14/03/2009

Mini buggy e olhe lá!

Serei franco às últimas conseqüências: Sou um motorista medíocre. Faz quase dois anos que não pego o volante e estou destreinado. Sou ciente disso e nunca abusei, jamais achei de dava para passar antes do sinal vermelho, que o pedestre iria ficar paradinho enquanto eu percorria os duzentos metros que nos separava, et cétera.
Se a habilitação tivesse um limite individual de velocidade, eu dificilmente poderia passar de noventa por hora.

Mas a maioria certamente ficaria abaixo de oitenta. Não por inabilidade, não por falta de prática, mas porque a maioria ainda usa o carro como uma armadura, ou a motocicleta como um cavalo de batalha. Tirou a carteira, mas não se tornou motorista.

Hoje mesmo testemunhei um acidente na entrada da praça Walter Santos, Setor Coimbra, aqui em Goiânia. Um senhor (do tipo que acha que sabe tudo sobre direção e não precisa do código de trânsito) converteu abruptamente à direita sem dar seta, atingindo um casal que subia em uma confiável, mas frágil Honda Biz. graças à Deus nada de grave aconteceu ao casal, mas o motorista, antes de mais nada, procurou sinais de danos no carro, para depois apontar o sinal verde, crendo que isto o autorizava a dispensar a seta. Este não poderia passar dos cinqüenta por hora, nem dirigir carros com mais de oitocentos quilos de peso bruto. Os capacetes evitaram o pior.

Eu já perdi as contas de quantas vezes um idiota saiu repentinamente detrás de outro carro, quase me colhendo em cheio. Já nem me asusto, só pulo para trás e espero passar.

As leis de trânsito dificultam em demasia a obtenção da licença, barram iniciativas e desestimulam inovações por parte de particulares, mas deixam livres leves e soltos os maníacos psicóticos. As entrevistas psicológicas são tão rápidas que não é possível ver se o candidato tem aquela característica como predominante, se é apenas um surto de civilidade ou se trata de um grande actor à espera do papel de sua vida, o de motorista louco.

Sou a favor de liberarem os chamados mini buggies para uso urbano. São muito mais seguros do que essas motoquinhas importadas com motor de enceradeira. Temos uma tradição muito sólida, marcas já consagradas e com ampla assistência técnica, como a Fapinha e outras quase desconhecidas do grande público. Para a maioria das actividades de um cidadão comum, esses carrinhos são mais do que o suficiente, para a capacidade de dirigir da maioria eles dão e sobram.

Quando falo em "dirigir", não me atenho ao aprendizado de técnicas de direção, memorização das leis de trânsito, nem da pilotagem profissional. Uma criança pode aprender isso e ninguém com menos de dezesseis anos deveria se sentar ao volante de um carro normal. Incluo a capacidade do motorista para reconhecer e respeitar os próprios limites, bem como o espaço do outro; de reconhecer que a lei é para todos e deve ser sempre respeitada, até que se consiga mudá-la; de reconhecer que um carro aos pedaços pode ser reconstituído, uma pessoa aos pedaços não. Inclusive a capacidade de reconhecer que a pessoa não deve se ferir, muito menos ficar em pedaços. Um carro é uma máquina muito forte, mesmo os menores.

Decerto que há motoristas de alto nível, que poderiam dirigir em qualquer velocidade, mas são raros. Gente consciente e habilidosa para quem um Lamborghini não seria desafio algum, que o conduziria a trezentos por hora com mais segurança do que muitos o fazem a cem em um Chevette Júnior. São rarefeitas exceções.

Há muitas pessoas que memorizam os testes psicológicos e as leis de trânsito, confiando que dirigem ilegalmente desde criança, para tudo ir pela descarga assim que a habilitação sai. Eu tenho sérios problemas de memorização, mas sei perfeitamente que não se deve estacionar em esquinas, há três metros de distância a serem guardados. Uma das regras mais inteligentes da legislação, mas que custa prejuízos diários a muitos "dirigidores" insanos por ser ignorada. Esquecem de que não estamos nos Estados Unidos da América, onde as ruas são muito largas e o trânsito muito menos perigoso. Por cá muitas ruas nem deveriam permitir o tráfego de caminhões, de tão estreitas, mas muitas delas têm mão dupla. Um motorista de verdade sabe raciocinar com esses dados, então grande parte da população não é motorista.

Experiência é algo bom, mas sozinha não ajuda muito. Tenho notícias de um burro que, de tão acostumado com a jornada diária, entrega o leite sozinho em uma cidade do interior de Goiás. Vai, distribui de casa em casa e volta com o pagamento. Interessante, mas não deixou de ser um burro. Ele não sabe de verdade o que está fazendo, simplesmente tem experiência e repete passo a passo o que aprendeu com o dono. Assim são muitos dos que têm habilitação.

Para a maioria até a Romi Isetta seria perigosa, imaginem a velocidade que alcançaria se ainda fosse produzida. para boa parte da população um mini buggy é carro suficiente, e olhe lá.

5 comentários:

Newdelia disse...

Oiêee!
Saudades da Romi Isetta. Tenho até a história dela guardada. Acho que meu lado masculino gosta muito de carros.
E o que ando vendo por aí no trânsito, além dos barbeiros é claro, são os mal educados. Se houvesse educação sequer seria necessário leis de trânsito como estão testando na Holanda e com bons resultados.

Beijos

Anônimo disse...

olha, o grande problema não é o tipo de carro, mas sim a consciência de cada pessoa e o respeito para com o próximo.

infelizmente estamos muito longe mesmo disso por aqui... então, mesmo com um fapinha, os prejuízos causados podem ser imensos.

edução, respeito, consciência: é isso que temos que conseguir dos motorias - e dos pedestres tbm - aqui bo brasil!

Nanael Soubaim disse...

De acordo, New. E a Rominha é o tipo ideal de carro para o trânsito urbano, convenhamos.
Muta, entendeste o espírito da cousa.

Adriane Schroeder disse...

Nanael, teu texto me fez lembrar - de novo - do clássico desenho com o Pateta - Senhor Andante e Senhor Volante. Deviam passá-lo nas auto-escolas, junto com "O julgamento do automóvel", uma obra-prima da curta animação.

Fapinha disse...

muito bom