09/08/2008

Não merecemos!


Quando o Itamar quis o Fusca retomar, uma multidão aguardava ansiosa pelo 1303, sua versão mais modernosa. Mais espaço, mais conforto, estabilidade e tudo mais. Preço também mais salgado, mas não importava, pois o Fusca já tinha passado da idade de ser carro de entrada, merecia ser modernizado.

Mas que decepção quando vimos a falta de respeito, em 1993, ele ser reapresentado daquele jeito. A mesma carroceria de 1967, retocada, mas no tempo parada. Alegaram que ficaria caro, mas pergunto se pobre tira carro da loja, a não ser como motorista. Basta ver as ruas abarrotadas de Fuscas com injeção electrônica, turbo, rodas de liga, bancos de couro e outros quetais, que renderiam à concessionária cinqüenta mil ou mais reais.

Hoje, a maioria não sabe, mas o Santana ainda é fabricado, tanto na versão quadradinha (bem baratinha) quanto na redondinha, com chassi alongado e melhor equipado. Onde? Desesperai-vos, taxistas, é na China que eles conduzem as visitas. Aliás, dois dos poucos carros chineses que não desmancham quando batem. Sei bem o quanto vocês gostavam do Santanão robusto e espaçoso, mas creio que importar seria muito oneroso.

Vocês me perguntarão o motivo de estes três modelos não recebermos. Bem, é que não merecemos. Nos acomodamos ao que querem nos dar, pelo preço que querem cobrar e compramos sem reclamar. Desde que as importações declinaram, as novidades também minguaram. Nos deram um Astra para substituir o Vectra, este muito superior em estabilidade e aerodinâmica; maquiaram o 206 e adicionaram 1; fabricam por cá o Mercedes Classe C, mas é só para exportar, quem quiser comprar tem que raspar a poupança e as taxas de importação pagar.

Estas são apenas algumas das atrocidades que cometem com a nossa permissão. Sabe-se lá a que situações os empregados de firmas terceirizadas são submetidos para reduzir os custos, mas nem sempre os preços.

Alguns vão gritar contra, dizer que tudo está mais moderno e avançado. Balela. Nos dão restos do banquete que dão no hemisphério norte, só mandam projecto cansado. Acham que melhor não merecemos.

Gosto de modelos antigos, confesso. Tenho simpatia de ver o Uno, Palio e Punto juntos em uma mesma revenda de carros novos. Para quem não sabe, o Punto substituiu o Palio, que substituiu o Uno, na itália. Talvez seja a única montadora que não me decepcionou efetivamente, até agora. Mas também poderia estar fazendo melhor.

Voltando ao 1303. Quando lançaram a Brasília (para mim é uma perua, ponto final), ficou claro que a população estava disposta a pagar mais por um Fusca melhorado, e o 1303 ainda estava findando a produção. Dificuldade técnica? nenhuma. Só política interna mesmo. Pois sabemos que um bom propagandista vende o que quiser, sabendo apresentar. Aliás, a Kombi, nesta época, quando foi remodelada, passou a dispor de uma suspensão que a fez ficar muito mais estável, foi inclusive aplicada na Variant II, mas o que queríamos ficou de fora.
A Chamonix conseguiu resolver o problema de emissões, nada que qualquer boa oficina não possa, ficou claro. Não com investimentos bilionários, só com competência e vontade. A mesma que faria a alegria dos taxistas. Imaginem o que eles não fariam com os recursos de uma multinacional.
Mas nós não merecemos. Desde carros até programas de televisão, passando por biscoitos e achocolatados, pioram a qualidade de tudo sem nos consultar e sem sequerer reduzir os preços. E nós aceitamos. Podem melhorar a qualidade da montagem, com isso o carro dura uns anos mais, mas se estragar, pode jogar fora. Nem tente abrir o capô, não vais conseguir nem checar as velas, tarefa antes banal até para leigos. Pifou? Joga fora, o conserto vai custar caro.
Poderíamos ter carros com a frente toda basculante, mas não merecemos. Afinal nem do que gostamos tomamos partido. Nem reclamamos quando tiraram o Opala Coupé de linha, e ele respondia pela maior partes das vendas do modelo. Então toda a linha Opala saiu de linha por "quedas acentuadas nas vendas".
O que eu faço quanto a isto? Boicoto. Mas é um boicote solítário de alguém que não costuma fazer compras vultuosas, então fica sem força. Ainda que reconheçam que eu tenho razão no que reclamo, e quem se deu ao trabalho de me ouvir reconheceu, eu faço tanta pressão quanto uma placa de isopôr no mar morto. Eu sei que eu mereço, mas como indivíduo. Quanto à coletividade, nós não merecemos! Não mesmo.
Agosto está quase virando e logo a Simone começa com "Então é nataaaaaaaal!..." Pensem no que cada um de vocês realmente merece, antes de gastar seu suado dinheirinho, ou a mesada que papai e mamãe dão com tanto carinho. Muito provavelmente, se for um carro, um modelo fora de linha vai agradar muito mais.

Nenhum comentário: