou óbito, que são mais caras do que o conserto de uma dianteira arrebentada.
A partir de 2014, todos os carros nacionais sairão de fábrica com esses dois salva-vidas. São cinco anos de espera e uma frota abarrotada de carros que já poderiam contar com eles. Na realidade, apesar de as engenharias dizerem o contrário, acredito que mesmo a kombi poderia recebê-los. ABS não exigiria grandes modificações, o air bag depende da desaceleração causara pela deformação da dianteira para calcular quando e o quanto inflar as bolsas... Cá com meus botões e meus vinte e tantos anos de praia no ramo, vejo várias maneiras de adaptar com sucesso satisfatório. Uma delas (e das mais em conta) é uma dianteira suplementar que funcione como um colchão de fibra de vidro; de quebra melhora a aerodinâmica da Kombosa.
Por mais desagradável que seja, a única forma que vejo para incentivar a compra (e antecipar os benefícios da obrigatoriedade) de carros com ABS e air bag, é chocando. Não com excessos e o mau gosto com que as campanhas oficiais sempre pecam, mas dando a entender com mensagens claras. Uma mãe não precisa ver uma criança presa e desfigurada entre ferragens para imaginar que poderia ser seu filho, bastaria ver outra mãe desesperada e bastante machucada. Isto por si já dói muito, mas não vejo lugar, ao menos por agora, para sutilezas na educação dos motoristas brasileiros.
Eu sei que muita gente vai me xingar, me chamar de chato, estraga-prazeres, et cétera. Mas ser chato faz parte das minhas atribuições, então continuarei sendo chato e, mesmo sabendo que a adesão será pequena, insistirei na mensagem deste texto.
Os ônibus são um problema particular. Se já é quase uma utopia fazer os passageiros usarem os cintos que cada banco tem, imaginem colocar ais bag para cada um deles. Agora imaginem fazer isto em um ônibus urbano. Dá para colocar bolsas infláveis do tipo cortina, para evitar que as pessoas sejam arremessadas pelas janelas ou batam com força nas vigas da carroceria, mas a rigor só o motorista poderia contar com o benefício. Usar bancos infláveis seria uma boa idéia, não só para a segurança, como para reduzir o peso, mas dificilmente resistiriam ao vandalismo, outra praga recorrente nos países subdesenvolvidos. Ou seja, o trabalho de conscientização é mais amplo do que a esphera do Contran.
Pasmem, já existe air bag para motos. Não tenho notícias de onde ele seja obrigatório, mas não imagino uma Mobilete com uma tralha dessas naquele arremedo de painel, com certeza teria que ser do tipo colete-salva-vidas, acionado quando o piloto se desprendesse do veículo, o que mesmo assim gera o risco de não ser utilizado, mesmo sem querer, pela não fixação da cordinha no tanque ou onde quer que esteja o ponto de ancoragem.
Mas em carros não há desculpas. Mesmo em mini buggyes é possível instalar todos os equipamentos de segurança existentes. Todos.
Então vai meu apelo aos que vão comprar carros novos: Esqueçam um pouco o valor de revenda (que é efêmero e depende da moda) e atentem para o valor da vida. ABS e air bag ainda são caros, mas não são acessórios.

3 comentários:

Adriane Schroeder disse...

É, Nanael, você conseguiu me fazer ter mais certeza ainda de instalar dispositivos de segurança no meu futuro automóvel.
òtimo texto, como sempre!

Nanael Soubaim disse...

Interesse. É só o que falta.

irene disse...

Você, com certeza, não é dessas pessoas dispensáveis...
Que bom que tenho a sorte de seu convívio...

Abraços.