24/01/2009

Eu não vi. Já acabou?

Eu não vi a última novela. Não que não tenha dado uma olhada para ver se valia a minha audiência, eu dei uma olhada e por isso decidi que não valia. Não vou entrar em pormenores, mas aquela trama da Clara com a Dounatelha me soou um grande engodo.
Eu não vi o bbb. O BB já me dá dores de cabeças que bastam, não preciso de mais um "b", nem de gente tentando me convencer de que eu preciso aumentar a conta telephônica para ouvir o que eles falam. As maledicências que eu leio aqui me dão uma idéia do que não estou perdendo, de um modo muito mais aprazível do que ter que assistir.

Eu não revi Pantanal, não vi nem quando era na Manchete. Bicho, eu acordo cedo, trabalho num lugar melindroso com uma responsabilidade muitas vezes maior do que o meu salário. Eu saio de casa às 06h, tenho que dormir cedo e acordar com a cuca fresca.

Também não vi a noveleca dos mutantes mutretas, nem programas onde famílias expõe seus podres para o mundo inteiro. Meus neurônios ameaçaram executar uma apoptose coletiva se eu o fizesse. Ainda se tivessem baseado a novela nos quadrinhos da Marvel.

Eu não vi as notícias do marido daquela actriz veterana, que foi suicidado. Da mesma forma como não vejo notícias de gente que tenta anunciar desesperadamente que fez uma lipo na semana passada, mas ninguém soube.

Eu não vi nenhum especial de natal de nenhuma rede. O fim de ano não foi bom para mim e quase tudo o que mostram eu sei de cór e salteado, só trocaram os artistas por canastrões famosos. Nem tem mais Zé Colméia ou a turma do Charlie Brown e Snoopy.

Eu não vi o último lata velha. Aliás, faz tempo que não vejo. Tudo ficou tão repetitivo e as transformações me parecem tão tolas (como portas com abertura canivete em um Del Rey) que não merece mais minha audiência. Mas sou minoria, eu não conto. Fala, injeção eletrônica e outras cousas úteis não poderiam entrar no cardápio?

Todo mundo comenta do casamento da Sandy, mas eu não quero saber, mas o povo insiste em me contar mesmo assim. Eu não vi, não me interessa. Disseram até que o noivo blogou em plena lua de mel, o que me arrancou risos, mas simplesmente não me interessa.

Algumas emissoras demitiram em massa, no último Dezembro. Disso fiquei sabendo, mas ninguém noticiou.

A General Motors do Brasil está, praticamente, sustentando a matriz. Disso fiquei sabendo, mas ninguém comenta, mesmo sabendo que o assunto me interessa.

Uma tradicional fábrica de desinfetantes em Goiás fechou, mas agora está fabricando clandestinamente, passou a perna nos funcionários e tudo mais. Eu trabalho em uma Vigilância Sanitária, sei disso, mas ninguém fala a respeito. Deve ser porque água sanitária não rebola na tevê.

Eu não quero ofender, mas às vezes é inevitável. Quem me conhece sabe o quanto eu sou alérgico a futilidades, principalmente futilidades vendidas agressivamente como essenciais. O simples facto de eu dizer que não gosto de ver um monte de gente à toa, dentro de um cenário, fingindo naturalidade e sendo chamada de heróis por um sujeito suspeito, já me rendeu reprimendas ríspidas, quase uma agressão física. A pessoa se sentiu ofendida. E o que é pior, essa pessoa é minha mãe.

Eu não vi o último jogo do brasileirão. Já começou, não começou? Não? Bah! Tenho preocupações reais numa vida real, com conseqüências reais para me ocupar.

Também não vi o desfile das escolas de samba. Ver camarote de celebridades? Vinhetas irritantes a interromper o desfile? Uma certa emissora condenando ao aninomato quem não se curva às suas vontades? Comentários que poderiam não ter sido feitos? Competição de agremiações? Uma mini série baseada nos velhos bailes me despertaria alguma atenção. Mas um evento que se transformou em uma reles vitrine de exibicionismo de famosos (não para mim) e de gente que quer posar pelada, eu passo. Como assim, ainda vai começar?

Eu estou ficando velho, rabugento, ranzinza. Mas eu conquistei o direito de ser rabugento e ranzinza, cuidando de assuntos que realmente me fazem a diferença. Como estudar bicicletas de bambu.

2 comentários:

Luna disse...

Também não vi nada disso, nem me faz falta. Desligar a tevê é uma atitude saudável, que não tem nada a ver com velhice.

Confesso que acompanhei a saga do cara que foi suicidado, simplesmente porque a história era mais interessante do que as novelas atuais.

Luna disse...

Bicicleta de bambu serve só para enfeite? Pessoas que pesam mais de 20kg conseguem andar numa delas?