02/09/2006

Horto Morto?

Para os que não conhecem minha cidade, Goiânia tem um horto. Com o passar dos anos o perímetro urbano foi crescendo e logo o engoliu, hoje ele está na região central, motivo pelo qual o zoológico está de malas prontas para se mudar assim que a nova sede (longe do trânsito) ficar pronta.
Um horto é um lugar para se descansar, repôr as energias e, principalmente, ter boas e sadias horas de lazer. Pena que a prefeitura desdenha essas necessidades. no afã de asfaltar até as copas das árvores, está negligenciando um dos espaços mais tradicionais de Goiânia. Fiquei uns meses sem ir e, hoje, ao retornar, fui tomado por uma tristeza sem dó. Tudo sujo, água empoçada em todos os lugares (olha o Aedes aí, gente!) e as escadarias se deteriorando. No cais dos pedalinhos a cena é desoladora, todo o madeiramento está podre e cheio de buracos, o que me faz dar graças pelos brinquedos serem de fibra-de-vidro, ou já estariam totalmente carcomidos pela corrosão, tamanho o abandono em que se encontram.
Mas a natureza do local parece estar resistindo, ainda que com dificuldades, ao populismo do prefeito. O Lago das Rosas, um dos cartões-postais da cidade, localizado na parte interna do horto, ainda abriga peixes, desde as formas mais larvais até os adultos, de onde presumo que o ciclo da vida ainda está intacto. Testemunhei aves pescadoras mergulhando e emergindo com seu alimento vivo no bico, engolindo-o assim que se estabilizavam na água. Em um canto, um filhote de tartaruga do tamanho de uma mão adulta, com o casco coberto de lodo, descansava placidamente com as narinas de fora da água. Mas não pude admirar por muito tempo, gente estranha, mal encarada e exalando energias hortís estavam se reunindo em um grupinho, no que fui avisado para deixar minha contemplação para outro dia. Se as famílias não freqüentam, outros tipos tomam conta. E que mãe deixaria seu pimpolho, por mais robusto e acostumado aos tombos que este seja, brincar em um lugar onde o tétano se esconde debaixo de tijolos quebrados e lixeiras semi-destruídas? Que casal de namorados conseguiria fazer juras de amor em meio ao "aroma" de urina e fezes que já são comuns em alguns pontos?
Deixo claro que não sou partidarista, tenho até mesmo uma certa ressalva quanto ao Pedro Wilson, prefeito anterior, mas desde que ele saiu não se vê mais uma equipe do Parques-e-Jardins fazendo a manutenção do horto. E aos que não conhecem (ou não se lembram da fase áurea por insufuciência de idade) digo o que é aquele lugar, quando bem cuidado. Nem falo em atenção especial que, aliás, ele merece, apenas manutenção básica e preventiva: O horto é cortado por pistas paralelas de asfalto, cuja beleza é aumentada pelo desnível, sendo as mais internas as mais baixas, além de escadinhas de tijolos em grande número. A paisagem é rica em espécies, principalmente bambuzais com plantas enormes. Há uma espécie de mirante de granito para o lago, várias construções que outrora eram bares bem freqüentados, quadras de esporte, enfim, um pequeno paraíso no centro nervoso da cidade. Daria uma bela receita como locação para comerciais, até mesmo filmes e novelas, pois a exuberância escondida sob o descaso público é incontestável. Daria tomadas de tirar o fôlego. Mas isso não tem importância, asfaltar o longinqüos bairros que brotam a cada dia, com a especulação imobiliária, é preferível a trazer essa gente da peripheria para os muitos imóveis vagos, muitas vezes abandonados que há nas regiões com infra-estrutura pronta. Para quê melhorar o que já se tem, se podemos fazer, ainda que mal-feito, tudo novo em regiões distantes, que demandarão mais transporte, mais e maiores ônibus, mais carros nas ruas, mais combustível, mais energia eléctrica, mais uma aspirina que já estou com a cabeça estourando...
Vi algumas pessoas, ao entrar, mas eram bem poucas e em poucas regiões. A maioria só atravessava, pois o horto é um atalho do Centro para o Setor Oeste, e quase no Setor Coimbra, poupando muita perna e estimulando a caminhada. Saliento que esse não é o único caso, mas é o mais patente.
Abraço, minha gente, que já terminei.

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