12/12/2006

Sem isso não tem negócio.

Um dogma, é preciso pelo menos um dogma forte, que controle a vida do fiél de tal modo que ele acredite estar seguro, sem perceber o cerceamento do livre arbítrio. Sem isso não tem negócio.

O messias é arroz-com-feijão, o fundador tem que ser o único e legítimo representante, senão o próprio. Deve também dizer que o Papa e o Lama são marionetes do demônio, mas principalmente atacar as religiões de cultos a elementais e o espiritismo, fervorosamente. Sem isso não tem negócio.

Cursos, muitos cursos. Quanto mais e mais focados nos dogmas, melhor. O fiél deve estar convicto de que está seguindo uma estrada dourada e que os conhecimentos adquiridos garantirão sua salvação. Sem isso não tem negócio.

Jovens, eles são imprescindíveis. Principalmente na adolescência, quando os hormônios impelem à transgressão. Devem ser convencidos de que estão fazendo a coisa certa, de preferência devem crêr cegamente que estão fazendo a única coisa certa, e que todos os que pensam diferente estão errados, com isso acreditarão que aquele grupo os compreende e que estarão fazendo uma transgressão santa. Sem isso não tem negócio.

As sedes devem ser o mais luxuosas possível, devem inspirar progresso, fartura, a ponto de placas enormes de mármore poderem ser jogadas fora, deixadas na calçada pública para qualquer um levar. O importante é que o fiél entre pensando "vou ser abençoado e vou ficar rico". Sem isso não tem negócio.

Jamais fale abertamente, mas os seguidores devem acreditar que estão acima das leis dos homens, procure, deturpe e invente passagens bíblicas que embasem essa teoria. Sem isso não tem negócio.


A ciência sempre será inimiga, a não ser quando for para comprovar que a cura do câncer linfático não teve relação com os procedimentos médicos. Ignore sumariamente que os músculos deixam sim vestígios nos fósseis, eles se prendem aos ossos pelas ranhuras e concavidades, exactamente como se observa em qualquer animal, inclusive nós. Mas o fiél, ainda que biólogo formado, deve desconsiderar o facto. Darwin era louco e ponto final, ai de quem refutar. Sem isso não tem negócio.

Aponde para si mesmo sempre que for falar do Salvador, mas de modo discreto. Isso age de forma subliminar e vincula a tua imagem à salvação eterna. Sem isso não tem negócio.

Tenha sempre alguma actividade de caridade, gaste dez reais em divulgação para cada real investido lá. Aliás, a mídia deve estar nos planos de aquisição, seja qual for, principalmente concessão de tevê. Sem isso não tem negócio.

Não permita, sob o pretexto de proteger a integridade psicológica e dogmática do fiél, que leiam o que a própria igreja não fornecer. Desestimule qualquer leitura não recomendada com os meios que foram necessários, sejam quais forem. Sem isso não tem negócio.

Cobre por tudo. Desde um copo de água que custará o mesmo que uma taça de vinho fino, pois é água santificada, até as cartilhas de lavagem cerebral que deverão ser muito bem elaboradas, para não darem pistas sobre o que realmente são. Sem isso não tem negócio.

Não sejas idiota. Não deixes nada de muito vultuoso no teu nome. Tenha laranjas, limões e abacaxis, se não quiseres meter o pé na jaca e amargar alguns anos de marmita na cadeia. Haverão muitos fiéis ávidos por se tornarem sócios simbólicos do Salvador. Sem isso não tem negócio.

Reze. Mas reze muito. Pois para onde vais, depois de enganar e atrapalhar a vida de tanta gente, teu dinheiro e tua lábia não valem absolutamente nada. No umbrau... Bem, lá não tem negócio de jeito nenhum.

6 comentários:

L.Cranchi disse...

Seu blog tá cada vez melhor Nanael!
esse texto representa perfeitamente a realidade, em que 99% dos "pastores" são ex-(passado macabro aqui).
Mto bom o texto "Guarde um pouco para o Carnaval", é educativo.
Pode-se aprender muito com você.
abçs

Nanael Soubaim disse...

Agradecido, Leandrö. Tenho parentes nesses lugares, conheço a coisa por dentro.

Anônimo disse...

Fantástico!!!
É impressionante que apesar de evidências e mais evidências a força desses "negócios" só aumenta. As vezes me pergunto, onde iremos parar com essas igrejas se proliferando como bactérias...
Muito bom o texto.
Bjos

Anônimo disse...

Muito bom seu texto, e também seu blog.

Mas, precisamente falando desse, é um absurdo como essas ilusões cada vez mais fazem das pessoa submissas, vendendo o que não existe, prometendo a salvação que não a tem!

Querendo cada vez mais o não qustionamento sobre tudo , e a aceitação total do mesmo.

Continue assim Nanael...

Nanael Soubaim disse...

"Tua fé te curou" e não "Eu te curei" foi o que Ele disse. Só nós podemos nos salvar.

Anônimo disse...

Perfeito, Nanael! Fé e negócios nunca deveriam se misturar, e as igrejas em geral (não só as evangélicas) usam seu poder para obtenção de mais poder e de dinheiro.
Isso não tem nada a ver com fé.

Ah, e seu blog está ótimo, dá gosto de ler!

Beijos